Petrobras e Odebrecht compram Quattor
Família Geyer, dona da petroquímica, vende ativos que serão consolidados na Braskem, criando 11ª empresa do setor no mundo
Superação de disputas com os controladores da Quattor consolida plano do governo Lula de criar uma superpetroquímica nacional
A Petrobras e o grupo Odebrecht se preparavam ontem para anunciar hoje a compra dos ativos da Quattor Petroquímica, empresa até agora controlada pela família Geyer.
Os ativos da Quattor serão incorporados na Braskem. De acordo com uma fonte que acompanha a negociação, o fato relevante deve ser publicado ainda hoje. O anúncio encerra uma negociação iniciada em agosto do ano passado e conclui o plano do governo Lula de criar uma superpetroquímica nacional.
Com a operação, a Braskem se consolida como a maior empresa petroquímica da América Latina e passa a ser a 11ª produtora de petroquímicos no mundo, segundo a Consultoria MaxiQuim.
O acordo, costurado madrugada adentro, prevê uma capitalização entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões na nova empresa -tanto por parte da Petrobras quanto da Braskem.
As duas centrais petroquímicas da Quattor -PQU, em São Paulo, e RioPol, no Estado do Rio, coração da empresa- serão assumidas pela Braskem, que passará a controlar as quatro centrais de processamento de nafta e gás natural existentes no país (incluídas Camaçari, na Bahia, e Triunfo, no Rio Grande do Sul).
Chamada provisoriamente de Nova Braskem, a empresa será controlada pela Odebrecht, mas terá ampla participação da Petrobras, que deve deter em torno de 49% do capital votante. Em um primeiro momento, a Petrobras insistiu em dividir o controle da Braskem com a Odebrecht, o que emperrou as negociações. Mas esse ponto foi aparentemente resolvido ontem.
Parte do atraso no anúncio do negócio, previsto inicialmente para antes do Natal, ocorreu pela dificuldade em bancar a saída da família Geyer da operação. Controlada por cinco herdeiros de Paulo Geyer, o fundador do grupo, a família trava ferrenha batalha judicial pelo controle da Quattor.
Prêmio
Ontem, parte da discussão ainda era o prêmio que Braskem e Petrobras irão pagar pelo controle dos ativos da Quattor. Segundo a Folha apurou, a Quattor como empresa vale hoje cerca de R$ 7 bilhões, mas possui uma dívida total de R$ 6,5 bilhões. O acordo prevê a assunção da dívida pelo grupo Odebrecht e a Petrobras.
Dos cerca de R$ 500 milhões como valor de mercado do controle (excluídas as dívidas), a família Geyer detém 56% do capital, o que representa R$ 280 milhões -o valor aproximado do controle. Exceto o prêmio pela saída da família, todas as demais negociações estavam concluídas.
Disputa familiar
Além da sensível questão do controle da nova gigante petroquímica, um outro ponto interrompeu as negociações no último mês. Às vésperas do Natal, com o acordo iminente, o empresário Alberto Soares de Sampaio Geyer, sócio da Vila Velha Administração e Participações (controladora da Quattor), obteve liminar em processo no qual pedia a paralisação das negociações entre os controladores das duas empresas. Posteriormente, a liminar foi suspensa.
A ação de Alberto Geyer foi semelhante à proposta pela irmã Joanita Soares de Sampaio Geyer. A empresária obteve no início de outubro passado liminar que inviabilizou a assinatura de qualquer acordo entre Odebrecht (controladora da Braskem), Vila Velha (majoritária na Unipar) e Petrobras (sócia minoritária nas duas petroquímicas) até o começo deste mês. Em dezembro, Joanita desistiu da ação judicial.
Fontes próximas à negociação disseram que ontem foi fechado o valor da participação de Alberto Geyer. O empresário negou a informação. À Folha, ele disse: "Tudo o que está sendo feito está sujeito a ser desfeito". Ele alega que, apesar da suspensão da liminar, o processo ainda está sub judice.(Fonte: Folha de S.Paulo/LEILA COIMBRA/DA SUCURSAL DE BRASÍLIA/AGNALDO BRITO/DA REPORTAGEM LOCAL)