O avanço da pandemia no Brasil não afetou as expectativas de produção da Shell no Brasil para este ano. O presidente da companhia no país, André Araujo, afirmou nesta quinta-feira, em Live do Valor, que as metas da companhia estão mantidas para este ano e ressaltou que, no primeiro trimestre, a produção de óleo e gás ficou acima do previsto. Araujo também reforçou a pauta de buscar um regime único de exploração e produção nas licitações de ativos no Brasil e afirmou que a companhia estará preparada para olhar oportunidades competitivas, mesmo considerando os efeitos da covid-19.
“Nossas metas estão mantidas por enquanto. No primeiro trimestre produzimos acima da meta. Fechamos o primeiro trimestre com produção operada e não operada de pouco acima de 400 mil barris de petróleo por dia”, disse.
PUBLICIDADE
O executivo ressaltou que, mesmo durante a pandemia, as operações da petroleira no país continuam a plena atividade, com o término da perfuração em Gato do Mato, na Bacia de Santos, “de forma bastante segura”, e a migração da sonda para Saturno, também em Santos. “Temos capturado tudo o que tem acontecido, apesar da pandemia.” Ele lembrou ainda que nos ativos operados do BC-10 e de Bijupirá e Salema, na Bacia de Campos, a empresa teve recorde de produção nos últimos meses.
Araujo também afirmou que está “otimista” com relação às discussões sobre a adoção de um regime único de exploração e produção de óleo e gás no Brasil. “Espero que aconteça e eu espero que mude. A pauta de um regime único é uma pauta da indústria e a gente continua trabalhando nesse assunto.”
Ele destacou que ontem esse assunto foi levado ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, através do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP). “Fiquei bastante otimista com a resposta que o ministro passou, que buscar formas competitivas de trazer esse tema”, afirmou Araujo, acrescentando que o que mais importa são contratos competitivos. “Ter um regime único de concessão claramente é uma direção para se ter um ambiente competitivo”, acrescentou.
O executivo destacou que, nesse momento em que as empresas do setor precisam se adaptar a um cenário de investimento mais baixo, os recursos vão migrar para países mais atrativos. “Tenho sim, como brasileiro, a expectativa de que o Brasil vai continuar na liderança de competitividade”, disse.
Araujo elogiou a decisão do governo de adiar os leilões de óleo e gás marcados para 2020. Segundo ele, a decisão não surpreende e o fato de não ter leilão em 2020 foi uma escolha “sábia” do ministro. “Ter um leilão que não traz competitividade não faz muito sentido”, frisou, lembrando que nos próximos anos a tendência das companhias do setor será de maior controle de caixa. “Não vamos deixar de olhar propostas boas. Boa parte das primeiras medidas que Shell fez foi para manter a companhia resiliente, com caixa, e parte desse caixa é para olhar o futuro da organização também.”
Sobre as medidas decorrentes da eclosão da covid-19 no mundo, o presidente da Shell Brasil afirmou que, assim que foi declarada a pandemia, a companhia definiu globalmente três novos pilares: cuidado com saúde e segurança, continuidade das operações e preservação do caixa. Araujo afirmou que, diferentemente de outras crises da indústria de petróleo, essa não vem da oferta ou da demanda, mas de ambas.
“A gente está muito acostumado com crise. As crises que aconteceram ao longo dos últimos anos estavam relacionadas ou à demanda ou à oferta. Nesse caso específico da covid, o nosso setor foi impactado nas duas áreas”, disse. “Primeiro com guerra de preços entre Arábia Saudita e Rússia tentando trazer seus países para um market share maior e querendo demonstrar a importância dos seus ativos, o que trouxe para uma queda de preços de óleo e gás que se iniciou antes mesmo da declaração da pandemia”, acrescentou. Ele lembrou que, depois de declarada a pandemia, o que se observou foi um redução “drástica” da demanda em todos os países.
Araujo citou dados da IHS que apontam que em abril houve uma sobreoferta de 17 milhões de barris por dia no mercado, o que o executivo considerou “sem precedentes”. Perguntado sobre os ajustes feitos pela Shell no mundo, ele lembrou que houve determinação de redução de investimentos de US$ 9 bilhões, além da confirmação do plano de desinvestimento da empresa, que totaliza US$ 10 bilhões.
Além disso, ele frisou que a companhia fez uma mudança no pagamento de dividendos, na primeira alteração que a companhia faz no posicionamento da remuneração aos acionistas desde a Segunda Guerra Mundial.
“É um momento crítico e a gente precisa ter a companhia saindo mais fortalecida desse processo”, disse, lembrando ainda que os bônus de 2020 foram zerados. “Não ficou ninguém de fora. Democraticamente, todo mundo tem que dar sua contribuição para a companhia ser fortalecida.”
No Brasil, houve suspensão de novos contratos, o recrutamento passou a ser focado somente em casos críticos e há uma revisão em andamento da política de expatriação. “Vamos continuar olhando formas de revisão regulares do nosso ativo, agora bastante pressionado por preço de petróleo em patamar diferente.”
O executivo também comentou sobre o mercado de gás e disse considerar “imperativa” a aprovação da lei do novo mercado de gás.
“A aprovação do novo mercado de gás é imperativa, é aquela que traz o norte para o setor. Seguramente há vários outros aspectos que precisam ser definidos, particularmente a questão do transporte do gás, de entrada e saída, tem vários pontos que precisam ser endereçados, mas a aprovação da lei do novo mercado de gás vai trazer seguramente esse cenário positivo”, disse. “O que temos feito enquanto isso é trabalhar com o que temos”, disse, lembrando o projeto Marlim Azul, em Macaé, com início de operação previsto para 2023.
O presidente da Shell Brasil disse ainda que o mercado de energia é um bom vetor para contribuir para a expansão do mercado de gás natural. “As indústrias de óleo e gás estão colocando projetos que tem a perspectiva de trazer volume de gás maior para o mercado e a gente precisa fazer esse gás escoar.”
Questionado sobre o cenário para as energias renováveis, Araujo disse que a pandemia não mudou a visão da Shell sobre o futuro do setor. “A mensagem que o grupo tem passado é que isso não é problema, isso é a realidade. Apesar da pandemia, o grupo Shell colocou agora, no dia 14 ou 16 de abril, a sua nova ambição de carbono. E nessa ambição de carbono, claramente, entre alguns pilares, tem uma ambição bastante agressiva que é as emissões líquidas de carbono em 2050 nas nossas operações vão ser zeradas”, afirmou. “Claramente a mensagem que temos é que a sociedade está mudando e a gente precisa estar muito pronto para atender os nossos clientes.”
Fonte: Valor