FGundada em 1999, a Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip) é um poço de otimismo. Pudera: após mostrar ao governo a importância de se destinar obras para o mercado interno, o setor só tem recebido louros. Enquanto outras áreas industriais patinavam, o pessoal da Onip – não só estaleiros, mas produtores de máquinas, empreiteiras e indústrias de precisão – se rejubilava com boas encomendas. E perspectivas cada vez maiores. No entanto, a reunião desta quarta-feira, no Rio, foi uma das mais depressivas do setor. Praticamente todos os oradores mostraram preocupação com o cenário. O dia a dia está garantido, pois as encomendas já postas pela Petrobras e outras empresas são de deixar o resto do mundo de boca aberta: 15 plataformas, 28 navios-sonda, 39 navios da Transpetro e cinco submarinos. Mas preocupa o futuro.
Basicamente, os empresários e executivos que participaram do encontro da Onip, no Rio, mostraram descontentamento com a crise na Petrobras, a incerteza governamental e a polêmica sobre conteúdo local. Nos problemas internos da estatal, a visão empresarial é a de que, qualquer que seja o desfecho da crise de Pasadena, haverá perdas para imagem e ação da maior empresa do país. A política de preços da Petrobras não precisou ser focada expressamente, pois todos sabem que, se uma empresa não fatura em níveis adequados e mantém o plano de investimentos, terá de se endividar, pois o Mago Merlin é figura de ficção.
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Quanto à ação do governo, o que se disse é o mesmo que muitos jornalistas têm levantado desde o início do Governo Dilma: o relacionamento com os investidores é inseguro. O governo tanto concede benesses, como na retirada de ônus previdenciários, como dá tacadas grosseiras; o maior exemplo de truculência foi a MP do setor elétrico, que dessarrumou integralmente um segmento que, bem ou mal, vinha atendendo à demanda da sociedade. Hoje, é difícil achar um investidor de energia – privado ou estatal – que se declare honestamente contente com a lei imposta por Dilma.
Quanto ao conteúdo local, pessoas presentes ao encontro reafirmaram que em momento algum, no encontro da última segunda-feira, a presidente da Petrobras, Graça Foster, falou expressamente em mudar o conteúdo local – que gera 78 mil empregos nos estaleiros e 300 mil na indústria subsidiária. Graça apenas destacou que não toleraria atrasos e poderia fazer importações pontuais. Porém, como o relacionamento entre governo e empresários na gestão de Dilma é complicado, não está afastada a hipótese de mudanças nesse sistema, que é a base de toda a cadeia de encomendas da indústria naval e do petróleo – e razão de ser da Onip.
Fonte: Monitor Mercantil/Sergio Barreto Motta