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Fórum debateu papel da mulher na navegação brasileira, assédio e falta de visibilidade

Participantes destacaram necessidade de um olhar mais humanizado para desenvolvimento de pessoas, apoio entre as mulheres para divulgação dos seus trabalhos, entre outras sugestões

 


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Em evento aberto, exclusivamente para mulheres, mais de duzentas profissionais do mercado marítimo se reuniram para debater os desafios de carreira e o combate ao assédio no ambiente de trabalho. O fórum híbrido, com a parte presencial no Rio de Janeiro, teve como foco oferecer um espaço para as vozes femininas da navegação. Mulheres das marinhas mercante e de guerra compartilharam experiências durante o encontro, que aconteceu em abril. A primeira edição do ‘Horizontes Femininos’ debateu o papel da mulher na navegação brasileira, assédio, representatividade, maternidade, entre outros temas.

Dados recentes apontam que uma em cada seis mulheres pede demissão por conta de assédio em suas áreas; 35% vivem sob constante medo; e 30% sentem falta de confiança em si e nos outros. Além disso, apenas 17% da força de trabalho do setor aquaviário são mulheres. Desse total, 16,7% estão em cargos executivos, 22,5% em cargos de gerência e 16,4% em cargos operacionais.

Maíra Liguori, diretora na consultoria Think Eva e na ONG Think Olga, especializada em equidade de gênero, destacou que a Lei 14.457/2022 obriga as empresas privadas a tomarem parte no combate ao assédio, mantendo vigilância, monitoramento, criando um canal de denúncia, um RH mais empático, entre outras ações, inclusive educacionais, com objetivo de tornar o ambiente mais confortável, seguro e inclusivo para as mulheres.

Maíra explicou que a lei é importante, pois uma pessoa que é treinada no ambiente do trabalho passa a ter um novo olhar na sociedade, tanto para o assédio sexual quanto moral, que tem potencial para causar danos físicos e psicológicos tão intensos quanto o sexual, além de atrapalhar o ambiente profissional, colocar o cargo e o futuro das profissionais em risco. No bate-papo, ela explicou ainda que o assédio não é um problema meramente individual, ou político, de esquerda ou de direita. “É um problema de gênero e reproduz práticas enraizadas na sociedade”, frisou.

“Assédio moral é um exercício de poder e ele acontece de três formas: vertical, com diferença de posições hierárquicas, usualmente a mulher sendo subordinada a um homem; horizontal, entre colegas de trabalho, e misto. Importante dizer que a habitualidade da conduta e a intencionalidade são indispensáveis para se caracterizar como assédio moral”, reforçou Maíra. Já o assédio sexual, explicou, tem origem na chantagem e na intimidação.

“Consentimento é a palavra-chave para definir o que é assédio. Como mulheres, precisamos aprender a consentir e a não consentir. Não fomos ensinadas a dizer que não queremos que falem conosco desta ou daquela maneira. Não nos ensinaram a nos posicionar de forma firme”, destacou Maíra.

Uma pesquisa global do LinkedIn sobre o tema apresentou que 47% das mulheres no mercado de trabalho sofrem assédio e apenas 5% denunciam. “Romper com o ciclo do assédio é responsabilidade de todos. Não queremos privilégios, queremos direitos e oportunidades na mesma proporção que os homens”, disse Maíra. Ela acrescentou que não é possível falar de assédio, sem falar de raça. “Mulheres negras sofrem ainda mais assédio do que mulheres brancas. Precisamos nos posicionar, reagir e denunciar”, completou.

Durante o evento, foi discutido o novo Guia de Enfrentamento ao Assédio no setor Aquaviário, iniciativa conjunta do Ministério dos Portos e Aeroportos (MPor) e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), elaborada em parceria com a Wista Brazil e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).  A diretora da Antaq, Flávia Takafashi, lembrou uma pesquisa da agência em colaboração com a Wista, realizada em março de 2023, que descobriu que apenas 17% da força de trabalho do setor aquaviário é de mulheres. Desse total, apenas 16,7% estão em cargos executivos, 22,5% em cargos de gerência e 16,4% em cargos operacionais.

O Guia será um manual de boas práticas para combater o assédio contra mulheres que trabalham nos portos e na navegação brasileira. “Foram cerca de quatro a cinco meses falando sobre o tema assédio, buscando indicadores e estruturando a criação do projeto do Guia, que incluiu roda de conversas e oficinas. Pela primeira vez, o tema está sendo tratado de forma sistêmica. É claro que ele é voltado para o setor aquaviário, mas entendemos o guia como uma ferramenta de Estado, onde falamos sobre pessoas e ajudamos mulheres de um modo geral”, concluiu Flávia.

No último debate do evento, mulheres do setor aquaviário — de diversas áreas e cargos — falaram sobre temas como empoderamento feminino, liderança, diversidade, maternidade, carreira e assédio, além do preconceito que ainda existe neste mercado para com as mulheres e a evolução da presença feminina em um setor majoritariamente masculino. Entre os principais temas apontados, ao serem questionadas sobre os maiores desafios que já enfrentaram em suas carreiras, estão: a dúvida de colegas ou líderes homens, se vão dar conta do trabalho; como conciliar a carreira e a maternidade; medo de ser assediada, já que, muitas vezes, embarcam para passar semanas no mar e são a única mulher a bordo nos navios.

“O assédio paralisa. Já me escondi debaixo da cama, dentro de camarotes, por medo de sofrer algum tipo de abuso”, contou uma delas. O ‘Horizontes Femininos’ contou com a participação de representantes de diversas áreas e cargos, como comandantes de embarcações, oficiais de máquinas, executivas de grandes companhias, além da diretora da Antaq e outras profissionais associadas ao suporte das operações marítimas e portuárias. O encontro foi uma correalização da Norsul com a Wista Brazil, associação que busca promover a equidade de gênero no setor da indústria marítima.

Quando questionadas sobre qual poderia ser a solução para cada um dos temas apresentados, houve consenso de que visibilidade e representatividade são muito importantes. As participantes também citaram a necessidade de um olhar mais humanizado para o desenvolvimento de pessoas, o apoio entre as mulheres para a divulgação dos seus trabalhos, entre outros.  

No encerramento, as participantes demonstraram o interesse em fazer crescer a iniciativa, lançar novos encontros eestimular que mais empresas apoiem o tema. “Dada a potência e impacto, reforçando a relevância de colaboração entre as empresas do setor, queremos seguir mobilizando as mulheres do mercado com momentos de profunda reflexão, em breve, com novos encontros onde poderemos juntas debater caminhos, propor e comprometermo-nos com ações, destacou Aline Carvalho, gerente executiva da área de gente e gestão da Norsul, que foi a mediadora dos painéis.






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