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Pintando a maior concorrência

Encomendas do setor animam fornecedores tradicionais e novas empresas no ramo de tintas e revestimentos navais anticorrosão


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A instalação de novos estaleiros no país tem sido motivada pelo maior número de encomendas por novas embarcações e por serviços de manutenção da frota brasileira. A utilização de tintas e revestimentos navais anticorrosão consequentemente aumenta na mesma proporção. A demanda por navios, sondas e plataformas prevista para o setor tem animado tanto fornecedores tradicionais como os novos entrantes desse ramo, que não medem esforços para conseguir uma maior fatia do mercado.

Para o gerente de desenvolvimento de mercado marítimo offshore da Sherwin Williams do Brasil, Claudio Neves, a demanda atual é excelente. “Os novos estaleiros vão precisar de novas construções, então isso é uma boa garantia da demanda, é bem satisfatório”, diz ele. Quem concorda com a afirmação é o diretor superintendente da WEG, Reinaldo Richter. “A instalação de novos estaleiros, a ampliação das unidades existentes e o crescimento das hidrovias mostram um horizonte animador”, opina.

Tanto a WEG como a Sherwin Williams já estão presentes no mercado há mais de 50 e 60 anos, respectivamente. Mas há novos atores no segmento que também acreditam que as vendas de tintas e revestimentos navais anticorrosão devem aumentar nos próximos anos. É o caso, por exemplo, da PPG Industries do Brasil. Inaugurada em 1997, a empresa atua no ramo de tintas marítimas há apenas três anos, mas espera um crescimento contínuo na área. “No segmento naval, a PPG está apenas começando, e crescemos muito nesses anos. Nossa perspectiva é continuar, principalmente neste setor, com crescimento contínuo nas vendas”, declara a líder da Unidade PMC Brasil, Akiko Ribeiro.

Entre as linhas de destaque da companhia está a Sigma Prime, de revestimentos anticorrosivos que, de acordo com a empresa, atende às demandas de produtividade e adequação ao meio ambiente sem comprometer a performance. Com aprovação da IMO/PSPC, a linha foi desenvolvida para simplificar a produção durante novas construções, fornecendo durabilidade durante o tempo de operação da embarcação. Pode ser aplicada em tanques de lastro, decks, casco submerso, topsides e superestruturas, além de tanques de cargas e espaços internos. Para atender à norma N2680 da Petrobras, que trata de tinta epóxi, sem solventes e tolerante a superfícies molhadas, a empresa oferece o SigmaGuard 603, que é um produto 100% sólidos e atinge até mil micrômetros em uma demão. De acordo com Akiko, a solução pode ser aplicada sobre superfícies úmidas e preparadas com hidrojateamento ou apenas preparação mecânica.

Em janeiro deste ano, a empresa lançou o Ecofleet 690, um anti-incrustante self-polishing para ambientes com alta intensidade de incrustação, com alta taxa de polimento e controle de incrustação para operação de até 60 meses. Foi desenvolvido para mercado de manutenção e reparos e é ideal para embarcações com baixa taxa de operação e operações costeiras.

Quem também decidiu fornecer ao setor naval foi a Marema Parts. A empresa iniciou suas atividades há 14 anos com o fornecimento de revestimentos protetivos à base de poliureia e poliuretano, inicialmente para atender ao mercado automotivo. Atualmente a Marema Parts também fornece seus produtos aos setores agrícola, de construção civil e mineração e nesse ano inseriu o segmento naval na sua área de atuação. “Estamos fazendo um trabalho amplo onde vamos ofertar produtos aos armadores, às empresas de projeto naval e aos estaleiros. Faz parte da nossa estratégia atuar nesse mercado de forma plena para que façamos isso com sustentabilidade e obtenhamos os resultados, como estamos conseguindo em outros nichos de mercado”, destaca o diretor comercial da Marema Parts, Rene Mayer.

O produto em questão é o Mareflex MP, um revestimento de proteção física, impermeável e anticorrosiva, em poliureia pura, que oferece soluções de robustez e durabilidade na resistência à abrasão, corrosão, cracas marinhas e químicos. A companhia fabrica o revestimento em parceria com a empresa norte-americana Huntsman, especializada no mercado de poliureias e poliuretanos. O Mareflex MP é adequado, entre outros, para cascos de navios internos e externos, escadas, proa, casa de máquinas, tanques de colisão, da praça de máquinas, de água e de lastro. São duas as tecnologias para o uso naval. Uma delas é a Poliureia Pura Lenta (MPL), que tem maior elasticidade e é utilizada para situações de maior abrasão geradas, por exemplo, pela areia em emulsão no mar. Há também a Poliureia Pura Rápida (MPR) para, por exemplo, embarcações que transitam apenas em locais específicos. O tempo de cura ao toque dos dedos do MPR é de 12 segundos, enquanto que o do MPL é de um minuto e meio. Já a cura total se dá em 24 horas.

De acordo com Mayer, o produto pode ser utilizado tanto em navios-sonda, como plataformas. “O revestimento é totalmente versátil para essas finalidades, inclusive o produto aumenta a vida útil do substrato de metal, no caso o casco de navio, em até quatro vezes mais se comparado aos atualmente existentes, que normalmente duram em torno de cinco anos”, compara o executivo. O tempo para realizar o procedimento varia de acordo com o tamanho da embarcação e sua área de aplicação. Mas segundo o diretor, em condições normais de trabalho o rendimento tem sido em torno de 300 a 400 metros quadrados por dia, de forma linear, aplicados com dois milímetros de espessura.

A Marema Parts também oferece primer específico para metais e o verniz de acabamento, de alta resistência à abrasão e que também é compatível com as poliureias. Mayer destaca que a empresa vende uma solução completa. “Chamo de pacote, porque quando o cliente compra um produto como o nosso, ele adquire o primer, o revestimento, o verniz de acabamento, que tem um tempo de cura em torno de meia hora, e a aplicação, que é feita pela própria equipe da Marema. O cliente terá uma solução fechada em produto, serviço e logística.”, diz ele, acrescentando que, pelo próprio aquecimento que o produto precisa obter, a aplicação do revestimento só pode ser realizada com uma máquina proporcionadora de alta pressão. O produto é aplicado a uma temperatura de 70 graus.

Não só as empresas mais novas têm buscado soluções inovadoras para se destacar no mercado. As companhias pioneiras no segmento de tintas e revestimentos também têm investido em centros de pesquisa e desenvolvimento a fim de criar novos produtos ou aperfeiçoar os já existentes. Richter, da WEG, explica que, devido à dificuldade envolvida em uma manutenção ou construção, o setor naval prima pela confiabilidade e por isso a implantação de novas tecnologias não é tão rápida. De acordo com o diretor, são necessários testes exaustivos e acompanhamentos em campo para consolidar uma nova tecnologia no mercado. Mas ainda assim, a companhia continua investindo e pesquisando novas tecnologias de revestimento.

Um dos seus últimos lançamentos foi o Wegpoxi RRP 302 N 2680 WET, que também atende à norma N2680 da Petrobras. É um primer cujo diferencial é seu intervalo de repintura de três horas sem exsudação. Além disso, destaca Richter, o produto pode ser aplicado em baixas temperaturas, obtendo valores acima de 15 MPa após sete dias de cura. “Estas características são essenciais para este mercado que busca cada vez mais alta produtividade e menor lead time”, avalia. Da mesma linha, a WEG também lançou o Wegpoxi RRD 302 N 2680 Wet Surface, com as mesmas características do primer, mas com o diferencial de ser um produto dupla função, ou seja, um primer acabamento.

A Sherwin Williams também pretende levar ao mercado novos produtos este ano. Está previsto para este mês de junho o lançamento do Duraplate 301 W, um revestimento anticorrosivo e livre de solventes. De acordo com Neves, o produto realiza o processo de cura em temperaturas abaixo de zero. “Há problemas com a maioria dos produtos epóxi tradicionais quando a temperatura fica abaixo de cinco graus. No Sul, por exemplo, em que a temperatura em algumas épocas chega a zero grau, o nosso produto consegue trabalhar perfeitamente. É satisfatório para o cliente”, destaca ele, ressaltando que já foram realizados testes na China, onde a temperatura chega a 10 graus negativos.

A companhia fechou neste ano uma parceria com a japonesa Nippon Paint para a produção de antifoulings e de um shop primer à base de zinco. Neves explica que, diferentemente do que acontece com shop primers tradicionais, que requerem a remoção da camada do produto antes da aplicação de pintura, com o Vimc Plate Ultra II PCP essa retirada não é necessária. A empresa, que fabricará o produto no Brasil, pretende lançá-lo em breve.

Outro destaque da companhia para este ano deve ser o Fast Clad ER Epoxy, que permite aplicação como revestimento único e é voltado para áreas de alta performance. “Com uma demão dele já se tem a solução completa. Com outros produtos, é utilizada mais uma demão e muitas vezes uma combinação de outros produtos, como por exemplo, o primer universal e um outro produto de acabamento. Além disso, possui secagem ultra rápida. Pode-se caminhar sobre o produto após três horas de aplicação”, diz. Outra característica do produto é o pigmento OAP (Optical Active Pigment), que permite a inspeção de falhas de pintura através da luz ultravioleta. O Fast Clad ER Epoxy já está disponível na Sherwin Williams dos Estados Unidos e no Brasil a companhia estuda a demanda para trazê-lo.

Pesquisa e desenvolvimento também tem sido um alvo constante de investimentos da AkzoNobel. A empresa conta com laboratórios globais de P&D no Reino Unido, na Holanda, na Suécia, na China, na Índia e nos Estados Unidos, além de uma unidade no Brasil, mais especificamente no Rio de Janeiro, junto a sua fábrica, localizada em São Gonçalo. A AkzoNobel inaugurou no último mês de abril, em Mauá, no estado de São Paulo, o Laboratório Central de Análise e Síntese de Resinas. Na unidade foram investidos cerca de dois milhões de euros na compra de equipamentos, adequação das instalações e contratação de pessoal. De acordo com o gerente marítimo de Obras Novas para a América do Sul da Akzonobel, Marcus Torres, a empresa pretende que esse laboratório seja o primeiro global de P&D da companhia na América Latina.

“A unidade tem um papel importante no suporte às diversas unidades da AkzoNobel e no desenvolvimento de produtos novos e melhorados para a aplicação em todos os segmentos estratégicos para a companhia. O trabalho que será realizado no desenvolvimento de novas resinas e exploração de novas oportunidades de recursos renováveis será de grande valia para várias empresas”, destaca o gerente, acrescentando também que a empresa continua estudando oportunidades de desenvolvimento de um laboratório voltado para o mercado marítimo e de óleo e gás, em especial no Rio de Janeiro.

Para Torres, o mercado busca inovações que incrementem o processo produtivo e reduzam custos operacionais com foco na proteção da mão de obra direta e do meio ambiente. Por isso, a companhia busca criar produtos que atendam a essa expectativa dos clientes. Entre suas tecnologias de ponta está o Interplate Zero, um shop primer de etil-silicado de zinco à base de água, que não emite voláteis durante sua aplicação, protegendo o meio ambiente e sem agredir o trabalhador. O produto tem mais sólidos e, consequentemente, reduz significativamente as embalagens para descarte. A empresa também desenvolveu uma nova linha de anti-incrustantes, com controle de desgaste mais eficiente, reduzindo custos de operação das embarcações e proporcionando menor coeficiente de arraste. Outro destaque é o Intersleek 1100SR, uma nova geração da tecnologia de fluorpolímero, que buscou maior eficiência na aderência do limo, proporcionando menor coeficiente de arraste sem emitir resíduos ao meio ambiente marinho.

Segundo o executivo, a AkzoNobel foi a primeira empresa no Brasil a atender a solicitações da Petrobras, mudando assim todo o portfólio de produtos para tecnologias livre de metais pesados e tintas à base d’água para proteção de chapas em obras novas, como o Interplate Zero. Entre aqueles já conhecidos no mercado está o Intersleek 900, um revestimento ecologicamente correto à base de fluorpolímero que age desprendendo a incrustação e gera economia de combustível, além de reduzir os custos de manutenção. No ano passado, 22% da receita global da Akzonobel foram geradas por produtos que representam benefícios ao meio ambiente e à comunidade em geral. “A sustentabilidade é o pilar fundamental da estratégia de negócios da empresa, que está focado em criar mais valor com menos recursos”, diz. Em setembro do ano passado, a empresa conquistou o primeiro lugar no setor químico do Índice Dow Jones de Sustentabilidade.

Além das novas embarcações, a manutenção dos navios também é um nicho de mercado para os fornecedores de tintas e revestimento anticorrosão. Torres, da AkzoNobel, diz que o reparo de embarcações tem um peso significativo no negócio da empresa, mas os custos de manutenção no país têm sido um entrave ao crescimento deste mercado. Neves, da Sherwin Williams, declara que o mercado de manutenção ainda não tem grande representatividade no seu negócio, mas com o lançamento de produtos e com a parceria tecnológica com a Nippon, a companhia pretende ter maior participação no segmento.

A PPG desenvolveu um sistema de apoio a manutenção a bordo, denominado PPG Care. Trata-se de um sistema que permite às embarcações ter acesso online a todas as manutenções e a todos os portos que a empresa tem disponibilidade de produto, permitindo que os clientes programem mais facilmente as manutenções a bordo.

Visando ao melhor atendimento de seus clientes, os fornecedores de tintas marítimas e revestimentos anticorrosão têm buscado se estruturar com centros de tecnologia e distribuição. Para atender à linha naval e de proteção anticorrosiva, a PPG tem fábricas em Gravataí, no Rio Grande do Sul e em Sumaré, no estado de São Paulo. A empresa conta também com armazéns em diversos estados e estrutura técnica disponível para atuação em docagens e manutenções em todo o país.

Além de unidades de P&D espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, a Akzonobel, em atuação no país desde 1926, mantém centros de distribuição para atender seus clientes brasileiros em Pernambuco e em Santa Catarina. A empresa também está em fase final de análise mercadológica para efetivar outras duas unidades no país. No ano passado, a AkzoNobel no Brasil registrou um faturamento de 987 milhões de euros, um crescimento de 4% em relação ao ano anterior, quando a companhia faturou 949 milhões de euros. O Brasil já é o quarto maior país para a empresa. Segundo a AkzoNobel, as perspectivas para os próximos anos são as de que o mercado marítimo e protetivo crescerão mais rápido que a economia brasileira.

A WEG tem sua matriz instalada em Santa Catarina, uma fábrica em São Paulo e um centro de distribuição em Pernambuco. Como parte do planejamento de crescimento, a empresa adquiriu no ano passado a Indústria de Tintas e Vernizes Paumar, que está localizada em Mauá, no estado de São Paulo. De acordo com Richter, as vendas da WEG Tintas continuam com forte aumento. “Uma parte desse resultado é proveniente de crescimentos na venda de produtos da linha marítima e anticorrosiva, seja para obras novas ou para manutenção. Para 2013, as perspectivas continuam otimistas”, afirma.

Com centros de pesquisa nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, além de uma unidade fabril em Sumaré, no estado de São Paulo, a Sherwin Williams conta com 59 centros de distribuição espalhados em pontos estratégicos no Brasil. Em dezembro do ano passado, a companhia adquiriu a mexicana Comex, especializada em pinturas e revestimentos para as linhas Arquitetura e Industrial, expandindo sua operação e aumentando sua participação e representação mundialmente. A empresa tem oito fábricas e 3,3 mil pontos de vendas no México, cinco fábricas e 240 lojas nos Estados Unidos, três fábricas e 78 lojas no Canadá. Segundo Neves, houve uma evolução positiva nas vendas de 2012 frente ao faturamento de 2011. “Nossa participação no mercado tende a crescer pelo número de estaleiros que estão sendo construídos no Brasil. Estamos muito confiantes”, diz.

A Marema Parts tem um escritório em São Paulo, um representante da empresa no Rio de Janeiro para atender a esse estado e ao Espírito Santo nas áreas naval e de petróleo e gás e tem sua fábrica instalada em Santa Bárbara do Sul, no Rio Grande do Sul. Para a produção do revestimento no país, a companhia se utiliza de tecnologia da Huntsman e importa a matéria-prima — basicamente isocianatos e poliaminas — por não haver similares no Brasil. De acordo com Mayer, as poliureias já são consagradas na Europa, na Ásia e em países como os Estados Unidos. No Brasil, a aceitação da tecnologia está crescendo. Para ele, a utilização das poliureias em substituição aos materiais tradicionais será uma necessidade.

“Percebemos que os produtos que estão sendo utilizados para as finalidades propostas dão soluções de momento, mas não de robustez e de longo prazo e a tecnologia em poliureia fornece essa sustentação. Nossa proposta de trabalho é transferir para o cliente robustez e aumento da vida útil do navio, afirma o executivo, ressaltando que nos próximos anos deve haver um crescimento ainda maior em relação a esse tipo de tecnologia. “As perspectivas são de que a gente consiga mostrar para esse mercado que as tecnologias de poliuretano e poliureia vieram para ficar e ampliar esse mercado, trazendo para esses clientes os benefícios que ele não tem”, conclui.

 






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