A Petrobras anunciou nesta quinta (28) uma série de medidas que reduzem o poder dos diretores da estatal, com o objetivo de dificultar desvios como os que deram origem à operação Lava Jato.
As mudanças fazem parte da revisão da estrutura gerencial da companhia, que prevê economizar R$ 1,8 bilhão.
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Em entrevista, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, disse que o processo de revisão da estrutura é uma resposta à crise gerada pela descoberta de um esquema de corrupção na companhia.
Quatro ex-diretores da Petrobras –Paulo Roberto Costa, Renato Duque e Jorge Zelada e Nestor Cerveró– foram presos, sob acusação de participar do esquema.
A avaliação é que a autonomia dos ocupantes desses cargos facilitou os desvios. Agora, todas as decisões serão tomadas de forma colegiada, com o aval dos gerentes-executivos –cargo subordinado aos diretores.
Eles formarão comitês para analisar as propostas de cada diretoria e fazer recomendações ao conselho de administração. Os gerentes também passam a responder perante a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por problemas nos projetos aprovados.
A empresa criou nova política de nomeações para os cargos de diretor e gerente-executivo. Todos os indicados terão os currículos e o desempenho avaliados pelo conselho de administração, que terá a última palavra.
Bendine disse que o objetivo é privilegiar a meritocracia nas promoções, reduzindo as chances de indicação política. "Nunca convivi e não convivo com indicação política nesta empresa", afirmou.
A estatal reduziu o número de diretorias e reformulou algumas delas. Os negócios de gás e energia serão absorvidos pela diretoria de Abastecimento, que passa a se chamar Refino e Gás.
O plano prevê ainda o corte de 30% dos cargos de gerência. Segundo a estatal, a economia de R$ 1,8 bilhão virá da redução do pagamento de gratificações e de custos com a estrutura das gerências extintas. Não está prevista demissão dos atuais gerentes.
As medidas foram aprovadas com um voto contrário, do representante dos trabalhadores no conselho, o sindicalista Deyvid Bacelar.
Ele argumentou que, embora veja avanços nas mudanças gerenciais e no maior controle sobre as decisões dos diretores, o desenho da nova estrutura sinaliza que a Petrobras dará prosseguimento ao plano de venda de ativos, ao qual faz oposição.
PRÉ-SAL
Bendine afirmou que a produção de petróleo no pré-sal permanece viável mesmo com o petróleo por volta dos US$ 30 por barril.
Ele não detalhou, porém, qual seria o custo de produção das reservas, limitando-se a repetir a cifra de US$ 8 por barril, que não considera investimentos, impostos e gastos em logística.
Antes da crise, a empresa falava em US$ 40 por barril, considerando esses fatores.
O executivo disse que os projetos são de longo prazo e o preço do petróleo tende a se recuperar.
"Não é porque o petróleo chegou a US$ 30 que será o fim do mundo. Vamos preparar a companhia para o [petróleo] Brent de US$ 30, de US$ 20, não importa."
Fonte: Folha