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Europeias disputam venda de armas e sensores para corvetas da Marinha

O anúncio do consórcio Águas Azuis como vencedor da concorrência para construir quatro corvetas classe Tamandaré para a Marinha a partir de 2020 foi só o início da disputa pelos R$ 6,4 bilhões (US$ 1,6 bilhão) que custará o projeto. Agora tem início a etapa de preparação dos contratos, que inclui a definição das armas e sensores embarcados. Como ThyssenKrupp, Embraer e Atech, que integram o consórcio contratado, não fabricam esses equipamentos, irão encomendar no mercado. A concorrência é dominada por fabricantes europeias. Estão na briga as britânicas BAE Systems, MBDA e SEA, as francesas Thales e Safran, e a italiana Leonardo, entre outras.

Em cada embarcação haverá sete armas e oito sensores instalados. O diretor de gestão de programas da Marinha, vice-almirante Augusto Petrônio, disse que, neste tipo de projeto, o "sistema de armas" consome de 60% a 70% do orçamento. No projeto Tamandaré, portanto, o gasto com aparelhagem deve girar em torno de US$ 1 bilhão. Petrônio disse que uma parte desse valor será empregada na compra do Sistema de Gerenciamento de Combate (CMS, na sigla em inglês), da Atlas Eletronik, uma subsidiária da ThyssenKrupp, em parceria com Embraer e Atech. O restante está em aberto. "A Marinha não indicou nenhum fornecedor até aqui, só os requisitos mínimos. Fazemos isso para estimular a concorrência", afirmou Petrônio.


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No prospecto do consórcio há uma indicação de armamentos e sistemas que atendem os requisitos mínimos e que podem ser usados nas embarcações. "[Essa indefinição] é normal nesse tipo de negócio. Nesta etapa, o projeto será refinado. O que foi proposto não é definitivo e nós temos um diálogo aberto com a Marinha e o consórcio", afirma Marco Caffe, gerente-geral da BAE Systems no Brasil.

A britânica aparece como responsável por um radar 3D e pelo canhão de 40 mm MK4, instalado na traseira de navios. Os valores são sigilosos, mas compras anteriores indicam uma ordem de valor. Em 2015, a Marinha comprou cinco por € 11,3 milhões.

Caffe disse que a BAE ainda quer emplacar outro modelo, de calibre maior, na proa. Mas na lista do consórcio para esta arma aparece um equipamento da italiana Leonardo. A promessa de concorrência surpreendeu executivo da empresa, que não quis se identificar. "Se vai ter 'challenge', também vamos querer tomar o canhão deles [da BAE], porque fabricamos um similar" disse. "Nada disso é tão ruim. Se está em aberto, vale para todo mundo e podemos fornecer praticamente tudo para este navio", disse a fonte da Leonardo.

Em posição mais confortável, está a fabricante britânica de lançadores e mísseis MDBA, que têm entre seus principais acionistas justamente a BAE (37,5%) e a Leonardo (25%). A empresa tem na lista do consórcio seu míssil de interceptação de aeronaves Sea Ceptor, que teria sido escolhido pela Marinha em 2014 e foi reconhecido pelos executivos ouvidos como um dos itens que dificilmente será substituído. Andrew Blackburn, executivo de sistemas navais da MDBA, disse que a vantagem da arma, lançada em 2018, está no longo alcance e da detonação no ar.

A MDBA também leva vantagem na disputa pelo lançador de mísseis antinavios. Isso porque o míssil Mansup, desenvolvido pela Marinha do Brasil juntamente com Avibrás, Siatt e Omnisys (Thales) - todas no ABC Paulista - está em fase final de testes e deve integrar o arsenal das corvetas. Na prática, o Mansup é o Exocet MM40 da MDBA nacionalizado, o que faz do lançador britânico seu par ideal. A MDBA não revela os preços dos mísseis, mas em 2014, a Marinha comprou um lote de mísseis Exocet por € 117,9 milhões.

A multinacional francesa Thales pretendia fornecer a maioria dos sensores a bordo porque mantinha acordos com todos os consórcios da disputa. Mas a vitória do Águas Azuis não ajudou. No projeto liderado pela ThyssenKrupp, os franceses só figuram como fabricantes do radar Stir. "Vamos pleitear junto à Marinha a entrada do Mage [equipamento de apoio à guerra eletrônica] e do sonar de casco KingKlip, porque têm partes fabricadas no Brasil, além do Radar 3D", diz Ruben Lazo, vice-presidente da Thales para América Latina. Para isso, terá de desbancar o radar da BAE, o sonar da Atlas e o Mage fabricado pela espanhola Indra Rigel. Além da disputa com a Indra Rigel, a Thales terá outro adversário na briga para emplacar o equipamento de apoio à guerra eletrônica, pois a Marinha desenvolve seu próprio Mage.

Outros executivos também apostam que o índice de conteúdo local pode fazer diferença. É o caso do CEO da francesa Safran no Brasil, Davi Montmasson, que tenta confirmar a entrada das suas alças optrônicas nas corvetas. Hoje, elas são fabricadas na França, "mas tudo está sujeito à discussão". Na mesma linha, o diretor de negócios internacionais da britânica SEA, Paul Parsons, diz que componentes não estratégicos de seu lançador de torpedos TLS-TT poderão ser feitos no Brasil. "Somos uma empresa de 300 funcionários com encomendas específicas, podemos acomodar mudanças requeridas pela Marinha", afirma Parsons.

O vice-almirante Petrônio, no entanto, afirma que a participação da cadeia nacional não terá tanto peso a partir de agora. "O conteúdo local já foi alcançado. Isso já nos preocupou muito, mas não é mais o caso", diz, em referência aos índices de produção local de 31,6% para a primeira corveta e 41% para as demais - a Marinha exigia 30% e 40%, respectivamente. O vice-almirante diz que a escolha será pautada primeiro na performance dos equipamentos e, depois, no preço e nas condições de manutenção. "É ótimo quando desenvolvemos tecnologia própria, mas precisamos destes equipamentos funcionando. Não podemos correr riscos."

O Valor apurou que a Marinha impôs até oito meses para fechamento dos contratos das corvetas. Mas, para os executivos, esse processo deve demorar no mínimo dez meses. As negociações serão conduzidas pela Empresa Gerencial de Projetos Navais da Marinha (Emgepron), já capitalizada em cerca de R$ 2 bilhões, e envolverão a formatação de quatro contratos: o principal, para construir os navios, e os relativos à transferência de tecnologia, apoio e logística, e compensação. O último envolve a modernização da corveta Barroso, em atividade há 12 anos. As quatro novas corvetas deverão ficar prontas entre 2024 e 2028. Até lá, os fornecedores estarão em nova concorrência, de equipamentos de um navio de apoio antártico. O processo de licitação, de R$ 500 milhões, começou em fevereiro.

Fonte: Valor

 






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