Metas globais de neutralidade de carbono disparam produção científica e soluções comerciais com foco em descarbonização
Um estudo conduzido pela consultoria BIP em parceria com o IBP, por meio da Gerência de Análise Técnica e do hub de inovação iUP, identificou as principais tendências tecnológicas no setor de óleo e gás com foco em descarbonização.
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O estudo Radar de Tendências em Descarbonização para a Indústria de Óleo e Gás destaca a produção científica global, incluindo o Brasil, patentes depositadas e as soluções comerciais existentes para o desenvolvimento de soluções inovadoras voltadas para a agenda de descarbonização na indústria de O&G.
O estudo tem foco em quatro áreas temáticas da indústria de O&G direcionadas à essa nova realidade: (i) biocombustíveis sintéticos; (ii) energia eólica offshore, (iii) alteração de processos produtivos, de monitoramento e de máquinas (gêmeos digitais, eletrificação de plataformas offshore, mitigação de vazamento de metano, turbinas e gás com ciclo combinado com captura de carbono; (iv) captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS), além de uma avaliação de estratégias de retenção e atração de talentos para o setor.
“O objetivo do estudo foi analisar como o meio acadêmico e as organizações estão atravessando um novo cenário em que se observa um aumento de consumo de produtos derivados de petróleo, de um lado, e, de outro a exigência para o cumprimento das metas globais de neutralidade de carbono até 2050, estipuladas pelo Acordo de Paris. Pelos números, conseguimos ver que há um boom na produção científica e de inovações comerciais direcionadas à descarbonização da índustria de O&G. São soluções cada vez mais escaláveis e viáveis financeiramente, demonstrando alta competitividade do mercado”, avalia Cristiane Moura, líder do Centro de Excelência em Inovação & Sustentabilidade da BIP Brasil.
Ao todo, foram mapeados 48 mil artigos científicos publicados globalmente por 50 instituições (universidades e corporações), encontradas mais de 180 mil patentes depositadas em todas as temáticas analisadas no radar e identificados modelos de negócios e soluções inovadoras em descarbonização, desenvolvidos por 80 startups e empresas, entre as quais 11 atuantes no Brasil.
As tecnologias de captura e armazenamento de carbono, CCUS (Carbon Capture, Utilisation and Storage), têm sido as mais exploradas com 81.538 soluções (77.383 patentes e 4.155 artigos científicos). Em seguida, foram encontradas 44.426 soluções para Mitigação, Monitoramento e Detecção de Vazamentos de Metano (44.200 patentes e 226 artigos científicos). A quantidade relativamente maior de patentes em comparação a artigos científicos demonstra a prioridade de aplicação prática das tecnologias associadas a este tópico.
Já a temática de Eólica Offshore possui o maior número de publicações científicas (14.278), além de 14.659 patentes. A maturidade consolidada das tecnologias associadas à energia eólica permitiu o desenvolvimento de um ecossistema (acadêmico e corporativo) robusto de PD&I nesta temática, comprova o estudo.
Um número menor de publicações é direcionado às Turbinas a Gás de Ciclo Combinado com Captura de Carbono (720), Gêmeos Digitais com aplicação em O&G (362), Mitigação, Monitoramento e Detecção de Vazamentos de Metano (226), Combustíveis Sintéticos e Reciclagem de Carbono (119). O estudo ressalta que a exploração recente de Combustíveis Sintéticos e Reciclagem de Carbono pode ser uma das causas do número ainda discreto das investigações. A temática emergente, contudo, já demonstra movimentação prioritária rumo a soluções aplicáveis e uma corrida comercial de proteção de PI, antecipando o potencial de competitividade desses combustíveis como alternativas em descarbonização, ao lado do hidrogênio e amônia.
Ranking
China e Estados Unidos são líderes no ranking de publicações, no depósito de patentes e em soluções comerciais em praticamente todas as temáticas analisadas, seguidos por Alemanha e Reino Unido. A China, contudo, demonstra maior crescimento recente na produção de conhecimento científico quando comparada aos demais players, com picos de publicação nos últimos dois a quatro anos em diversas temáticas.
O Brasil é o 4º país que mais publica artigos em Eletrificação de Plataformas Offshore, mas contribui de forma mais discreta com outras temáticas, como CCUS, Turbina a Gás de Ciclo Combinado com Captura de Carbono, Minimização de Queima de Gás, Energia Eólica Offshore e Gêmeos Digitais. O Brasil também tem posição de destaque em depósito de patentes nas temáticas de Mitigação, Monitoramento e Detecção de Vazamentos de Metano (com mais de 50 patentes depositadas), CCUS (mais de 20 patentes) e Gêmeos Digitais (mais de 20 patentes). Em nível nacional, a Petrobras lidera a produção de patentes, seguida de empresas como Vale, Embraer, Braskem, Klabin, Bosch e NeoGás.
“O Brasil segue uma tendência mundial e vem em ritmo de crescimento em produção de artigos científicos e soluções comerciais inovadoras que têm uma relação direta com a otimização de processos de captura e conversão de CO? e H2 em produtos utilizáveis. Também tem destaque o desenvolvimento de novos materiais para os ambientes envolvidos nos processos de descarbonização”, ressalta Cristiane Moura.
O estudo revela, contudo, que, em várias das temáticas analisadas, o Brasil demonstra não possuir parcerias internacionais robustas em pesquisa, com exceção dos EUA, com quem possui forte ligação na produção de artigos em Turbina a Gás de Ciclo Combinado com Captura de Carbono.
Como conclusão, o radar indica que a superação dos desafios em descarbonização no setor de O&G pode ser acelerada com investimento em PD&I contínua e exploração dos agentes do ecossistema nacional e global, buscando parcerias estratégicas na resolução de problemas comuns e no desenvolvimento ágil de soluções sustentáveis, escaláveis e financeiramente viáveis.
No tocante à atração e retenção de talentos para o futuro, os esforços do setor em direção à transição energética e práticas de descarbonização mostram-se essenciais no longo prazo, ou seja, a indústria de O&G deve abraçar o seu papel como facilitadora da transição energética, investindo em pesquisa e desenvolvimento de fontes de energia alternativas e trabalhando em conjunto com governos e sociedade para criar um futuro energético mais limpo e seguro.