Para a maior embarcadora do mundo, a expectativa de recuperação do comércio exterior do Brasil em 2020 está se esvaindo. A aposta da Maersk é retomada apenas em 2021. A justificativa da companhia dinamarquesa é o cenário global com atividade mais lenta, por conta da guerra comercial entre as maiores potências do mundo — China e Estados Unidos —, e do Brexit, com a saída da Grã-Bretanha da União Europeia. No contexto regional, a crise argentina comprime as exportações brasileira, enquanto no quadro local o motivo é a precária infraestrutura logística do país.
Apesar de positivos, os números da empresa no Brasil estão distorcidos na comparação com 2018. A movimentação de contêineres teve expansão de 11% no segundo trimestre de 2019 em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo Matias Concha, diretor de Produtos Maersk para a Costa Leste da América do Sul, que inclui Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, os números foram fortemente impactados pela greve dos caminhoneiros, então a base de comparação é muito deprimida. “Ficamos duas semanas sem movimentação de carga em junho do ano passado”, lembrou.
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Se os dados estão distorcidos, a perspectiva para 2019 e 2020 é bastante clara para Concha. “O cenário global está mais complicado. O FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgou a quarta revisão para baixo do crescimento da economia mundial. Começou o ano em 3,9% e agora está em 3,2%”, avaliou. A guerra comercial e o Brexit deixam o comércio internacional incerto, ao mesmo tempo em que a situação da vizinha Argentina, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, impõe obstáculos às exportações brasileiras.
“A crise argentina é muito grave. O país está com inflação acima de 50%, o dólar valendo 60 pesos e os juros na casa dos 70%. Além disso, a situação fiscal é muito ruim e há eleições no fim do ano”, reforçou Concha. Para o diretor, o quadro é agravado com situação nacional. “Há muita ser feito. As reformas da Previdência e tributária são essenciais. Falta de infraestrutura logística que não estão no nível para o século 21. Não há o que fazer no cenário externo, mas no interno muito pode ser feito”, avaliou.
Natal fraco
Para complicar, o diretor da Maersk afirmou que as importações para o Natal estão muito fracas. “Normalmente, crescem no terceiro trimestre do ano, mas estão abaixo do esperado. Isso tudo tem a ver com a falta de clareza sobre o consumo”, justificou.
Como não consegue crescer, a Maersk está tentando ajudar seus clientes. “Não atuamos mais somente no transporte marítimo e, sim, em soluções logísticas integradas, como seguro, armazenagem e intermodais, para os clientes ganharem competitividade”, explicou. Para isso, a Maersk está integrando 283 mil metros quadrados de seis terminais terrestres da APM Terminals, incluindo Cascavel, Paranaguá, Itajaí e Itapoá (dois locais).
“Agora os clientes poderão usá-los para consertar contêineres, armazenamento, limpeza, reparo, cross-docking (processamento cruzado), o que envolve o carregamento de mercadorias de um caminhão para um contêiner ou vice-versa, nas estações de carga de contêineres”, disse. “Economizar tempo e encontrar oportunidades de armazenamento aumentam a eficiência”, completou.
A A.P. Moller-Maersk é uma empresa integrada de logística de contêineres, com operações em 130 países e 70 mil funcionários. A Maersk possui mais de 700 embarcações e também é a maior linha de transporte de carga refrigerada do mundo.
Fonte: Correio Braziliense