Estatal divulga desmentido sobre alteração no projeto de cessão onerosa aprovado pelo Congresso. Confusão aumenta a sensação de insegurança entre investidores
As notícias desencontradas sobre os processos de capitalização da Petrobras e de partilha do resultado da exploração da camada pré-sal causaram sensação de insegurança nos investidores. Primeiro, a capitalização foi adiada de julho para setembro. Depois, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, causou arrepios ao mencionar um plano alternativo para a cessão onerosa, que obrigou a empresa a divulgar ontem um desmentido sobre qualquer mudança no projeto aprovado pelo Congresso Nacional em 10 de junho e que ainda depende da sanção do presidente da República.
No comunicado, a companhia informou que, embora as duas operações (cessão onerosa e capitalização) façam parte do mesmo projeto, são juridicamente distintas. “A primeira refere-se a um contrato comercial entre a Petrobras e a União Federal, enquanto a segunda é uma operação societária que resulta no aumento do capital social da companhia.” Esclareceu também que o ministro Mantega se referiu apenas a um possível plano B para a “eventual impossibilidade de se realizar a cessão onerosa e não para a capitalização”. A operação de capitalização poderá chegar a US$ 80 bilhões de dólares, dos quais 32% pertencerão ao governo.
Dúvida
“O mercado já começa a duvidar se a capitalização vai mesmo ocorrer em ano eleitoral, embora a Petrobras tenha tentado desfazer boatos e sinalizar que vai tirar rentabilidade do pré-sal”, suspeitou Sérgio Quintella, diretor da Valore Investimentos Personalizados. Para ele, o investidor deve ficar atento e não tomar qualquer decisão antes de saber em que preço virão a mercado as ações depois da cessão onerosa e quanto a Petrobras terá de pagar para o governo, ou seja, qual será o valor dos 5 bilhões de barris de óleo equivalente (boe) devidos à União.
“Enfim, quem tem o papel segure e quem não tem ainda espere um pouco para comprar, mesmo em se tratando dessa que promete ser pode ser a maior oferta pública de ações do mundo”, recomendou Quintella. Um outro analista destacou que os acionistas ficaram tensos. Tiveram a impressão de que tanto o governo como a Petrobras queriam levar a cessão onerosa a toque de caixa.
A Petrobras havia contratado a consultoria DeGolyer & MacNaughton para calcular o preço a ser pago à União pelo barril do pré-sal. No entanto, a lei da capitalização exigia um segundo laudo independente, a ser feito pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). O órgão regulador contratou, então, a Gaffney, Cline & Associates, que deverá concluir o trabalho até o fim de agosto. Segundo analistas do mercado financeiro, o valor do barril deverá se situar entre US$ 5 e US$ 6,5.
O mercado já começa a duvidar se a capitalização vai mesmo ocorrer em ano eleitoral, embora a Petrobras tenha tentado desfazer boatos e sinalizar que vai tirar rentabilidade do pré-sal”
Sérgio Quintella, diretor da Valore Investimentos Personalizados
Futebol fraco, bolsa em alta
Sem notícias relevantes no exterior e com as atenções dos investidores voltadas para o desempenho medíocre da seleção brasileira na Copa do Mundo, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo, encerrou a sessão de ontem com alta de 1,39%, aos 64.823 pontos. A bolsa brasileira se descolou da de Nova Iorque, que registrou leve queda de 0,09%. O comportamento tímido do mercado norte-americano foi atribuído às expectativa com relação ao encontro dos países do G-20 neste fim de semana, em Toronto, Canadá.
Sustentaram a alta na BM&FBovespa as ações da Petrobras e da Cia. Vale do Rio Doce, que subiram, ambas, 1,6%. “Não foi nada demais, apenas simples correção depois de um período de queda. O preço está muito bom, tendo em vista que, apenas este ano, as Petrobras ON (ações com direito a voto) desabaram 22,12% ”, assinalou Rossano Oltramari, analista-chefe da XP Investimentos. Pesquisa da empresa de consultoria Economática mostrou que a Petrobras acumula prejuízo de US$ 52.940 bilhões em valor de mercado e é a companhia que mais perde valor em bolsa este ano.
O dólar comercial, ao contrário, fechou cotado a R$ 1,779, em queda de 0,5%. A moeda brasileira vem se valorizando, apesar das habituais intervenções do Banco Central, retirando dólar do mercado. “Olhemos para o lado bom: os investidores não estão em busca de dólar no momento porque tem entrado muito dinheiro no país. Essa entrada maciça pode ser entendida como um voto de confiança na estabilidade econômica do Brasil”, disse Oltramari. (VB)
MAIOR PREÇO DESDE 2005
O Ministério do Comércio da China, um antigo oponente do iuan mais forte, entrou em acordo ontem com o fim da vinculação da moeda ao dólar norte-americano. O órgão ressaltou, porém, que a taxa de câmbio chinesa subirá apenas gradualmente. O ministério resistia à valorização do iuan, argumentando que isso causaria a bancarrota de muitas empresas voltadas para a exportação. Desde que o governo da China decidiu mudar a política cambial, o iuan subiu 0,5% ante o dólar, atingindo o maior nível desde 2005, ainda que os ganhos tenham sido controlados por grandes bancos estatais.
Fonte: Correio Braziliense/Vera Batista
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