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Os 28 dias que mudaram a Lupatech

Com contratos de R$ 1,7 bi com Petrobrás, metalúrgica gaúcha ganha novo patamar
Os últimos dias entraram para a história da gaúcha Lupatech, fundada há 30 anos por Nestor Perini. Em menos de um mês - entre 7 de junho e 5 de julho -, a empresa com sede em Caxias do Sul (RS) anunciou a assinatura de quatro contratos de fornecimento de equipamentos e serviços para a Petrobrás no valor de R$ 1,7 bilhão e avisou ao mercado que outros, decorrentes de licitações com resultados favoráveis, estão a caminho.
É um feito considerável no fechado setor de petróleo, que qualifica a companhia como fornecedora mundial de gigantes petrolíferas como Shell e Exxon. De olho nessa oportunidade, a Lupatech já estuda parcerias na Ásia e nos Estados Unidos. "Com esses contratos, a Lupatech atingiu a maioridade no setor, que é dominado por multinacionais. Poucas companhias nacionais têm contratos dessa envergadura com a Petrobrás", diz Clóvis Meurer, conselheiro da Lupatech e diretor-superintendente da CRP, gestora de fundos de private equity e uma das primeiras a apostar na Lupatech - em 1987, o primeiro fundo da CRP comprou 30% do capital da empresa.
Mais do que elevar o volume de pedidos firmes para R$ 2,5 bilhões, os novos negócios são vistos pela companhia como o marco de uma nova fase. Dessa carteira, R$ 466 milhões serão convertidos em receita nos próximos 12 meses. O valor é só um pouco menor que todo o faturamento da Lupatech no ano passado, que foi de R$ 555,1 milhões.
Por 30 anos a empresa fez o esforço da ampliação, da diversificação e da consolidação, recorrendo a lances ousados e pioneiros. No começo da década de 90, começou a vislumbrar o potencial do mercado de óleo e gás - até então, atendia indústrias de alimentos, armamentos, química e automobilística. "Chegamos agora ao tempo de começar a colher os frutos", comemora o presidente Nestor Perini, sem perder a disposição de sempre buscar o crescimento.
A Lupatech hoje é um grupo com sede em Caxias do Sul e cinco unidades industriais no Rio Grande do Sul, cinco no Rio de Janeiro, três em São Paulo, seis na Argentina e uma na Colômbia. De suas fábricas saem equipamentos para exploração de petróleo, como cabos de ancoragem de plataformas marítimas, válvulas e revestimentos anticorrosivos para tubos, válvulas industriais e peças para veículos. A companhia também é prestadora de serviços especializados para a indústria petrolífera.
Os contratos recentes com a Petrobrás são uma amostra do diversificado portfólio da Lupatech. Dois deles, de R$ 695,6 milhões e de R$ 745,5 milhões, preveem serviços de manutenção e melhorias em poços de petróleo, incluindo desinstalação e instalação de válvulas em lâminas d"água de até 2,5 mil metros. O terceiro, de R$ 123 milhões, é para reparos e preservação de equipamentos destinados à complementação de poços. E o quarto, de R$ 140 milhões, é de fornecimento de cabos de ancoragem de plataformas marítimas.
A perspectiva de mais contratos não exigirá novos investimentos da Lupatech. "Hoje operamos com metade da capacidade instalada. Estamos prontos para absorver novas demandas", afirma Perini.
Tempos difíceis. A trajetória da companhia começou em 1980, quando Perini e seu amigo Gercino Schmitt se associaram para fundar a Microinox, uma pequena fundição de precisão, reunindo os conhecimentos administrativos do primeiro com os técnicos do segundo.
Com a ameaça da hiperinflação, o início foi difícil. "A empresa quebrava todas as tardes e ressuscitava à noite", recorda Perini, referindo-se à prática de emitir cheques depois do expediente bancário e correr para cobri-los antes da compensação, que, à época, era feita no dia seguinte. A luz no fim do túnel surgiu em 1984, com o aumento de demanda pelos produtos. Naquele ano, a dupla ampliou as atividades criando a Valmicro, produtora de válvulas industriais que incorporaria a Microinox em 1993, quando passou a ter o nome de Lupatech.
Em 1987, Schmitt deixou a empresa. Perini viu-se em apuros para comprar o capital do sócio e manter o negócio. Mas, recorda hoje, a emergência acabaria abrindo caminhos. O fundo de capital de risco CRP, que já havia feito sondagens, decidiu apostar na empresa, numa das primeiras operações do gênero no Brasil. Outras três se repetiriam, com diferentes fundos, em 1995, 2003 e 2005.
A convivência com profissionais dos fundos é considerada por Perini como peça fundamental na formação da cultura da empresa. "Eu nunca fui centralizador, mas ficou mais fácil dividir decisões e ter meu desempenho monitorado", avalia. Além de tomar recursos dos fundos, a Lupatech não teve medo de se endividar para crescer. Em 2001 e 2003 emitiu debêntures. Em 2007 e 2008 captou recursos de longo prazo com emissão de bônus perpétuos. "Isso não nos tirou o sono", assegura Perini. "Nosso projeto foi consciente. Sempre procuramos buscar recursos com visão de longo prazo e não ficar pressionados pela liquidez."
Desde 2006 a Lupatech é empresa de capital aberto com participação no Novo Mercado da Bovespa, no qual compromete-se com as boas práticas corporativas e a transparência exigida. Atualmente, os principais acionistas da Lupatech são a Lupapar (da família Perini), com 25,1%, Fundação Petros (15%) e BNDESPar (11,5%).
Apesar de frequentemente citada como uma das "emergentes" da área, a Lupatech já navega na onda do petróleo desde 1993, quando comprou a argentina Esferomatic, produtora de válvulas. As aquisições ganharam velocidade entre 2006 e 2008, quando o grupo incorporou 16 empresas, a maioria voltada para a produção de componentes e oferta de serviços para a exploração de óleo e gás.
"As aquisições não foram aleatórias. Queríamos ter produtos e serviços com valor diferenciado, importância estratégica e complementaridade", revela Perini. São exemplos disso as incorporações da Cordoaria São Leopoldo, fabricante de cabos para ancoragem de plataformas, em abril de 2007, e da argentina Norpatagonica, prestadora de serviços de intervenção em poços, em dezembro de 2008. Novas compras sempre serão avaliadas, mas Perini admite que o ritmo ficou mais lento. "Agora seremos mais seletivos."
Perdas. Os lances ousados nem sempre deram certo. A própria operação na Argentina, que ajudou a Lupatech a crescer, teve suas idas e vindas. Depois de seis anos no país, a companhia fechou as portas e só voltou algum tempo depois - com a estratégia de comprar empresas locais. A criação da subsidiária em Portugal, também nos anos 90, não se mostrou uma boa ideia. A empresa abriu uma fábrica de válvulas, mas teve de recuar. As perdas deixaram traumas e lições. "Desde então, estamos mais prudentes", relata o presidente.
Pelos dados do último balanço, a dívida líquida da Lupatech no fim de 2009 era de R$ 1,04 bilhão, dividida entre compromissos de curto prazo, (R$ 56,7 milhões), de longo prazo (R$ 174,3 milhões), debêntures (R$ 340,2 milhões) e bônus perpétuos (R$ 475,0 milhões). No exercício encerrado em dezembro, o lucro líquido foi de R$ 15,4 milhões, depois do prejuízo de R$ 29,5 milhões em 2008, provocado pelo pagamento de ágio das aquisições de empresas.
Perini é cauteloso ao fazer projeções, mas espera que, depois dos recuos provocados pela crise financeira em 2009, a receita volte ao patamar de 2008, o melhor ano da empresa. "O ano de 2010 está se caracterizando como o de maior número de fechamento de contratos", diz. "São receitas para o futuro."
Crescimento
Fundada há 30 anos, a Lupatech teve faturamento de R$ 555,1 mi no ano passado
20 é o número atual de unidades industriais dentro e fora do País, além da sede em Caxias do Sul

Fonte: O Estado de S.Paulo/Elder Ogliari


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