A atual situação de caixa da Lupatech não será suficiente para que a companhia honre com todos os seus compromissos até o fim do ano. Essa aposta fez com que a maior fornecedora de equipamentos para indústria de petróleo vivesse ontem seu pior pregão desde a estreia na bolsa, em 2006.
Desde o agravamento da crise de 2008 - ocasião em que a sua principal cliente, a Petrobras, adiou encomendas -, o desempenho operacional da Lupatech cai e sua situação financeira fica mais apertada.
No fim de outubro, a agência de risco Moody´s rebaixou novamente a nota de crédito da companhia para patamar próximo de um possível calote. O ponto crítico, no entanto, veio nesta semana, com o anúncio de que a companhia pedirá autorização aos detentores de bônus perpétuos para vender um dos ativos garantidores do pagamento dos juros da dívida: a unidade Steelinject, por R$ 14 milhões.
Isolado, o fato não justificaria a queda de 19,5% ontem nas ações, que colocaram a companhia no posto de pior performance da bolsa no ano, com recuo acumulado de 76,5%. Tampouco a redução no preço dos bônus negociados no exterior, que ontem pagavam um retorno de 27,4% para o investidor.
Mas dado o retrato financeiro que a empresa apresentou no terceiro trimestre de 2010, a possibilidade de um calote parece cada vez mais factível.
A Lupatech fechou setembro com uma dívida líquida de R$ 1,2 bilhão, um aumento de 13,1% em relação ao saldo de junho. Desse total, R$ 67 milhões vencem até o fim do ano.
A empresa consumiu quase metade do caixa entre julho e setembro e fechou o terceiro trimestre com R$ 29,8 milhões disponíveis. Assim, precisaria obter aproximadamente R$ 37 milhões para arcar com os compromissos. Mas a geração de caixa medida pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação, na sigla em inglês) trimestral da empresa tem girado abaixo desse valor, por volta de R$ 20 milhões.
Junto com os números do trimestre, a Lupatech anunciou uma captação de R$ 60 milhões com e emissão de cédulas de crédito bancário (CCB) que serão adquiridas pela Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras e um dos principais acionistas da companhia. Nas contas do mercado, porém, esse empréstimo resolve a situação apenas no curto prazo.
Logo no começo de 2012 a empresa precisará desembolsar US$ 6,8 milhões como pagamento trimestral de juros dos bônus perpétuos (sem data de vencimento) emitidos no exterior. A alta recente do dólar prejudica ainda mais a empresa, que não possui hedge (proteção) cambial dessa dívida.
Com a venda da Steelinject para a Forjas Taurus, que deve ser concluída até dezembro, a companhia deve obter R$ 14 milhões, mas ficará com a dívida de R$ 1,8 milhão da empresa. E para obter o aval dos credores dos bônus, a Lupatech se comprometeu a pagar uma compensação equivalente a US$ 2,50 para cada US$ 2 mil detidos pelos detentores dos papéis.
Segundo o gestor de um fundo que investe em papéis de dívida, há um temor no mercado de que a companhia não consiga, em tempo hábil, vender os outros ativos a que se propôs. Juntos, eles somam algo entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões.
Procurada pela reportagem, a Lupatech divulgou nota na qual informa que a anuência dos detentores dos bônus perpétuos à venda da Steelinject colaborará para o cumprimento do plano de negócios da companhia, sem afetar os níveis de garantia dos títulos. "A companhia tem total apoio dos seus acionistas, entre eles BNDES e Petros, em todos os movimentos que tem feito para melhorar sua estrutura de capital e aumentar a eficiência de suas operações", acrescenta a empresa.
O maior acionista da Lupatech é a holding familiar Lupapar, que detém 25% do capital. A BNDESpar tem 11,4% e a Petros, 15%. Não há acordo de acionistas entre esses investidores.
Fonte: Valor Econômico/Marina Falcão e Vinícius Pinheiro | De São Paulo
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