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Indústria do petróleo está atrasada na digitalização, especialmente no Brasil

O futuro da indústria do petróleo está na digitalização da operação e gestão das empresas. Vai chegar o dia em que poucos funcionários vão habitar as plataformas de produção em alto mar. As embarcações vão ser comandadas dos escritórios, em solo firme. Defeitos em equipamentos vão ser facilmente detectados e acidentes pouco vão ocorrer. Com óculos especiais, um único trabalhador embarcado já é capaz de contar com a ajuda de uma equipe técnica de qualquer local do planeta apenas reproduzindo pelas suas lentes a imagem dos locais por onde passa. A tendência, portanto, é que a produção de petróleo se torne mais segura e barata.

A má notícia é que as empresas petrolíferas estão atrasadas neste processo e as brasileiras, ainda mais. A tecnologia é viável. Falta aplicar.


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Numa escala de 1 a 5, o nível de maturidade das 16 maiores companhias do setor, com matrizes na Ásia, Europa e Américas, é de 2,7, um número considerado intermediário. A pontuação do Brasil está abaixo desta média. Esse resultado foi calculado em pesquisa da consultoria internacional Bip, que entrevistou executivos em cargos de liderança. Segundo o estudo, algumas empresas globais de óleo e gás já se preparam para esse salto. Outras, porém, ainda gastam muito tempo na coleta e análise de dados.

No Brasil, o processo demorou a começar e há desafios, sobretudo, em recursos humanos. O mercado carece de profissionais especializados no desenvolvimento de soluções digitais. Já a China, Estados Unidos e países da Europa começaram o movimento antes e estão na dianteira do processo.

A China, que passa por um boom tecnológico em todos os setores, tem saído na frente na utilização de sistemas de armazenamento de dados em nuvens. Supercomputadores estão sendo substituídos pela internet e muitas informações passaram a ser gerenciadas por fornecedores especializados, como Microsoft, Amazon e Google.

"Com a nuvem, toda a parafernália de equipamentos passa a ser terceirizada. Os ganhos são imensos. Os custos de manutenção caem. Essa é uma grande tendência na indústria", disse Murilo Maciel, gerente da Bip, responsável pelo projeto de mapeamento da maturidade digital de grandes empresas.

Precisão
Ele conta que, com o uso de tecnologias digitais, é possível reduzir a quase zero o risco de uma empresa perfurar um poço e não encontrar petróleo. Isso representa uma economia milionária, apenas por evitar a contratação desnecessária de sondas de perfuração. Apenas com uma amostra do solo, o reservatório pode ser mapeado, reduzindo o prazo de exploração das áreas e aumentando os ganhos com uma produção antecipada.

Nas refinarias e plataformas, sensores são capazes de antecipar o desgaste de equipamentos e se antecipar paradas desnecessárias, que gerariam perda de produção e dinheiro.

A digitalização é apontada como uma solução também para acelerar a transição energética. Esse tem sido o foco do interesse, principalmente, das petrolíferas europeias. "Elas acreditam que a digitalização vai ajudar nessa direção e traçaram estratégias neste sentido. Mas ainda faltam exemplos", avalia Pedro Souza, líder de Óleo e Gás da Bip.

A anglo-holandesa Shell diz que a digitalização traz oportunidades na casa dos bilhões de dólares. "A Shell já faz uso de praticamente todas as tecnologias digitais. O que varia é a intensidade desse uso, que depende da maturidade atingida até aqui. A companhia tem centros de excelência em diferentes partes do mundo, onde trabalha com parceiros, startups e universidades", afirmou Adriana Moreira, gerente de Tecnologia da Informação da empresa no Brasil.

A Petrobrás, em relatório para investidores dos Estados Unidos, informou que tem apostado em startups internas para inovar. Em 2020, selecionou 15 propostas para o desenvolvimento de soluções por essas startups. A petrolífera estatal ainda criou uma academia de transformação digital para qualificar seus funcionários para as transformações

Segundo a Bip, a pesquisa com executivos de petrolíferas do mundo todo revela que os trabalhadores próprios, em geral, estão sendo preparados para lidar com as novas tecnologias. O problema está nos terceirizados. Com o crescimento da automação na indústria do petróleo, a tendência é que o número de vagas de trabalho caia. É preciso investir na educação para evitar uma crise no mercado de trabalho.

"Acredito que as empresas estão atuando para qualificar seus empregados, mas não o suficiente. Elas se preocupam muito com os próprios, mas dependem muito dos prestadores de serviços, que devem evoluir no mesmo ritmo. É preciso pensar em incentivos aos fornecedores para qualifiquem a mão de obra", analisa Souza.

Fonte: Estadão






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