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Pemex, de galinha dos ovos de ouro a ralo de dinheiro

No fim de 2016, a Pemex apresentou uma nova estratégia: passaria a dedicar-se exclusivamente a atividades lucrativas.

O plano, algo óbvio para a maioria das empresas, era novidade para a petrolífera estatal mexicana, um grande nome nacional criado em 1938 depois de o México ter expropriado ativos petrolíferos dos Estados Unidos e Reino Unido. Embora o plano tenha levado as seis refinarias do país a usar apenas as metade da capacidade instalada, a Pemex finalmente voltou ao azul depois de anos de prejuízos.

O grupo foi criado como símbolo da soberania nacional e a população mexicana contribuiu doando de tudo
Nos dias atuais, Andrés Manuel López Obrador, presidente do país desde 2018, que aposta o destino do país na Pemex, voltou a direcionar a empresa para o outro rumo - mesmo diante da crise do coronavírus e do colapso nos preços do petróleo.

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Na quinta-feira, a empresa divulgou prejuízo trimestral de US$ 23 bilhões, um dos maiores na história empresarial. Pelas cotações atuais suas operações não dão lucro, nem na área de exploração nem na de pós-produção. O prejuízo anual de 2019 já dobrou para US$ 18 bilhões e o grupo acumulou dívidas de US$ 105 bilhões, além de um passivo previdenciário não financiado de US$ 77 bilhões. Em abril, a Moody’s seguiu os passos da Fitch e rebaixou o rating dos títulos de dívida da empresa para “junk”, que indica investimentos especulativos e de alto risco.

Em comunicado à Securities and Exchange Commission (SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA), a Pemex reconheceu que sua firma de auditoria, a KPMG, expressou “dúvidas substanciais [...] quanto à nossa capacidade de continuar como empresa com viabilidade operacional”.

Mas enquanto outras petrolíferas reduzem a produção e investimentos para enfrentar a tempestade, López Obrador mostra poucas intenções de se desviar de sua promessa de reanimar a Pemex interrompendo a sequência de 15 anos de quedas na produção.

“A Pemex está escrevendo a cartilha sobre o que não se deve fazer”, disse Pablo Medina, da empresa de consultoria Welligence, em Houston.

Resistindo às pressões para acompanhar os cortes de produção de quase 25% prometidos por outros países em encontro encabeçado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) em abril, López Obrador aceitou relutantemente uma redução diária de apenas 100 mil barris, cerca de 6%.

O presidente também se comprometeu a praticamente dobrar a capacidade de refino para 1 milhão de barris por dia até maio, apesar de que as deficitárias refinarias da Pemex tiveram o menor uso da capacidade instalada na história em fevereiro, de 28%, e de que a Pemex teve custo médio de US$ 12,51 no primeiro trimestre para refinar o barril de petróleo.

“Com o Brent a US$ 20, não há um único campo no portfólio da Pemex que seja lucrativo se você considerar custos e impostos [...] No segmento de exploração, eles já perdem simplesmente ao produzir”, afirma Medina. “Agora, eles estão obrigando a Pemex a ter mais prejuízo em suas operações de pós-produção, já que as margens estão negativas. Tudo em nome de uma demanda que pode não existir”, disse.

O motivo para a obstinação de López Obrador é que a Pemex sempre foi algo a mais do que apenas uma petrolífera. O grupo foi criado como símbolo da soberania nacional e a população mexicana contribuiu doando de tudo, desde galinhas e joias até os cofres de porquinhos dos filhos, para pagar pela expropriação e “consolidar a independência do México”.

A descoberta do gigantesco campo de Cantarell em 1976 transformou a Pemex na galinha dos ovos de ouro do México. A produção atingiu o pico de 3,4 milhões de barris diários em 2004. Em 2019, foi de apenas 1,7 milhão de barris, quase 8% a menos do que no ano anterior.

Pelo acordo com a Opep, o México reduzirá a produção para 1,681 milhão de barris diários, embora a meta de produção do governo para 2020, incluída no cálculo do orçamento, seja de 1,85 milhão de barris por dia, de forma que a Pemex dará aos cofres nacionais uma receita inferior à prevista.

Com os declínios na produção, a Pemex custeou apenas 11% do orçamento nacional em 2019, cerca de 25% do que contribuiu para os cofres do governo em 2008, mas, com os investimentos governamentais para ampliar a produção, López Obrador vê a gigante estatal como um motor para o desenvolvimento nacional.

O presidente de 66 anos, nascido e criado em Tabasco, Estado rico em petróleo, no sudeste do país, durante os anos áureos do México, refez o logotipo da Pemex, de uma cabeça de águia sobre uma gota, adicionando a frase “Pelo Resgate da Soberania”. Isso explica sua ofensiva para reanimar o crescimento da produção em uma empresa que ao longo dos anos deu lucro antes dos impostos de forma sistemática, mas que foi sugada por altos impostos governamentais e assolada pela burocracia e corrupção.

Conseguir elevar a produção custará muito dinheiro. “Acredito que a Pemex precisará de [16 a 19] bilhões de dólares [por ano]’, disse um analista de bônus que não quis ser identificado. “Com os preços do petróleo onde estão agora, a Pemex não está tendo nenhum ebitda [lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização]. É simples matemática. O governo terá que passar alguns cheques bem grandes.”

O Tesouro transferiu US$ 2,6 bilhões à Pemex em abril por meio de um corte de impostos. Além disso, a empresa avisou aos investidores que reduzirá os investimentos em bens de capital em US$ 1,6 bilhão e se dedicará a projetos que tenham a “mais alta lógica econômica”.

“Hoje, mais do que nunca, a Petróleos Mexicanos [Pemex] tem o apoio absoluto do governo do México”, destacou o Tesouro.

A Fitch, que rebaixou a nota de crédito da empresa para “junk” no terceiro trimestre e em duas outras ocasiões em abril, estima um fluxo de caixa negativo de até US$ 20 bilhões por ano para a Pemex.

A empresa tem linhas de crédito de US$ 8 bilhões, que deverão ser usadas totalmente, segundo analistas, já que somente em dívidas há US$ 6,7 bilhões a pagar neste ano. Depois dos cortes no rating em abril, a analista Ariane Ortiz-Bollin, da Moody’s, disse que a empresa agora precisaria de ajuda “recorrente e substancial” do Estado da ordem de 2% a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano.

Em março, no aniversário da expropriação dos ativos petrolíferos, López Obrador gabou-se de ter custos de produção de US$ 4 por barril, mas Medina disse que a média, incluindo impostos e gastos operacionais, é de US$ 32 por barril equivalente de petróleo e, incluindo custos de perfuração, de US$ 47.

Quanto ao refino, “ninguém acredita que eles possam chegar a 1 milhão de barris em maio”, disse um ex-funcionário da Pemex. A capacidade de refino foi de 580,4 mil barris por dia em fevereiro; López Obrador diz que deste então houve um aumento para 800 mil por dia.

Há outro problema: quanto mais as refinarias da Pemex trabalham, mais óleo combustível, de baixo valor, elas precisam produzir, “então o que sai das refinarias vale menos do que o petróleo que entrou”, disse Jorge Andrés Castañeda, consultor na área de fontes de energia. O uso de óleo combustível está em forte queda depois que seu uso foi proibido na navegação.

Além disso, a Pemex tem bem pouca capacidade de armazenamento e corre o risco de ficar sem espaço dentro de semanas, de acordo com analistas.

Reduzir o refino “é algo que não vejo como compatível com a ideologia deles”, disse Ixchel Castro, analista da firma de consultoria sobre fontes de energia Wood Mackenzie.

Diante da queda livre dos preços, um antigo alto funcionário da Pemex disse que o governo deveria suspender o controverso projeto da refinaria Dos Bocas, de US$ 8 bilhões, e “apresentar um plano real de negócios que permita aos investidores compreender aonde se está indo para conseguir ter retornos aos preços de hoje do petróleo”.

É mais fácil falar do que fazer. Como disse um investidor da empresa, “a Pemex é uma bagunça, está ficando pior e eles não têm planos para lidar com a situação”.

Fonte: Valor



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