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Polo isolado

Indústria naval de Suape esbarra na falta de consolidação de fornecedores de navipeças — O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) entregou em Ipojuca (PE), em abril, o petroleiro Dragão do Mar, o terceiro a ser produzido no Complexo Industrial Portuário de Suape. Durante o evento, também foi batizado o petroleiro Henrique Dias, que se encontra em fase de acabamento pelo EAS e deverá ser entregue ainda este ano. As embarcações são uma pequena amostra do nível de desenvolvimento que o complexo portuário pernambucano pretende alcançar. Um dos três principais polos navais do país, Suape se encontra hoje em plena ebulição, com investimentos privados e públicos a todo vapor. Mas a região ainda enfrenta problemas, como a consolidação das cadeias produtivas (clusters) dos estaleiros.


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Os alicerces de Suape são os estaleiros EAS, o Vard Promar (ambos já operacionais), o CMO Construção e Montagem Offshore S.A., que deve entrar em operação esse ano, e a Refinaria Abreu e Lima (ou Refinaria do Nordeste ou Rnest), que também deverá começar o trabalho de refinamento ainda em 2014, com três anos de atraso e denúncias pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de superfaturamento nas obras. O 9º Balanço do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), divulgado em fevereiro, aponta que a geração de emprego formal em Ipojuca aumentou 214% nos últimos seis anos, enquanto a média de Pernambuco foi 42%.

“Suape é hoje um dos principais polos de investimento do Brasil. Recebe aporte de todos os setores, desde a indústria naval até a eólica (como a espanhola Gestamp Wind e da argentina Impsa). Tudo que acontece no país hoje, em Suape acontece de forma mais acentuada”, diz Márcio Stefanni Monteiro Morais, secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco e presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape. “Há montadoras de motocicletas (a fábrica da chinesa Shineray se encontra em construção), moinho (Bunge) e a Fiat (que está implantando um polo automotivo em Goiana, a 112 quilômetros a norte de Ipojuca) que quer escoar veículos via porto para a Região Norte”, enumera.

A SDEC aponta que são mais de 105 empresas em operação atualmente, que geram mais de 25 mil empregos diretos. Outras 45 estão na fase de implantação, como indústrias de produtos químicos, metal-mecânica, naval e logística, que deverão fortalecer os polos de geração de energia, granéis líquidos e gases, alimentos e energia eólica.

O Estaleiro Atlântico Sul (EAS) é composto hoje pelas empresas brasileiras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão e pelo consórcio japonês JEI (Japan EAS Investimentos e Participações Ltda.), cada um deles com participação societária de 33%. O empreendimento foi formalmente criado em novembro de 2005, tendo as obras de implantação sido iniciadas em fevereiro de 2007. Em setembro do ano seguinte, a primeira etapa da planta entrou em operação. A companhia projeta investir mais R$ 540 milhões nos próximos três anos.

Reiqui Abe, primeiro diretor industrial do EAS, começou a trabalhar no estaleiro em janeiro de 2006, ainda no Rio de Janeiro, pois as obras da empresa em Pernambuco ainda não haviam começado. “O cenário naquela época em Suape existia basicamente para as atividades do porto cuja grande expectativa era da implantação de vários estaleiros, principalmente do Estaleiro Atlântico Sul. O EAS seria o projeto âncora para desenvolvimento da atividade industrial não só em Suape, como nas proximidades, o chamado cluster naval para fornecimento de insumos para a cadeia produtiva dos estaleiros”, explica.

Abe saiu da companhia em novembro de 2010, após o lançamento do João Cândido e início da construção da P-55, e se tornou sócio da Norship Metal Indústria. “Hoje o cenário mudou em termos de crescimento de atividades em Suape, tendo sido implantado o estaleiro Vard (Promar) já em funcionamento e outras empresas industriais e de serviços. Mas a maioria de pequenas e médias empresas fornecedoras de Suape estão localizadas fora do complexo”.

O Estaleiro Atlântico Sul informa, via assessoria de imprensa, que um dos obstáculos enfrentados pela companhia é que Pernambuco ainda não conta com cluster voltado para o setor naval. “Esta situação vem sendo gradualmente contornada a partir do contato com as empresas que estão se instalando na região, assim como a participação do estaleiro no desenvolvimento e capacitação de empresas para atender às demandas da empresa.”

Atualmente, o EAS trabalha com cerca de dez empresas pernambucanas que fornecem itens como tubulação ou realizam serviços como galvanização de peças e limpeza química, entre outros. “Isso permite que o estaleiro possa concentrar forças naquilo que é seu trabalho: a construção de navios”, informa a empresa.

O executivo enumera o que considera os maiores avanços da região nos últimos anos: a construção do Vard Promar, da Rnest, do PQS – complexo que abrange as empresas Companhia Petroquímica de Pernambuco, PetroquímicaSuape e a Companhia Integrada Têxtil de Pernambuco (Citepe) – e empresas não diretamente envolvidas na cadeia naval e offshore, como a Impsa.

Reique Abe frisa, no entanto, que estaleiros e fornecedores deveriam se instalar na região para fomentar a economia, o que não aconteceu como planejado. “Alguns dos gargalos são a formação de mão de obra na velocidade da demanda e falta de fornecedores de serviços para a cadeia produtiva de atividades industriais, como de engenharia e manutenção. Outro grande gargalo, senão o principal, é a falta de fornecedores de matéria-prima (oriundas das regiões Sul e Sudeste) e acessórios (como parafusos, válvulas, juntas e tinta) na região do Nordeste.”

A MKS Caldeiraria Indústria e Comércio, instalada em Sirinhaém, na Zona da Mata pernambucana, a 27 quilômetros de Ipojuca, está de olho na demanda dos estaleiros de Suape, da Rnest e de outros estados do Nordeste, como Alagoas, Ceará e Maranhão. A fábrica de spools (acessórios do segmento de tubulação utilizados pela indústria naval) foi inaugurada em 2012 e recebeu investimentos de R$ 15 milhões. Em Pernambuco, a MKS atende ao Promar e ao EAS.

O diretor geral da MKS, Gustavo Snoeck, explica o porquê a MKS não se instalou diretamente em Suape. “A empresa poderia sofrer com eventuais greves no local e hoje há uma série de obras em andamento. Estaríamos no olho do furacão”, afirma.

— Saio da fábrica e depois de 25 minutos estou em Suape. A rodovia é boa e não passa por dentro de nenhuma cidade no caminho. Além disso, em Suape seríamos só mais uma empresa. Aqui somos a única. Trouxemos emprego e renda para a cidade cuja economia girava em torno de uma usina de cana de açúcar”, diz. Márcio Stefanni, secretário de Desenvolvimento Econômico, acrescenta que esse movimento não é exclusividade da MKS.

A empresa contratou e qualificou mão de obra de Sirinhaém, mas reclama do volume das encomendas que chegam dos estaleiros. Segundo Snoeck, hoje os contratos não dão segurança para os fornecedores investirem.

“Não existe nada a longo prazo. Ninguém vai investir milhares de reais para um contrato tampão de três meses. Como vivemos em um país com certa instabilidade em diversos aspectos, os estaleiros não se movem para fazer contratos de longo prazo. Os fornecedores precisam de garantias mínimas de demanda para poder se desenvolver”, assegura. “Não tomo uma decisão de ampliar ou duplicar minha produção porque não consigo ter uma visão de médio e longo prazo. Apesar de os estaleiros terem um planejamento para o futuro, essa visão não é repassada para os fornecedores”, completa.

A Máquinas Piratininga foi fundada em 1964 para produzir equipamentos para as usinas de açúcar do Nordeste, sediada em Jaboatão dos Guararapes (PE), a 31,8 quilômetros de Ipojuca. Em 1987, foi adquirida pelo Grupo Votorantim, que além de continuar a fabricar e fornecer equipamentos para as usinas de açúcar da região, passou a fabricar equipamentos para indústrias de cimento, siderúrgicas e mineração. Em 1995, foi certificada pela ISO 9001 e começou a fornecer equipamentos também para área de óleo e gás.

Em 2007, ingressou no Cadastro de Fornecedores (Cadfor) da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (ONIP) e se tornou qualificada a fornecer para as indústrias de óleo e gás. A Votorantim vendeu a empresa em 2009 para os atuais acionistas. Em 2011, a companhia se qualificou junto à Petrobras para fornecer vasos de pressão, tanques API, tubulações pré-fabricadas e estruturas. “Hoje somos fornecedores da Abreu e Lima”, conta Pedro Rezaque, diretor acionista da empresa.

“Não temos dificuldade em acesso rodoviário até o Porto e não temos mais que passar pela cidade de Cabo de São Agostinho, o que já nos ajudou muito. Temos transportados equipamentos com dimensões especiais, com necessidade de batedores, e estas cargas têm chegado ao porto de Suape sem nenhum problema”, assegura o executivo. Mesmo assim, a empresa estuda a possibilidade de ter uma planta em Suape para trabalhar com módulos para plataformas de petróleo.

Rezaque faz coro com Snoeck e diz que os estaleiros têm que ser mais transparentes nas decisões para que uma verdadeira cadeia de fornecedores se instale em Suape. “No Japão e na Coreia, os estaleiros apenas montam as embarcações. Tem que ser como a Fiat, que tem uma programação clara de peças que vai precisar. Isso é uma questão de política empresarial e de organização”, afirma. De acordo com o executivo, os estaleiros instalados em Ipojuca tinham, no início, “a pretensão de fazer quase tudo internamente”. E foi por isso que não houve um grande avanço no setor de navipeças.

“Lembro-me que quando foi anunciada a instalação do EAS, a Máquinas Piratininga foi procurada por diversas empresas do exterior, da Holanda, Coreia e outros países, para tentar desenvolver uma parceria com o objetivo de produzir componentes com valor agregado. Mas isso não foi em frente por falta de previsibilidade de demanda.” Segundo Razaque, empresas da região fornecem hoje para os estaleiros, em geral, pequenos blocos de chapa soldadas e ou acessórios do tipo escadas, escotilhas, tubulação de pequeno diâmetro e outros componentes, “porém sem muito valor agregado”.

Para o sócio da Máquinas Piratininga, os estaleiros têm que se reunir com os fornecedores para discutir quais itens eles têm condições de entregar e em quanto tempo. “Existe um programa chamado Inova Petro (do BNDES) que consegue financiamento rápido e barato visando ao desenvolvimento de fornecedores para a cadeia de petróleo e gás. Se perguntar sobre esse programa para qualquer empresário de Pernambuco, eles não vão saber do que se trata”, diz.

A Norship Metal, de Reiqui Abe e Jorge Ferreira, tem fornecido estruturas metálicas e acessórios para estaleiros, mas também para a construção da Petroquímica e Refinaria de Suape. A companhia está instalada em Cabo de Santo Agostinho, a 17,4 quilômetros de Ipojuca.

Segundo Reiqui Abe, todo o trabalho para integrar a cadeia produtiva de Suape, iniciado em 2007, ainda não rendeu frutos. “Foram reuniões, discussões, seminários e convenções envolvendo a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), o Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico do Estado de Pernambuco e o Instituto Euvaldo Lodi (IEL/PE), cujo resultado foi muito tímido para o cenário atual, que ainda não encoraja os fornecedores a investir”, diz. Para ele, a solução é simples: é preciso que os fornecedores continuem perseverando para continuarem competitivos e que as empresas demandantes priorizem as encomendas para as companhias de Suape e arredores.






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