Ao menos três empresas pretendem avançar nas negociações com a Petrobras para sacramentar a compra de ativos da estatal, mesmo diante da crise provocada pela pandemia da covid-19 e pelo choque de preços do petróleo. A australiana Karoon e a brasileira PetroRio já manifestaram, nas últimas semanas, o interesse em concluir a aquisição dos campos de Baúna e Frade, respectivamente. O Valor apurou ainda que a Starboard, gestora de private equity que controla a 3R Petroleum, especializada em revitalização de campos maduros, também trabalha para fechar ainda neste mês a compra do Polo Macau (RN).
A conclusão da venda do campo de Baúna (Bacia de Santos), Frade (Bacia de Campos) e dos campos terrestres do Polo Macau significa, para a Petrobras, a entrada de cerca de US$ 850 milhões no seu caixa, sem ajustes. Esses três negócios foram precificados antes da crise, num momento em que estavam mais valorizados, e serão concluídos num novo contexto do mercado de óleo e gás, em meio a incertezas sobre o patamar dos preços da commodity nos próximos anos.
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A Petrobras tem, ao todo, nove transações já assinadas, mas ainda pendentes de conclusão. Esses negócios somam US$ 2,75 bilhões, dos quais ela já recebeu US$ 159,5 milhões em adiantamento.
Na semana passada, a Karoon anunciou uma série de cortes de custos, mas destacou que, apesar do impacto de curto prazo da covid-19 nos mercados mundiais, a empresa “continua empenhada” em concluir a aquisição de Baúna”. A australiana alega que o ativo é de “alta qualidade”.
Mesmo com o interesse mantido nos ativos da Petrobras, os compradores, no entanto, podem enfrentar mais dificuldades para viabilizar os negócios nesse momento. A Karoon, por exemplo, esclareceu que a crise trouxe “incertezas significativas” para o financiamento da aquisição. A empresa informou que ainda negocia os termos finais da operação junto aos bancos, dentre eles o preço de referência do óleo que determinará o valor final do empréstimo. A australiana assinou contrato para compra de Baúna por US$ 665 milhões, dos quais já adiantou US$ 50 milhões.
Já a PetroRio se comprometeu a pagar US$ 100 milhões pelos 30% da Petrobras em Frade. O presidente do conselho de administração da PetroRio, Nelson Queiroz Tanure, disse que a companhia tem recorrido à postergação de investimentos e cortes de custos para preservar o caixa, mas que está empenhada em fechar a compra, mesmo num cenário mais adverso.
“Mesmo com a queda dos preços, Frade continua sendo um campo atrativo. Nosso contrato não tem uma cláusula de força maior por causa da queda do preço do petróleo. Não passou pela nossa cabeça desistir do negócio”, afirmou o executivo, em entrevista ao Valor, há duas semanas.
Dias antes, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, já havia dito que o programa de desinvestimentos poderá sofrer atrasos, mas que se mantém “intacto”. Ele afirmou, num evento on-line, que tem a confiança de que os negócios em reta final serão honrados. “Temos confiança, pelo que nos é dado pelos compradores, de que a liquidação financeira ocorrerá no momento que for marcado”, disse.
Castello Branco explicou, na ocasião, que algumas transações ainda têm que obedecer a “condições precedentes”. E citou o exemplo da venda da Liquigás, para a Copagaz e Nacional Gás, que ainda depende do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Os compradores estão firmes, esperando”, reforçou.
Desde o colapso dos preços do petróleo, em março, a Petrobras postergou prazos de alguns desinvestimentos. A estatal, por outro lado, tem colocado novos ativos à venda. Ontem, foi a vez de abrir a venda do campo de gás natural de Manati (BA).
A Petrobras ganhou também mais prazo, até o fim de 2020, para concluir seus desinvestimentos em campos terrestres e em águas rasas. A empresa tinha se comprometido com a ANP a vender seus ativos até meados deste ano. O órgão regulador vem pressionando a estatal, nos últimos anos, a se desfazer dos ativos onde não tem mais interesse em investir.
Fonte: Valor