O acidente de Macondo, o poço da BP que explodiu no Golfo do México provocando o afundamento de uma plataforma de petróleo, mostrou deficiências da indústria de petróleo que precisarão ser revisadas. A percepção não é de um interlocutor qualquer, mas do presidente da Petrobras, empresa que tem o maior número de plataformas produzindo em águas profundas no mundo inteiro. Em entrevista ao Valor, José Sergio Gabrielli, afirmou que o acidente da BP mostrou que as empresas que têm ferramentas adequadas de prevenção podem evitar acidentes. Mas eles são difíceis de controlar depois que acontecem. Por isso, procedimentos como a coleta do petróleo derramado em alto mar precisam ser modificados.
"A indústria não tem hoje nem tecnologia nem equipamentos desenvolvidos que possam dar uma resposta necessária, e rápida, a um acidente dessas proporções". Para ele, "as barreiras de contenção não funcionam adequadamente, as formas de se perfurar poços alternativos demoram demais, as tecnologias de recolhimento e de apropriação são insuficientes e portanto é preciso atuar nisso". "Isso é fato. A indústria pode melhorar", acrescentou.
O "mea-culpa" não se refere apenas aos procedimentos a serem adotados pela empresa no Brasil, onde recentemente foram conhecidos resultados nada abonadores de testes de resposta a vazamentos realizados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), nos quais a Petrobras falhou. Sobre isso, o executivo observou que a companhia assinou um termo de compromisso com o órgão ambiental prometendo resolver até dezembro de 2011 problemas denunciados pelos sindicatos dos petroleiros em plataformas de extração. Mas ele cobra também participação de outros órgãos e empresas no esforço de prevenção a acidentes no Brasil.
"Precisamos melhorar a capacidade de mobilização extra-companhia, que é um problema de mobilização das Forças Armadas, das autoridades estaduais, das autoridades municipais, da sociedade e da Defesa Civil. A velocidade de mobilização disso tem que ser maior do que a que temos hoje", disse o executivo.
A estatal brasileira de petróleo ganhará o direito de ser a única empresa a operar no pré-sal brasileiro quando o sistema de partilha de produção for votado no Congresso. Isso aumenta a responsabilidade da companhia, mas não deve afugentar possíveis sócios multinacionais, segundo a percepção de Gabrielli. Nessa questão ele discorda da avaliação feita pelo presidente da Schlumberger, Andrew Gould, publicada na edição de ontem do Valor, de que o pré-sal deve atrair empresas estatais como parceiras da Petrobras, já que as multinacionais privadas devem preferir áreas no pós-sal onde possam atuar como operadoras. Fazendo um preâmbulo elogioso sobre a expertise da Schlumberger, Gabrielli nomeou os pontos de discordância.
"Eu não concordo com a opinião dele sobre o comportamento das empresas internacionais. Acho que há grande interesse das empresas internacionais de participarem no pré-sal da partilha considerando que a Petrobras será operadora", disse o executivo. "Quase todas as grandes companhias querem vir para o Brasil para o pré-sal. É a área produtiva mais prolífica do mundo. Essa é uma realidade inevitável. Não há no mundo, em águas profundas, áreas com mais perspectiva de desenvolvimento que o pré-sal brasileiro".
Na entrevista de ontem somente um assunto ficou de fora: o destino do executivo, que está há oito anos na Petrobras, primeiro como diretor financeiro e de relações como o mercado e depois como presidente, depois da posse da presidente eleita Dilma Rousseff. "Eu não vou falar sobre política e nem vou especular sobre o futuro. Não vou falar sobre isso", disse, enfático. "Não vou especular e não vou alimentar manchetes de jornal que não tem o que fazer. Continuo professor titular de macroeconomia da Universidade Federal da Bahia", completou.
Gabrielli fica mais confortável quando o assunto é a Petrobras. Mesmo quando a pergunta é sobre os efeitos, para a companhia, do julgamento de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, a Adin, proposta pelo governo do Rio de Janeiro, contra a cessão onerosa de 5 bilhões de barris sem a previsão de pagamento da Participação Especial (PE) que incide sobre a produção de campos gigantes e hoje engorda as receitas dos estados produtores.
"A Lei foi aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República. A Petrobras adquiriu os 5 bilhões de barris, pagou R$ 74,8 bilhões ao governo e, evidentemente, se tivesse (que pagar) Participações Especiais o preço não seria esse, seria menor", explica.
Ainda segundo Gabrielli, a Petrobras não está envolvida na causa e por isso não teria o que pagar mesmo se, um dia, a Adin for acatada. "Se a lei (da cessão onerosa) for considerada inconstitucional, os problemas e as consequências serão todos analisados no momento dessa decisão. E as consequências não serão apenas o pagamento da Participação Especial", avalia.
Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner | Do Rio
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