Petrobras deve voltar a captar a custos mais altos
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Por Eduardo Magossi | Para o Valor, de São Paulo
A Petrobras fechou o ano de 2012 com volume de recursos captados no exterior de US$ 11, 312 bilhões, valor que levou a empresa ao topo do ranking de emissores elaborado pelo Valor. O volume é praticamente o dobro do registrado pelo segundo colocado no período. Deste total, US$ 10,3 bilhões vieram da colocação de bônus, em dois movimentos realizados em fevereiro (US$ 7 bilhões) e setembro (US$ 3,3 bilhões) do ano passado. O restante foi obtido através de empréstimos bancários. Apesar de expressivo, o volume captado em 2012 foi inferior aos US$ 16 bilhões que seriam necessários para que a empresa cumprisse a meta de investimentos para o ano, de acordo com estimativa de analistas.
Em 2013, contudo, a empresa ainda não acessou o mercado de dívida, embora a demanda de investidores internacionais esteja aquecida e a necessidade de recursos da empresa seja real. "A Petrobras possui um plano massivo de investimentos e vai precisar captar um grande volume destes recursos no mercado de capitais", afirma Rodrigo Fittipaldi, diretor de mercado de capitais do BNP Paribas. Segundo ele, a divulgação do plano de negócios para o período de 2013-2017 pode ser o mote para operações de captação de 2013.
No plano de negócios de 2013-2017, a Petrobras manteve o mesmo volume de investimentos, isto é, sem incluir novos projetos, totalizando US$ 236,7 bilhões, dos quais US$ 207,1 bilhões são de projetos já aprovados e US$ 29,6 bilhões daqueles que ainda não tiveram sua viabilidade econômica confirmada. No plano de negócios anterior, os investimentos previstos foram de US$ 236,5 bilhões. O freio na expansão de investimentos, em um momento em que a Petrobras enfrenta problemas com fluxo de caixa, agradou o mercado de forma geral mas ainda existem dúvidas sobre os efeitos de uma nova ida ao mercado de capitais a estrutura da dívida da empresa.
Leandro Miranda, diretor de renda fixa do Bradesco BBI estima que a Petrobras precisará captar perto de US$ 12 bilhões no mercado de capitais para dar continuidade a seus investimentos. "A demanda existe para papéis de empresas como a Petrobras", afirma. Fittipaldi, do BNP Paribas, argumenta que o mercado tem conhecido da maior alavancagem da Petrobras e que este maior risco de crédito já se reflete nos preços dos papéis da empresa no mercado secundário. "Não acredito que a Petrobras terá dificuldades em acessar o mercado de dívida em 2013, mas a precificação destes novos papéis será impactada pela nova realidade. Os spreads serão maiores", afirma. Para o executivo, a busca de novos recursos pela Petrobras através da emissão de bônus no exterior deve ocorrer em 2013 porque ela precisa de recursos e faz sentido. "O mercado de bônus já conhece a empresa, existe liquidez no mercado internacional e investidores estão buscando papéis para comprar diante do cenário de juros baixos nos Estados Unidos". Ele lembra, porém, que o custo será maior.
Segundo Eduardo Freitas, co-chefe de mercados de dívida do Citibank no Brasil, os mercados internacionais continuam abertos para as empresas brasileiras. "Qualquer empresa com bom risco de crédito terá demanda assegurada, principalmente no mercado em dólar. Atualmente, a decisão está nas mãos das empresas e não da demanda", afirma. Embora tradicionalmente as empresas com "investment grade" costumem vir a mercado no primeiro trimestre do ano, 2013 está se comportando de forma atípica.
Miguel Guiomar, diretor de mercado de capitais do Banco Espírito Santo Investimento, explica que, no primeiro trimestre de 2013, apenas 39% das captações externas feitas pelo Brasil são de empresas com "investment grade". Guiomar afirma que em 2012 o volume atingiu 75%. No caso da Petrobras, o executivo argumenta que o fato dos preços dos combustíveis estarem defasados internamente reduziu a atratividade dos papéis da empresa. "A precificação pode não ter sido boa neste início de 2013 por conta do descasamento entre os preços internos dos combustíveis e os preços internacionais", acredita.
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), a questão não é tão simples. "A Petrobras terá dificuldade para equilibrar suas contas", disse. A relação entre dívida e geração de caixa (dívida líquida/Ebitda) está em 2,7 vezes, acima do considerado limite para que a empresa tenha a classificação de "investment grade". De acordo com Pires, o limite seria 2,5 vezes. "A expectativa é que esta relação seja reduzida para 2,5 vezes apenas em 2014."
Essa redução só poderá ser efetivada se o endividamento da Petrobras for reduzido ou se a geração de caixa turbinada, diz Pires. "Se realizar uma nova captação, corre o risco de perder o grau de 'investment grade'." Para executar o operacional a empresa vai precisar de recursos. "Esses recursos teriam de vir de um novo aumento dos combustíveis ou da venda de ativos da empresa", afirma. No plano de negócios 2013-2017, a meta de recursos captados através de desinvestimentos seria de US$ 9,9 bilhões. "Mas o ativo que seria vendido, a refinaria em Pasadena, nos Estados Unidos, saiu da lista. Restam são outros ativos que, se vendidos, podem provocar problemas com os sindicatos locais.
Fonte: Valor Econômico.
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