Com boa parte de seus equipamentos submersos, a Petrobras conta hoje com menos de 10% de suas estruturas protegidas pelo sistema de galvanização. A empresa reconhece que tem "problemas de corrosão" e admite que o seu volume de aço galvanizado ainda é irrisório.
"A galvanização na área de óleo e gás ainda é pouco utilizada. Temos um potencial muito grande para o uso do produto dentro da companhia", afirma Marcelo Schultz, coordenador técnico de endutos da Petrobras.
Apesar de consideradas tímidas, as iniciativas da empresa caminham no sentido de recuperar esse atraso. Só em um dos laboratórios de corrosão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a Petrobras investiu R$ 40 milhões nos últimos quatro anos. É ainda muito pouco quando se compara com os R$ 227 bilhões que serão empregados pela companhia em infraestrutura entre 2011 e 2016.
"O setor de óleo e gás não está tão adiantado, apesar de a Petrobras investir milhões. Nos últimos quatro anos, a empresa desembolsou R$ 17 milhões em pesquisa realizada no Laboratório de Correção e Proteção (LCP) para proteção contra corrosão de tudo que a Petrobras usa", afirma Zehbour Panossian, pesquisadora do IPT e responsável pelo LCP.
De acordo com Zehbour, o laboratório é um dos mais equipados na área de corrosão e contempla também projetos de pesquisa e desenvolvimento. "Também está sob nossa responsabilidade um outro projeto cuja pesquisa abordará a corrosão pelo biocombustível. Nesse estudo, o investimento foi de R$ 10 milhões com duração de cinco anos. Só no LCP, nos últimos quatro anos, a Petrobras totaliza investimentos superiores a R$ 40 milhões que foram absorvidos em corrosão de modo geral", afirma a pesquisadora, que participou do GalvaBrasil 2011.
Apesar de os investimentos serem ainda tímidos, Schultz sustenta que a intenção daqui para frente será dar mais foco ao assunto. "Queremos aumentar o uso de galvanizado nessa área. Hoje menos de 10% do aço da Petrobras é galvanizado e ainda não temos projetos concretos para começar nada nessa área", confessa.
Schultz, que também participou do GalvaBrasil 2011, deixou o evento convencido de que levantará essa bandeira dentro da Petrobras. "É preciso convencer o público interno da companhia sobre a necessidade de trocar o aço tradicional pelo galvanizado. O galvanizado é suficiente para manter a integridade das instalações. Creio que em um prazo entre cinco a dez anos a Petrobras conseguirá elevar a participação para cerca de 20% de galvanizados", aposta o executivo.
Eduardo Silvino, vice-presidente do Instituto de Metais Não Ferrosos (ICZ), concorda que o tema galvanização na área de óleo e gás ainda está por ser explorado. "Sendo a maior companhia exploradora de petróleo no Brasil, a Petrobras tradicionalmente vem usando esquema de pintura para proteger o aço nas plataformas e em grande parte das refinarias, onde a galvanização poderia ser empregada. Existe um gap entre a indústria de galvanização e a Petrobras. A empresa ainda não explorou na sua totalidade essa possibilidade da contribuição da galvanização como solução em plataformas", comenta Silvino.
Ele ressalta que a galvanização tem algumas limitações quando aplicada isoladamente em plataformas de petróleo, mas que a perspectiva é de se usar um sistema duplex onde a galvanização serviria também como uma proteção adicional ao esquema de pintura. "O galvanizado poderia trazer uma extensão da vida útil do aço nas plataformas, aumentando a confiabilidade e disponibilidade de operação dos equipamentos", acrescenta.
Pelos cálculos do vice-presidente do ICZ, é possível estimar que a sinergia entre galvanização e pintura permita que se estenda a duração de uma estrutura de uma a duas vezes à vida útil do equipamento. "Os custos são bastante elevados quando é necessário fazer um reparo em uma instalação. Em alguns casos requer, inclusive, a parada do equipamento, com a consequente perda produtiva", diz.
A pesquisadora do IPT observa que alguns segmentos da indústria, ao contrário da área de óleo e gás, estão bastante adiantados no uso de galvanizados. "O sistema está avançado no Brasil, e embora no setor de óleo e gás ainda seja pouco usado, outros segmentos, como o elétrico e a indústria automobilística, já usam os aços galvanizados há décadas", diz. Zehbour chama a atenção para o ramo de construção civil. "O Brasil precisa abrir os olhos para a construção civil que está muito aquém. A Europa, os Estados Unidos, Canadá e mesmo alguns países da América do Sul, já estão usando vergalhões galvanizados", afirma.
Fonte: Valor Econômico/Por Rosangela Capozoli | Para o Valor, de São Paulo
PUBLICIDADE