Com o Brasil à beira de outra recessão, a Maersk vê poucas chances de recuperação da economia do país em 2019. O relatório trimestral da companhia apontou queda de 2% nas exportações e nas importações nos três primeiros meses do ano. As expectativas de retomada da economia brasileira e de geração de empregos no segundo trimestre ficaram frustradas e a avaliação é que pode haver redução dos índices de importações e exportações em relação a 2018. A companhia já previa que as importações rendessem abaixo do esperado no primeiro semestre de 2019, porém acreditava que as exportações tivessem resultados mais positivos.
“As exportações de baixo desempenho no primeiro trimestre realmente não fazem sentido. Temos uma moeda local enfraquecida, não há congestionamento nos portos, os exportadores podem encontrar espaço em navios e não há greves. Em teoria, este deveria ser um grande momento para os exportadores ”, explicou Denis Freitas, diretor-geral da Safmarine para a costa leste da América do Sul.
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O trade report da Maersk identifica um 'efeito dominó', que atinge setores de agricultura, indústria e varejo. A companhia enxerga que a queda nas exportações afeta os desempenhos de commodities no segundo trimestre. O documento fala da necessidade de reverter essa situação. A leitura é que a recuperação da economia está bastante atrelada à aprovação da reforma da previdência, que só deve ocorrer no final do ano, com reflexos apenas em 2020. A espera pela reforma, segundo o relatório teria levado empresários a adiarem investimentos por cautela.
Para a Maersk, o resultado fraco do primeiro trimestre expõe a falta de competitividade do Brasil e a necessidade de novos acordos comerciais. Além disso, a empresa entende que a regulamentação excessiva está prejudicando companhias marítimas, exportadores e importadores, produtores, agricultura e consumidores. Um sinal preocupante no primeiro trimestre foi um declínio de 10% nas importações de produtos químicos, principalmente compostos por fertilizantes. Os agricultores abriram mão de pedidos de aproximadamente 100 mil toneladas de fertilizantes no primeiro trimestre, representando quase quatro mil contêineres de 40 pés. A avaliação é que os produtores agrícolas vão segurar os gastos este ano. “Esta é uma queda significativa e estamos revisando nossas expectativas a respeito de como o setor agrícola irá atuar neste ano. É difícil ver um crescimento expressivo ou resultados de colheitas abundantes nessas condições”, comentou o gerente de produto da Maersk para a costa leste da América do Sul, Matias Concha.
Máquinas, eletrodomésticos e eletroeletrônicos declinaram 5% no primeiro trimestre, reduzindo 1.620 para 33.078 contêineres de 40 pés. Já o setor automobilístico corre o risco de acabar com o estoque em 2019, depois de aumentar as importações em 4% para 1.166 contêineres no primeiro trimestre. Os consumidores também reduziram os gastos, apresentando um declínio de 7% na produção de bens de consumo e roupas no primeiro trimestre. A queda no consumo também reflete baixa de 41% nas importações de frutas, vegetais e plantas, representando uma queda de 3.345 contêineres. Além disso, a taxa de desemprego no Brasil continua na ordem de 13 milhões de desempregados.
De acordo com o relatório, as importações da Europa, Ásia e Oriente Médio apresentaram declínios de 4%, 4% e 1%, respectivamente. As importações africanas destacaram-se com bens, caindo 21%. Houve um declínio generalizado no volume de carga refrigerada de itens importantes, como aves, alimentos, bebidas e produtos frescos. Para a carga seca, a maior surpresa veio do açúcar, que caiu 46%. Além de setores como papel e celulose, mineração de metais e construção também foram impactados.
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