Apesar da alta mais forte do que a esperada no quarto trimestre, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), medida do investimento dentro do Produto Interno Bruto (PIB), teria caído de 3,4% a 8% no acumulado de 2020 sem o efeito contábil da importação de plataformas de petróleo, segundo estimativas de três instituições financeiras.
Para o Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), o resultado do investimento no quarto trimestre, que avançou 20% ante o terceiro trimestre e 13,5% em relação a um ano antes, surpreendeu mais pela composição do que pelo tamanho da alta.
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“A magnitude de crescimento do investimento já era esperada pelo crescimento da produção doméstica de bens de capital e principalmente pela importação de plataformas, que foi muito forte em dezembro. Mas chamou a atenção o descasamento entre o forte crescimento do investimento e a queda da importação”, ambos contra um ano antes, afirma Luana Miranda, pesquisadora de economia aplicada do Ibre.
Ela destaca que, pela comparação com os últimos três meses de 2019, a FBCF avançou 13,5%, enquanto as importações caíram 3,1%, ante uma projeção de alta 7% do Ibre para o último item. É justamente na linha importação é que estariam computadas as plataformas e, portanto, onde se esperaria crescimento e não queda, observa Luana.
“É a primeira vez que vemos alta do investimento com queda da importação. Vale a ressalva que, para o IBGE, não é fácil contabilizar isso, porque há as plataforma antigas do regime Repetro e também as novas”, afirma.
No resultado fechado de 2020, a projeção do Ibre é que o investimento “real”, sem as plataformas de petróleo, mostraria recuo de 8% ante 2019. Já o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta, em exercício semelhante, uma queda de 4,8% do investimento ao longo do ano passado.
Só em dezembro, o Ipea calcula que a FBCF subiu 22,2% ante novembro, com ajuste sazonal. Desagregado, o dado mostra que a produção nacional de máquinas e equipamentos recuou 10,2% no intervalo, enquanto a importação aumentou 304,4%.
“[Isso ocorreu] devido à realização de importações de plataformas de petróleo no valor de US$ 4,8 bilhões, que ainda podem estar associados às mudanças no regime aduaneiro Repetro – cujo prazo final para as chamadas ‘importações fictas’ era dezembro de 2020”, diz relatório do economista Leonardo Mello de Carvalho, do Ipea.
No acumulado em 12 meses, a demanda interna por máquinas e equipamentos, que corresponde à produção nacional somada às importações, encerra o ano de 2020 com queda de 1,1%. De acordo com o Ipea, os investimentos em construção civil retrocederam 3,3% em dezembro em relação a novembro, na série dessazonalizada.
Ainda assim, o segmento registrou um avanço de 0,6% no quarto trimestre, encerrando 2020 com baixa de 1,2%. Na média, assim como divulgado nesta quarta-feira pelo IBGE, o Ipea calcula que o investimento terminou o ano em -0,8%.
Para o Itaú Unibanco, o investimento mostraria queda de 3,4% em 2020 sem as plataformas de petróleo. No quarto ante o terceiro trimestre, o avanço de 20% diminuiria o ritmo para 12%.
“Excluindo as plataformas, ainda temos uma taxa de 12%. O que puxa essa melhora é o mercado imobiliário, que mostrou expansão muito relevante no cenário de juros baixos, e a alta do preços de commodities, porque, historicamente, o ciclo de investimentos é correlacionado com o das commodities”, afirma Luka Barbosa, economista do Itaú.
Fonte: Valor