A Petrobras possui 160 casos confirmados de trabalhadores infectados pelo novo coronavírus, dos quais metade é de funcionários terceirizados. A informação foi divulgada nesta sexta-feira, em coletiva de imprensa pela internet, que contou com a participação do presidente e da diretoria da estatal. O diretor de relacionamento institucional da companhia, Roberto Ardenghy, disse ainda que a petroleira estuda a possibilidade de realizar testes sobre infecção de coronavírus em todos os empregados que vão para as plataformas.
“Estamos estudando [aplicar] testes em todos que vão para plataformas”, disse Ardenghy. “Estamos conversando com Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e fornecedores de teste”, acrescentou.
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A companhia tem no momento duas plataformas que estão com produção interrompida por causa de confirmação de casos de covid-19. O diretor de exploração e produção da companhia, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, disse que a FPSO Cidade de Santos deve retomar a produção no próximo fim de semana. Já a FPSO Capixaba deve retomar a produção dentro de dez dias. As duas unidades são afretadas pela Petrobras.
A pandemia trouxe ainda dificuldades para a empresa no lado financeiro, principalmente por causa do tombo nas cotações do barril de petróleo. A diretora financeira e de relações com investidores da Petrobras, Andrea de Almeida, disse que dificilmente a companhia conseguirá atingir a sua meta de desalavancagem para 2020, mas ressaltou que ainda é cedo para se traçar novos compromissos de redução da dívida com o mercado, no momento.
“Ainda não conhecemos, de fato, o cenário que vamos viver durante o ano todo. O que sabemos é que vai ser difícil atingir a meta de desalavancagem de 1,5 vez a relação dívida líquida/Ebitda [lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização]. Fazer projeções sobre dívida é muito difícil agora”, afirmou.
A executiva disse que, se for necessário, a companhia recorrerá a novas linhas de crédito para fortalecer o seu caixa, durante o momento de crise do petróleo. No mês passado, a Petrobras sacou cerca de US$ 8 bilhões em linhas compromissadas. “Temos trabalhado para manter a liquidez da companhia. Se necessário for avaliarmos novas linhas de crédito, nós vamos. Mas o foco mais importante, agora, é reduzir custos”, disse.
Ela destacou que a empresa vem tomando “todas as medidas necessárias” para lidar com a situação, citando os esforços da petroleira para reduzir custos e investimentos. Questionada se a empresa fará impairments (redução ao valor recuperável) de seus ativos, frente ao cenário de baixa dos preços do petróleo, a executiva respondeu que os testes de imparidade serão oportunamente divulgados ao mercado. Nesse momento de incertezas, segundo ela, ainda não é possível definir “um novo cenário para a empresa”.
Também na coletiva on-line, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, reafirmou que a companhia não praticará demissões em massa. Com relação a demissões de terceirizados da companhia, porém, o executivo indicou que este é um assunto das empresas que prestam serviço à estatal.
“Sobre [demissões de] terceirizados, essa pergunta tem que ser endereçada a essas empresas, não à Petrobras”, disse Castello Branco, que criticou informações sobre demissões em massa na estatal. “O ônus da prova fica a quem acusa. Desafio alguém a mostrar provas de que a Petrobras está demitindo em massa”, afirmou o executivo. “A Petrobras não tem planos de fazer demissão em massa.”
Ele também frisou que a companhia só pretende negociar ajustes contratuais com grandes fornecedores, com musculatura para enfrentar a atual crise. Não há previsão de renegociar contratos com pequenos fornecedores. “Não queremos que os fornecedores pequenos desapareçam. Queremos que eles continuem fornecendo bens e serviços que necessitamos”, afirmou Castello Branco.
Na outra ponta da cadeia, ele criticou os revendedores de combustíveis, que, segundo ele, não estão repassando para o consumidor final toda a queda do preço dos derivados aplicada pela Petrobras. Ele classificou isso como “lamentável”. “Esperamos que esses fornecedores olhem para o consumidor final, não só para si próprios”, completou.
A questão dos preços nas bombas também foi abordada pela diretora de refino e gás natural da Petrobras, Anelise Lara. A executiva, no entanto, centrou fogo na possibilidade de alta da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), o que, segundo ela, vai tornar a gasolina menos competitiva e acarretará a desorganização na cadeia de fornecimento de combustíveis do país.
“Se houver um novo subsídio para um derivado em prejuízo à competição de outro, isso acarretará em desequilíbrio na cadeia. Vamos ter que produzir menos gasolina e a produção de GLP cai”, disse a diretora, em referência à vantagem competitiva que o etanol ganha com uma eventual elevação da Cide. Ela lembrou que o etanol já tem vantagens com subsídios e ICMS menos e sinalizou ainda que a aumento da Cide pode provocar indiretamente desabastecimento de GLP no país.
Castello Branco acrescentou que a companhia não está pedindo benefícios e privilégios ao governo, enquanto os que chamou de lobistas querem a imposição de imposto de importação sobre a gasolina, que pode ter consequências sérias, como desabastecimento de GLP. “A Petrobras não vai quebrar. Ela vai prosperar. Ela não está pedindo benefício ao governo, não está pedindo privilégios, ao contrário de alguns setores”, disse.
Segundo ele, nesse momento, “capitalistas inimigos do capitalismo” estão fazendo pedidos de impostos de proteção, como o imposto de importação da gasolina. Segundo ele, esse pedido pode trazer consequências sérias. “Uma redução adicional da demanda por gasolina implica em redução da produção de GLP e a necessidade de importação de GLP para abastecer o mercado”, afirmou o executivo. “Isso significará desabastecimento de GLP, especialmente em um momento que há um aumento sazonal da demanda, quando nos aproximamos do inverno”, frisou.
Anelise Lara, diretora da área de refino, reforçou que, neste momento, a Petrobras não está fazendo importações de derivados de petróleo neste momento, com exceção do GLP. “Neste período, estamos vivendo retração muito grande da demanda [por combustíveis]. Não estamos importando derivados para atender mercado interno. A exceção é o GLP”, disse a executiva.
Segundo ela, a utilização que está sendo dada às refinarias é para abastecer mercado interno. Castello Branco, acrescentou que a companhia, por sua vez, continua exportando óleo combustível e diesel, explorando a vantagem competitiva no suprimento de bunker (óleo combustível marítimo).
Já o diretor de exploração e produção da Petrobras, Carlos Alberto Pereira de Oliveira, afirmou que novos cortes de produção de petróleo da empresa vão depender da evolução do cenário de demanda pela commodity. Segundo ele, a produção atual está dentro da ordem de grandeza do corte já anunciado, de 200 mil barris diários e de buscar manter a produção da companhia em 2,07 milhões de barris diários em abril. “A gente faz a administração dia a dia para manter esse valor. Estamos cumprindo com o que a gente falou que iria fazer”, disse ele, acrescentando que a Petrobras decidiu postergar para o segundo semestre as paradas programadas de plataformas para manutenção que estavam previstas inicialmente para a primeira metade do ano.
Oliveira explicou que a empresa adiou os serviços devido às dificuldades impostas às operações, devido à pandemia do novo coronavírus. Ele destacou que, para evitar o contágio de covid-19 nas unidades de produção, a companhia vem adotando procedimentos de segurança que incluem a redução dos efetivos a bordo.
Oliveira destacou, no entanto, que a postergação das paradas não traz impactos para a operação e produção e que a empresa vem operando dentro da meta de produção estabelecida. Ele acrescentou que a petroleira vai aguardar a evolução dos preços do petróleo para então definir se será retomada a operação das plataformas que estão hibernadas.
A companhia sinalizou que os projetos de desinvestimentos de ativos em águas rasas seguem em curso e o presidente, Roberto Castello Branco, reafirmou que o programa de venda de ativos permanece intacto. Segundo ele, nenhum potencial comprador fez contato com a empresa para dizer que perdeu o interesse no processo. Ele reconheceu, porém, que existe possibilidade de alguns processos sofrerem atrasos.
Oliveira disse ainda que a estatal pode eventualmente interromper a produção de alguma plataforma mesmo no pré-sal, se for conveniente fazê-lo devido à situação do mercado. “˜Por algum aspecto, podemos eventualmente cortar [produção de uma plataforma no pré-sal]”, disse o executivo, acrescentando, porém, que uma eventual parada de plataforma no pré-sal “não será para sempre. É temporário”.
Fonte: Valor