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Mineradoras vão além do lençol freático

Em um dos lugares mais secos do mundo, mineradoras como a Rio Tinto PLC estão sofrendo com um problema sério: água demais. À medida que exploram depósitos de minério de ferro de fácil acesso em Pilbara - uma região rica em minerais no Estado da Austrália Ocidental -, as grandes mineradoras estão gastando bilhões de dólares para perfurar cada vez mais fundo, com o objetivo de atender ao apetite da Ásia por matérias-primas. Elas buscam vastas reservas de minério que se encontram abaixo do lençol freático, geralmente localizadas a centenas de metros abaixo da superfície.

Trazer esse minério para a superfície reduziria os temores de que uma recuperação econômica mundial possa colocar pressão sobre a oferta de minerais e resultar em uma forte alta nos preços das commodities, potencialmente debilitando o crescimento. Na remota Pilbara, que responde por dois quintos das exportações de minério de ferro do mundo, a demanda elevada, particularmente da China, está virando um problema tanto para as mineradoras quanto para os reguladores ambientais. Elas precisam encontrar uma maneira de se livrar de enormes volumes de água das minas sem colocar o meio ambiente em risco.

A Rio Tinto, segunda maior produtora de minério de ferro do mundo, depois da Vale SA, diz que pode ter encontrado uma solução: plantar feno. A empresa deve decidir até o fim do ano se vai gastar US$ 5 bilhões para aumentar em 25% sua produção de minério de ferro em Pilbara, em parte com a perfuração abaixo do lençol freático. Já rejeitou algumas ideias menos ortodoxas para lidar com o excesso de água do solo - ou porque elas custariam muito caro ou porque não consumiriam volumes suficientes.

As propostas rejeitadas incluíram a construção de parques aquáticos, cervejarias, e até mesmo o congelamento do solo - o que não seria fácil em uma região onde as temperaturas podem superar 50 graus centígrados. A Rio Tinto informou ter considerado mais seriamente engarrafar água para consumo humano, mas descartou a ideia por preocupações com a qualidade. Mas há muito gado que pasta nas proximidades da mina da Rio Tinto em Marandoo, a cerca 16 horas de Perth, capital do Estado da Austrália Ocidental. A Rio Tinto tem fazendas em Pilbara há quase duas décadas para gerar receitas com terras ainda não exploradas.

A criação de gado, que demanda suprimentos constantes de comida e água, é um desafio numa área em que a precipitação média anual é de 312 milímetros, menor que a precipitação anual do Sertão dos Inhamuns, no sudoeste do Ceará.

A Rio Tinto, cujo lucro no primeiro semestre alcançou um total de US$ 1,72 bilhão, pode absorver a despesa, mas agricultores individuais da região às vezes não têm a mesma sorte.

A mineradora acha que as águas nas profundezas subterrâneas poderiam ser a resposta. Testes em pequena escala já estão em andamento na mina de Marandoo, onde a empresa estima que a água do poço pode fornecer irrigação suficiente para produzir 25.000 toneladas de feno a cada ano. O que não for ingerido pelas 25.000 cabeças de gado nos seis campos de pastagem da empresa em Pilbara será vendido para agricultores locais.

"Estamos de olho nesse projeto, e certamente há potencial", disse Dale Park, presidente da Federação dos Agricultores da Austrália Ocidental. "Isso poderia fazer uma grande diferença para alguns produtores de gado."

Robin Chapple, membro do partido ambientalista Greens da Austrália, expressou dúvidas sobre a viabilidade a longo prazo do uso da água excedente da mineração para a agricultura. "Algumas minas só vão durar sete ou oito anos, onde você vai buscar água depois que as minas fecharem?", disse.

Em um artigo técnico recente, os membros do conselho de administração da Rio Tinto Garrick Field e Mike Harold disseram que a empresa estava estudando a ideia de perfurar abaixo do lençol freático e usar o excesso de água para o cultivo com "cautela". A Rio Tinto se preocupava com a ideia de se afastar de suas atividades comerciais normais. Além disso, a água produzida como subproduto de tal perfuração, o que pode custar caro e exigir muito tecnicamente, pode variar de fresca a muito salgada, o que limitaria seu uso.

Mas a Rio Tinto disse que a possibilidade de manter a mina de Marandoo funcionando por mais 16 anos, até 2030, explorando depósitos mais profundos, foi mais forte que as preocupações. A empresa também obteve a aprovação do governo para expandir a exploração da mina vizinha Nammuldi, onde cerca de 80% do minério de ferro está agora abaixo do lençol freático.

Além de usar a água de mina para cultivar feno, a Rio Tinto informou que planeja fornecer água para a cidade vizinha de Tom Price e reabastecer um aquífero local. Devido às grandes distâncias envolvidas, o transporte de água a cidades e portos maiores seria proibitivamente caro.

À medida que cavam mais fundo, outras grandes produtoras de minério de ferro também enfrentam o dilema de decidir o que fazer com a água. A Fortescue Metals Group Ltd. informou que várias de suas minas em Pilbara, incluindo sua operação em Chichester, vão extrair minério abaixo do lençol freático. A BHP Billiton Ltd. também informou que está extraindo minério abaixo do lençol freático.

O governo do Estado da Austrália Ocidental autorizou as mineradoras a bombear um total de cerca de 700 bilhões de litros de água por ano de camadas inferiores ao lençol freático, o dobro do nível de dois anos atrás. "Tenho certeza que veremos muito mais atividades como essa", diz Bruce Simpson, um funcionário do Departamento de Desenvolvimento do Estado da Austrália Ocidental. "Faz muito sentido usar o que até aqui era um recurso amplamente desperdiçado."

Fonte:Valor Econômico/The Wall Street Journal | De Karratha, Austrália



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