A Marinha informou que o principal suspeito do vazamento de óleo que atingiu a costa do Nordeste é um navio-tanque de bandeira grega, que saiu de um terminal de carregamento de petróleo na Venezuela. O navio Bouboulina, da Delta Tankers, passou perto da costa brasileira com destino à África do Sul no período em que ocorreu o derramamento. A autoridade marítima diz que o acompanhamento do Centro Integrado de Segurança Marítima (Cismar) atesta que aquele navio manteve seus sistemas de identificação automática (AIS) alimentados, porém não houve qualquer comunicação à Marinha brasileira sobre o derramamento. A suspeita dos investigadores é que esse acidente ambiental tenha ocorrido entre os dias 28 e 29 de julho.
Em comunicado na manhã desta sexta-feira (1), a autoridade marítima detalhou que a avaliação ocorreu após análise de imagens de satélites e estudos da influência das correntes oceânicas, verificação do tráfego marítimo, além do emprego de geointeligência e a análise química dos resíduos encontrados. De acordo com a Marinha, estudos realizados pelo seu centro de hidrografia (CHM) junto a universidades e instituições de pesquisa possibilitaram a determinação de uma área inicial de possível ocorrência do descarte de óleo e, com dados sobre o tráfego marítimo obtidos pelo Cismar, a Marinha chegou a um número de 1100 embarcações e, posteriormente, 30 navios-tanque.
Segundo a Marinha, o óleo coletado nas praias do litoral nordestino foi submetido a diversas análises em laboratórios que comprovaram ser originário de campos petrolíferos da Venezuela. Essas informações foram complementadas pela verificação de outros parâmetros, como carga, porto de origem, rota de viagem e informações dos armadores. Durante a investigação, também foram avaliados navios que não transmitiam com seus sistemas de localização (AIS), conhecidos como navios "fantasmas". Entretanto, após verificação de imagens satelitais, eles não foram correlacionados a essa ocorrência.
"O ineditismo dessa ocorrência exigiu o estabelecimento de protocolo próprio de investigação, demandando a integração e coordenação de diferentes organizações e setores da sociedade. A Marinha do Brasil, a Polícia Federal e demais colaboradores permanecerão conduzindo a investigação até que todas as questões envolvidas sejam elucidadas", diz o comunicado.
Operação PF — Nesta sexta-feira, a Polícia Federal deflagrou uma operação para apurar a origem e autoria do vazamento de óleo que atingiu mais de 250 praias nordestinas brasileiras desde o último dia 30 de agosto. Na operação 'Mácula' são cumpridos dois mandados de busca e apreensão na cidade do Rio de Janeiro, expedidos pela 14ª Vara Federal Criminal de Natal (RN), em sedes de representantes e contatos da empresa grega no Brasil. Os mandados foram cumpridos nos escritórios da Lachmann Agência Marítima e Witt O´Brien´s Brasil. As empresas informaram, na tarde desta sexta-feira (1), que não são alvo da operação e destacaram que estão à disposição das autoridades brasileiras e que contribuirão com as informações solicitadas pelas autoridades.
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A Polícia Federal informou que a embarcação, de bandeira grega, atracou na Venezuela no dia 15 de julho, permaneceu por três dias, e seguiu rumo a Cingapura, pelo oceano Atlântico, vindo a aportar apenas na África do Sul. O derramamento investigado teria ocorrido nesse deslocamento. "O navio grego está vinculado, inicialmente, à empresa de mesma nacionalidade, porém ainda não há dados sobre a propriedade do petróleo transportado pelo navio identificado, o que impõe a continuidade das investigações", ressalta a PF. O nome da operação de hoje foi dado pois a palavra 'mácula' significa sujeira e impureza. Mais de mil toneladas de material poluente já foram retiradas das praias brasileiras.
A PF destacou que as investigações, iniciadas em meados de setembro, ocorreram em ação integrada com a Marinha, o Ministério Público Federal, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a Universidade Federal da Bahia, Universidade de Brasília e Universidade Estadual do Ceará, além do apoio espontâneo de uma empresa privada do ramo de geointeligência.