Petróleo: Mercado não espera surpresas no resultado, a ser divulgado hoje; atenção está voltada para capitalização
Um lucro líquido variando entre R$ 6,8 bilhões a R$ 7,7 bilhões é o que esperam analistas para a Petrobras no primeiro trimestre. Em 2009, o lucro no mesmo período foi de R$ 5,8 bilhões.
A Itaú Corretora projeta receita líquida de R$ 47,3 bilhões e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (lajida) de R$ 14,7 bilhões. Essas projeções ficam um pouco abaixo das do Banco do Brasil Investimentos (BBI), que estima receita líquida de R$ 48 bilhões e lajida de R$ 15,3 bilhões.
O BBI prevê aumento de 0,9% no faturamento líquido em relação ao quarto trimestre e aponta entre os fatores negativos o impacto da taxa cambial de fechamento do primeiro trimestre, que teve apreciação de 2,3% em relação ao final do quarto trimestre de 2009. Isso ocorre, como observa o analista Nelson de Matos, porque a Petrobras é devedora em moeda estrangeira de R$ 29,27 bilhões.
Já o aumento de 3,4% no preço médio do petróleo e derivados exportados e de 4,2% no volume de gás vendido estão entre os pontos positivos. Pelos cálculos do Banco do Brasil os preços do diesel vendido no Brasil ficaram 15% acima da média do mercado internacional no primeiro trimestre de 2010, enquanto a gasolina ainda estava 8% mais cara. Com o aumento do preço do petróleo no mercado internacional, essa diferença está caindo no segundo trimestre, estando em 9% no diesel e 4% na gasolina.
O Itaú, que projeta um lucro líquido de R$ 7,1 bilhões, não espera grandes surpresas e reforça que a preocupação central relacionada aos papéis da Petrobras continua sendo não o resultado, mas a capitalização. A ansiedade do mercado se deve à necessidade da companhia reforçar o caixa para fazer frente aos investimentos de US$ 200 bilhões a US$ 220 bilhões previstos no Programa de Aceleração do Crescimento do governo federal. Se insistir na realização desses projetos por meio de novas dívidas a Petrobras coloca em risco o selo de investimento não especulativo no início de 2011.
Em junho, tanto a Standard & Poor's quanto a Moody's rebaixaram a nota da Petrobras. As agências de risco calculam vários indicadores e o mais preocupante, na avaliação delas, era a relação entre geração de caixa e a dívida total da empresa. Desde então o plano de investimentos de cinco anos saltou de US$ 174 bilhões para até US$ 220 bilhões.
Se tomar mais empréstimos para fazer frente aos investimentos que só vão gerar caixa no futuro, o índice de alavancagem - medido pela dívida com terceiros sobre dívidas com terceiros mais o patrimônio líquido - vai aumentar dos atuais 31%.
Esse dilema torna a capitalização da companhia inexorável. Sem a votação pelo Senado da cessão onerosa de 5 bilhões de barris de petróleo a alternativa será uma capitalização em dinheiro. Mas isso exigirá um aporte de capital gigantesco da União para evitar uma perde do controle da companhia e do próprio BNDES, que também é acionista.
A recém-editada medida provisória 487 pode ajudar o governo a reduzir desembolsos, já que poderá aportar apenas o suficiente para ter 50% mais uma ação da Petrobras e subscrever as demais ações a que tem direito para o Fundo Soberano ou o próprio BNDES. Qualquer que seja a decisão, precisa sair logo. "Maio é um mês decisivo para a Petrobras. Ela não pode continuar investindo como está sem capital próprio. Se não sair a capitalização, ela terá que começar a adiar projetos ou vender ativos, mas essa não é tradição da companhia", resume Nelson de Matos, do BBI.
Fonte: Valor Econômico/ Por Cláudia Schüffner, do Rio
PUBLICIDADE