O Brasil está longe dos planos de redução dos investimentos anunciados pela Statoil há algumas semanas, em Oslo, na Noruega. A empresa decidiu cortar 10% do seu investimento global em 2015, dos US$ 20 bilhões previstos inicialmente para US$ 18 bilhões. O objetivo da estatal norueguesa é diminuir custos para não afetar suas margens diante da redução dos preços do petróleo, explicou o novo presidente da Statoil Brasil, Päl Eitrheim, em entrevista exclusiva para o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Mesmo assim, estão mantidos os investimentos previstos para a segunda fase do desenvolvimento da produção no campo de Peregrino, na Bacia de Campos, cujo objetivo é alongar a vida útil do ativo. O projeto deve exigir, até o fim da década, US$ 3,5 bilhões em sociedade com a chinesa Sinochem, que detém uma fatia de 40% na área.
Observador atento dos desdobramentos da Operação Lava-Jato, que alcançou notoriedade mundial, Eitrheim afirma que o que se apresenta é um cenário "muito desafiador" para indústria brasileira de óleo e gás. O executivo, contudo, avalia que ainda é difícil dimensionar as consequências das investigações que colocaram a Petrobras no centro de um escândalo de corrupção. "Nada disso muda a nossa visão de longo prazo. E o Brasil é estratégico para a Statoil", disse Eitrheim, que chegou ao Rio em meados do ano passado.
O novo presidente da companhia no Brasil afirmou, inclusive, que não descarta a participação da empresa num futuro leilão de novas áreas Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), caso algum deles seja marcado para este ano.
Eitrheim deixou claro que a Statoil será seletiva com seus projetos, mas que o Brasil deve ser preservado. O executivo tem formação incomum. Em um mundo dominado por engenheiros e geólogos ele é formado em Ciências Políticas pela Universidade de Bergen, na Noruega, e a University College Dublin, na Irlanda. Foi chefe de gabinete do icônico Helge Lund, ex-presidente da Statoil e que assumiu a presidência do grupo BG.
A queda abrupta dos preços do petróleo, a partir do segundo semestre do ano passado, pegou a Statoil em um momento em que ela já tinha colocado em marcha um programa de redução de custos. A queda do preço da commodity apenas provoca uma redução das margens, o que exigirá mais eficiência em atividades como a perfuração e produção de petróleo. Como é esperada a paralisação de projetos ao redor do mundo que têm ponto de equilíbrio acima dos atuais preços do óleo, a indústria, e não só a Statoil, poderá aproveitar o desaquecimento do setor para negociar melhores preços de bens e serviços, o que ajudará a reduzir custos.
"O balanço entre oferta e demanda vai fazer os preços do mercado caírem, até porque as margens serão reduzidas. Essa é a nossa expectativa. Estamos convidando fornecedores, não só no Brasil, para discutir os custos a partir de simplificações e padronização de projetos", exemplificou.
No quarto trimestre do ano passado, a norueguesa reportou um prejuízo de US$ 1,18 bilhão, revertendo o lucro de US$ 2 bilhões em igual período de 2013. A empresa, no entanto, fechou 2014 com um lucro acumulado de US$ 3,484 bilhões.
No fim de janeiro, a empresa entregou à ANP o novo plano de desenvolvimento de Peregrino, com uma previsão de perfuração de 21 novos poços, sendo 15 produtores de óleo e seis injetores de água. O objetivo dos investimentos é alongar a vida útil do campo, a maior produção de petróleo e gás da Statoil como operadora fora da Noruega.
Com uma participação de 60% na concessão, a petroleira norueguesa produziu cerca de 73 mil barris de óleo por dia em dezembro. Com a nova fase de produção, a Statoil prevê adicionar cerca de 250 milhões de barris recuperáveis às suas reservas. Peregrino tem um histórico de mais de 90 milhões de barris produzidos desde o primeiro óleo, em abril de 2011.
(Fonte: Valor Econômico/Cláudia Schüffner e André Ramalho | Do Rio
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