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População do norte não conhece impactos da Jurong sobre a saúde

Não são apenas os impactos ao meio ambiente e a falta de estrutura do município de Aracruz que vem sendo ignorados no processo de licenciamento do estaleiro da Jurong, na Barra do Sahy. Até o momento, nenhum risco à saúde da população foi esclarecido à comunidade pela empresa. Segundo o médico e ambientalista Lupércio Araujo, o processo industrial do estaleiro naval, através do ar, da água e dos peixes, pode prejudicar gravemente a saúde da população.
“Infelizmente, a maioria da população não tem informações precisas sobre os riscos e as conseqüências da contaminação por esses metais para a saúde humana. Muitas substâncias não são lipossolúveis e acabam contaminando os corpos hídricos, que por sua vez contaminam os pescados, assim como os demais alimentos através do solo e do ar, sem falar na inalação e contato direto”, diz o médico.
Ao serem dispersados na natureza, elementos como o chumbo (presente nas tintas), cadmio (galvanoplastia, soldas), mercúrio (tintas, catalizadores, óleos lubrificantes), cromo (galvanoplastia, soldagens, produção de ligas ferro-cromo, tintas), manganês (eletrodos para solda, magnetos, catalisadores, tintas, ligas de cobre e niquel) e mercúrio, os danos à saúde são cumulativos e graves.
Além disso, estas substâncias contaminam os peixes, principal fonte de alimento da região, cujos habitantes sobrevivem da atividade pesqueira e do turismo.
A informação é que as pessoas idosas e as crianças são as que mais sofrem com o problema por serem mais susceptíveis às substâncias tóxicas, como, por exemplo, o manganês, que tem nas vias respiratórias a principal porta de entrada da substância no corpo humano. O manganês pode gerar no primeiro estágio de contaminação (subclínico) distúrbios do sono, dores musculares, excitabilidade mental, entre outros males. No segundo estágio (início da fase clínica), gera dificuldade na fala, reflexos exagerados e tremores. Já na terceira e última fase (clínico), gera psicose maníaco depressiva e quadros que podem ser relacionados com o parkinsonismo. Além dos efeitos neurotóxicos, há maior incidência de bronquite aguda, asma brônquica e pneumonia.
“Há um elevado índice de absorção gastrointestinal das substâncias citadas. A manifestação dos efeitos tóxicos está associada à dose e pode distribuir-se por todo o organismo, afetando vários órgãos, alterando os processos bioquímicos, organelas e membranas celulares. O homem e as outras espécies localizadas no topo da cadeia alimentar são afetados”, explicou.
Já o cromo, utilizado para hora de galvanizar soldas, entre outras etapas, pode ser absorvido via cutânea e pode gerar efeitos nasais, bronco-pulmonares, renais, gastrointestinais, entre outros. Isso, alerta o médico, sem falar no cádmio, proibido em diversas partes do mundo e que é absorvido pelo organismo e, a longo prazo, pode gerar sérios problemas no rim. A inalação de doses elevadas produz intoxicação aguda, caracterizada por pneumonite e edema pulmonar.
Para agravar a situação, a reclamação na região é que o poder público do município não participa dos debates com a sociedade sobre o empreendimento.
Além da omissão dos governantes da região, a Jurong conta ainda com a omissão do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), que atropelou a decisão de seus técnicos. Estes se manifestaram contrários à instalação do empreendimento na região – e emitiu a Licença Prévia à empresa.
Atualmente, o processo está em fase de discussão das condicionantes ambientais, mas entre elas, afirmam membros da comunidade, não constam debates relacionados ao uso de elementos tóxicos na produção do estaleiro da Jurong.

Fonte: Seculo Diário/Flavia Bernardes


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