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Planejamento e eficiência

Produtividade nos estaleiros passa por capacitação e organização na gestão de suprimentos >> Apesar das projeções e do discurso otimista do governo em relação à construção naval brasileira, a busca por competitividade internacional dos estaleiros nacionais ainda tem um longo caminho pela frente. Já é consenso do setor a necessidade de melhorias no planejamento e gestão das unidades de construção para dar dinâmica mais eficiente à linha de produção. No caminho dos estaleiros, a logística de suprimentos ainda enfrenta obstáculos políticos e técnicos, desde a importação e reposição de equipamentos até a capacitação de mão de obra e atendimento às metas de conteúdo local.


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A competitividade dessa indústria passa pela solução da ineficiência logística, problemas de desembaraço aduaneiro e da alta tributação. Dependendo do equipamento que será construído no Brasil, o custo desse componente nacional é muito alto. Uma fonte ouvida pela Portos e Navios afirma que a indústria naval ainda não está pronta para competir internacionalmente, entre outras razões, devido aos preços altos e aos atrasos na entrega. A fonte observa que as regras de conteúdo local são menos rigorosas em alguns casos. “Enxergamos que no Brasil ora tem exigência de conteúdo nacional, ora não tem. Para alguns projetos, o conteúdo local é muito contundente, para outros, nem tanto”, observa a fonte.

O gerente de compras do estaleiro Camorim (RJ), Edson Dias, diz que a estratégia para aumentar a produtividade é melhorar o planejamento das ações. Para isso, é necessário previsibilidade na aquisição de equipamentos, sobretudo os importados. Ele recomenda levantamento minucioso do que o projeto vai precisar, para o estaleiro otimizar sua logística, antecipando etapas e ganhando tempo. E lembra que alguns itens dependem de fabricação e montagem. “Estamos focando em trabalhar com planejamento para termos uma lista do que vamos precisar de forma bem abrangente e apenas complementar [com conteúdo local] o que faltar para acelerar e concluir a obra”, explica Dias.

Uma estratégia para os estaleiros é procurar equiparar os equipamentos. No caso da Camorim, que possui embarcações próprias, colocar mesmos modelos de equipamentos em mais de um barco pode otimizar a logística. Dessa forma, o estaleiro tem facilidade de utilizar uma peça de um barco em outro temporariamente e sem prejudicar a operação, até a reposição definitiva da peça. O planejamento também é importante para o estaleiro direcionar o capital para itens que serão usados de imediato, ganhando fôlego sem atrapalhar a linha de produção.

O estaleiro Aliança (RJ) passa por adequação ao modelo de negócio proposto pelos novos acionistas que assumiram o grupo CBO em dezembro de 2013. O processo inclui investimentos em treinamento e aquisição de equipamentos buscando aumento de produtividade. O gerente de suprimentos, Mauricio Pinheiro, conta que em 2014 ocorreu o primeiro lançamento dinâmico de uma embarcação, fato que não ocorria desde 2002, quando o estaleiro (antigo Ebin) foi reaberto. “Temos trabalhado no desenvolvimento de novos fornecedores, visando não só um aumento da qualidade do produto nacional, mas também a adequação aos preços internacionais”, afirma Pinheiro.

Ele acredita que os estaleiros nacionais devem investir fortemente em treinamento de seu pessoal para que a gestão de seus processos seja feita por profissionais capacitados e familiarizados com práticas atualizadas de gerenciamento. No caso de materiais e equipamentos importados, ele diz que o estaleiro sofre com a burocracia no desembaraço destas mercadorias. “A ineficiência portuária, reflexo da falta de investimento em infraestrutura, gera atrasos e custos que são repassados ao custo da embarcação. Custo Brasil afeta toda cadeia produtiva de nossa indústria”, aponta.

Para especialistas, a capacitação da mão de obra é essencial para a indústria alcançar o prazo de entrega e a qualidade desejados. Mas a mão de obra é concorrida no setor e mesmo com os investimentos em treinamento o empreendedor corre o risco de perder o profissional para um concorrente. Dias, da Camorim, vê falta de pessoal de gestão capacitado em muitos estaleiros brasileiros. Ele destaca que a empresa possui equipe experiente, com passagem por outros estaleiros.

O estaleiro São Miguel tem investido na renovação da mão de obra e nos sistemas de gestão. O diretor estatutário, William Grutter, diz que para se destacar no mercado é preciso ser competitivo no preço, no prazo de entrega e na qualidade. Segundo Grutter, essa estratégia aplicada em todo processo de construção contribui para o ganho de produtividade, a redução de desperdícios e o fim do retrabalho. “Acreditamos muito na gestão do cliente interno. A fase de montagem passa para fase de edificação, mas só aceita mediante toda análise que aquele produto está sendo internamente entregue para fase seguinte”, explica Grutter.

Ele aponta que os estaleiros brasileiros precisam de especialização nos corpos técnicos de engenharia, supervisão e encarregados para desenvolver e executar bem o trabalho. Grutter identifica a necessidade de investimentos do setor em capacitação técnica e treinamento, visando à diminuição de desperdícios, ganhos de produtividade e efetividade do estaleiro da produção. "Contrato é muito sério para nós. Se está estabelecido preço, qualidade e prazo, isso que nós buscamos. Tem que ter muita capacitação técnica, planejamento e controle. Investimos pesadamente em gestão de projeto antes e durante a construção", avalia Grutter.

Política adotada para desenvolvimento da indústria naval brasileira, o conteúdo nacional ainda é um desafio para estaleiros e até para os fornecedores locais, que enfrentam preços competitivos de produtos importados. Na construção de embarcações de apoio, os fornecedores nacionais admitem que os projetos vindos do exterior com pacote de equipamentos definido costumam ter preços bastante competitivos. É comum o estaleiro não ligado a um armador oferecer projetos estrangeiros já com pacote de equipamentos fechado.

Dias, da Camorim, diz que o armador pode enfrentar dificuldade por conta da demora de reposição do equipamento importado. Ele explica que é possível recorrer a adaptações com soluções locais para resolver problemas quando alguns produtos importados levam muito tempo para chegar ao estaleiro. E diz que a demora no desembaraço alfandegário às vezes trava estaleiros e defende que o governo deveria acelerar os processos.

O gerente de compras da Camorim reconhece que as soluções locais podem sair mais caras e recomenda a análise do lucro cessante, devido aos prazos contratuais da Petrobras e ao risco de down time — a cada dia que não entregou barco para rota é penalizado. “As empresas tendem a importar muita coisa. Com o passar do tempo, alguns equipamentos importados apresentam problema e, se o estaleiro não comprou sobressalente, fica com planejamento parado aguardando a importação daquele material visto que não consegue no mercado nacional”, relata Dias.

Para Pinheiro, do estaleiro Aliança, o prazo de entrega de um equipamento fabricado no mercado nacional costuma ser igual ou ligeiramente superior ao tempo de chegada do mesmo equipamento fabricado no exterior. Ele estima que um sistema completo de propulsão, por exemplo, pode ter um ano de prazo de entrega, assim como guinchos para um AHTS. Equipamentos de menor porte variam de 30 a 180 dias, dependendo do tipo de embarcação. “Existe uma grande variação entre os prazos de entrega dos equipamentos que compõem uma embarcação de apoio”, ressalta Pinheiro.

Para o presidente da Arpoador Engenharia, Marco Santarelli, a velocidade com que se consegue trazer equipamentos importados para o Brasil é grande. Ele diz que os regimes especiais vigentes no país possibilitam a importação de equipamentos para determinado barco, mas não permitem trazer equipamentos de fora do país com isenção tributária para fazer estoque. “Os regimes especiais não são um problema atualmente porque, se for feita uma boa programação, conseguimos trazer materiais usando estoques mundiais. Planejamento é fundamental”, reforça.

Santarelli também defende um fluxo programado de recebimentos pelo estaleiro. Ele relata, no entanto, que muitas vezes o armador enfrenta dificuldades com a obtenção de garantias para liberação de financiamento, o que acaba refletindo na produção dos estaleiros. “Com planejamento, nós da Arpoador estamos conseguindo receber e entregar no prazo”, pondera.

Para atender os pilares preço, prazo e qualidade, o São Miguel incentiva a criação e ampliação de parcerias com fornecedores locais. Grutter conta que o estaleiro desenvolve boa gestão de planejamento e de logística e afirma que a unidade tem conseguido atender ao suprimento no aspecto logístico e financeiro dos produtos. “Temos conseguido comprar a matéria-prima e passar para os fornecedores. Buscando benefícios fiscais, conseguimos alcançar preço, qualidade e a vazão necessária”, explica.

O estaleiro São Miguel encomenda equipamentos importados, em média, com 60 dias de antecedência à necessidade de utilização. No caso de produtos nacionais, o prazo de planejamento varia de 30 a 40 dias. Grutter acrescenta que o estaleiro investiu em área de armazenamento e retroárea para conseguir manter os prazos conforme o planejado. “Não temos conseguido antecipar, mas também não estamos atrasando. Estamos entregando normalmente com 15 dias. Planejamos e executamos conforme o planejado”, conta.

Apesar de entregar entre quatro e cinco embarcações por ano, a área do estaleiro São Miguel é considerada pequena. Quando a demanda aumenta, o estaleiro terceiriza parte do serviço, como blocos externos e tubulação, através de parcerias com empresas e estaleiros menores próximos da região. "Quando aumenta a demanda, ao invés de investirmos em contratação, em mais áreas, mais maquinário, mais equipamento, aumentamos a terceirização para manter staff em nível equilibrado, sem grandes oscilações e para que isso não venha gerar ociosidade no futuro”, completa.

Os custos da logística de suprimentos aos estaleiros são uma preocupação da região Norte, que tenta tirar do papel o projeto de um polo naval em Manaus (AM). O proprietário do estaleiro Bibi, Alcimar Mota, conta que o recebimento de mercadorias em Manaus vindas de São Paulo não acontece em menos de três semanas. “Precisamos projetar tudo com margem de 20 dias porque não encontramos todas as navipeças dentro de Manaus”, explica.

Mota defende que o governo olhe com mais atenção o projeto do polo naval. Ele afirma que existem empresas de navipeças interessadas em se instalar em Manaus. E acrescenta que o novo polo será importante para diminuir o trânsito de carretas pesadas na cidade. Outra vantagem será a proximidade das empresas de navipeças com os estaleiros. No entanto, enquanto o polo não se consolida, algumas empresas estão se adequando à realidade e se instalando em outras áreas. “Conforme o tempo passa, fica mais difícil puxar essas empresas já adaptadas para passar para o polo”, avalia.

Para o gerente comercial da Caterpillar para o segmento de O&G no Brasil, Jones Reese, os principais problemas de muitos estaleiros brasileiros são a situação financeira e a necessidade de capacitação de pessoal. Entretanto, ele vê crescimento desse segmento e se diz otimista, ressaltando que a Caterpillar possui boa relação com estaleiros. No segmento em que atua a Caterpillar, ele observa grande concorrência com outras multinacionais. “O mercado produz preços muito competitivos para todos esses fornecedores. Com esse tipo de mercado, não existe espaço para errar”, resume.

De acordo com Reese, o índice de conteúdo nacional dos produtos da Caterpillar para esse setor varia entre 50% e 73%, dependendo do escopo técnico do produto. “Queremos ajudar os clientes a cumprirem metas e requisitos contratuais”, afirma. De 2011 a 2014, a Caterpillar investiu na expansão de sua fábrica em Piracicaba (SP), especializada em grupos geradores de energia principal, auxiliar e de emergência para atender às necessidades de conteúdo nacional brasileiro para o segmento offshore.

Há 60 anos no Brasil, a empresa registra crescimento nas vendas para o setor marítimo de O&G no Brasil. Em setembro, entregou o 100º grupo gerador com conteúdo local. O sistema de propulsão diesel-elétrica foi fornecido para navios de suprimentos para plataformas — OSV (na sigla em inglês). A expectativa é que a empresa chegue a 200 unidades em meados de 2015.

Reese destaca que a Caterpillar tem conseguido grande escala de produção para oferecer ao mercado preço e competitividade. “Estamos encontrando equilíbrio entre nível de conteúdo local e custo competitividade de nível internacional”, destaca. Ele reconhece que alguns equipamentos, como grandes motores, estão em outro nível de escala, ainda distantes de serem fabricados no Brasil.

Pinheiro, do estaleiro Aliança, também observa evolução no mercado interno, ainda carente de uma cadeia de suprimentos que atenda na qualidade e nos prazos necessários. O estaleiro reconhece que a falta de continuidade de encomendas não estimula o fornecedor nacional a se desenvolver no sentido do atendimento desejado pelos estaleiros.

A fonte ouvida pela Portos e Navios observa que 2015, independente de quem vença as eleições, será um ano de ajustes. Ela acredita que as empresas sem contrato vão passar dificuldade e perderão espaço para aquelas que conseguiram encomendas nos períodos mais difíceis da economia. Apesar dos investimentos de empresas estrangeiras, o mercado olha com atenção as mudanças na Petrobras, que passa por problemas de fluxo de caixa. Apesar da instabilidade do mercado, a fonte enxerga um momento importante para o setor por conta do cumprimento do plano de investimentos da petroleira.






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