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América do Sul amplia esforços pela integração

Congresso que se realiza em Porto Alegre busca avanços na proposta de ampliar relações do continente através dos setores de transporte, de comunicações e de energia

Algo que países mais antigos conquistaram com a União Europeia (apesar da crise financeira que assola alguns de seus membros atualmente) cada vez ganha mais força entre as nações sul-americanas: a integração. No momento, o Rio Grande do Sul é palco de acontecimentos que confirmam essa tendência. Nesta semana, o governador do Estado, Tarso Genro, recebeu uma missão liderada pelo presidente do Uruguai, José Mujica, para tratar do assunto. E nos dias 17 e 18 de novembro representantes de governos, universidades e sociedade civil debaterão o tema durante o VIII Congresso Internacional das Rotas de Integração da América do Sul (VIII Cirias). O evento, que será realizado pelo Comitê das Rotas de Integração da América do Sul (Crias), acontecerá na sede da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs).

Na abertura do congresso, especialistas estarão reunidos para analisar alternativas para os modais aeroviário, de comunicações, energético, ferroviário, hidroviário, portuário, rodoviário e mais alguns tópicos. No dia seguinte, além da apresentação das conclusões, haverá três painéis: o desenvolvimento da América do Sul e a inserção no mundo globalizado; a gestão como instrumento logístico na integração sul-americana; e componentes econômicos, sociais, ambientais e culturais para o desenvolvimento harmônico da região. São esperados para o encontro autoridades de diversas nações sul-americanas e integrantes da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), dos ministérios do Planejamento e Transportes, entre outros.

O presidente do Comitê das Rotas de Integração da América do Sul, Joal Teitelbaum, destaca que a região é carente em todos os segmentos de infraestrutura. Segundo ele, o mais adequado para suprir essas dificuldades é realizar um levantamento completo do que está disponível hoje. Através desse estudo, será possível apontar a melhor forma de produtividade da infraestrutura existente e o que precisa ser realizado ainda.

Depois desse processo, Teitelbaum recomenda a implantação de um planejamento integrado abrangendo os diversos meios de transporte para verificar onde estão os gargalos e as maiores dificuldades. Simultaneamente, ele defende que é preciso debater a forma de concretizar os projetos necessários para corrigir os problemas. “Temos uma esperança bastante grande de que com a ativação do Cosiplan (Conselho de Infraestrutura e Planejamento) dentro da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) possa se alcançar esse plano integrado”, relata o presidente do comitê.

Ele acrescenta que os governos não precisam ser os executores dos empreendimentos, mas têm que ser gestores de governança. “A América do Sul necessita de um sistema de governança na área de infraestrutura”, reitera. De acordo com Teitelbaum, existem vários organismos que podem auxiliar nos estudos de planejamento sobre a integração como, por exemplo, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes).

Em 2011, o Comitê das Rotas de Integração da América do Sul completa 15 anos de atividades. O entrosamento com entidades regionais, nacionais e internacionais e a realização de sete congressos possibilitaram que algumas de suas proposições se tornassem realidade. De suas reuniões com setores do governo e órgãos de fomento foram recomendadas várias ações. Algumas delas em andamento, como a rodovia Bolívia–Chile, ajudam a conexão do território brasileiro e a integração da América do Sul através do modal aéreo, da facilitação do intercâmbio via telefonia móvel e da proposição para que ministros de Energia participem do processo de integração da América do Sul.

Teitelbaum defende a  liderança  exercida por várias nações

Para a integração sul-americana obter êxito não pode haver um único país capitaneando a ação, a liderança precisa ser compartilhada entre as nações, sustenta o presidente do Comitê das Rotas de Integração da América do Sul, Joal Teitelbaum. Ele defende que é essencial criar uma nova mentalidade dentro da região. “Bem distinta do cenário político que estamos acostumados”, argumenta. O dirigente aponta que há uma rivalidade entre os países e, para que as nações possam progredir, é fundamental que o caráter político seja sobrepujado por políticas de estado. “O partido de plantão no governo, naquele momento, não deve imaginar que tudo que foi feito antes está errado”, diz Teitelbaum.

Ele sugere ainda que os governos do continente deveriam aproximar os ministros de pastas similares, como a de Transportes, para debaterem estratégias em comum. “Isso seria o ideal para haver um diálogo dentro de uma agenda permanente”, indica o dirigente. “Quando há um sistema de atuação, se neste processo cometemos algum equívoco, é possível retornar, examinar e corrigir o erro”, ensina.

Entre os projetos de infraestrutura que ajudarão a integração dos países, o executivo cita o Corredor Bioceânico Aconcágua. Através de um sistema de transporte e logística integrados, com os modais ferroviário e rodoviário, o corredor sairá da costa do Pacífico, em Los Andes, no Chile, e chegará a Luján de Cuyo, na Argentina. A construção de túneis permitirá a trafegabilidade durante todo o ano. Atualmente, 83% da carga entre o litoral chileno e os portos do Brasil, Argentina e Uruguai viajam pelo oceano, contornando o Estreito de Magalhães. O corredor, previsto para operar em 2020, abre uma opção a esse trajeto.

Para o modal hidroviário, Teitelbaum cita a hidrovia do Mercosul, com o aproveitamento da Lagoa Mirim. Essa rota liga o Uruguai e o Estado com o transporte de cargas até o porto de Estrela, de onde  os carregamentos poderão chegar ao Centro do Brasil através dos modais ferroviário e rodoviário. A hidrovia do Mercosul é um projeto do PAC. Entre as iniciativas previstas para viabilizá-la está a modernização do porto de Santa Vitória do Palmar e a execução de um novo terminal no município (na localidade conhecida como Arroito). Do lado uruguaio, a companhia Timonsur, formada por empreendedores uruguaios e brasileiros, pretende instalar um terminal portuário na localidade uruguaia de La Charqueada, situada às margens do rio Cebollati (afluente da Lagoa Mirim), no departamento de Treinta y Três.

Cristina acredita que união protege contra a crise

Em recente reunião com a presidente Dilma Rousseff, a presidente argentina Cristina Kirchner defendeu o fortalecimento da integração entre as duas nações e a união do empresariado para tentar manter boas relações comerciais e proteger as economias regionais dos impactos de problemas econômicos globais. Segundo Cristina, é preciso reelaborar o processo de integração da América do Sul para que os países possam somar recursos e blindar a região. O Brasil e a Argentina, destaca a dirigente, têm papel fundamental nessa integração. “Possuímos uma responsabilidade maior do que os outros países da região, porque já atingimos um desenvolvimento econômico, social, científico e tecnológico que nos colocam no compromisso de integrar para superar as desigualdades”, afirmou Cristina.

A presidente argentina citou  o reaquecimento dos investimentos e a aproximação do empresariado dos dois países para acelerar o que chamou de processo de integração produtiva. “É uma questão de caráter estratégico. Temos a responsabilidade de acelerar esse processo de integração, inclusive começar a integrar ao Mercosul países que antes achávamos impensável que fizessem parte”, relata.

Dilma e Cristina oficializaram neste ano o Conselho Empresarial Brasil-Argentina. Para o Itamaraty, o órgão tem como meta aproximar as comunidades de negócios das duas nações para discutir questões de interesse mútuo, como competitividade, desenvolvimento científico e tecnológico e estratégias comuns de inserção nos mercados externos.

Estado possui posição geográfica estratégica

Sendo o único estado brasileiro com fronteira com o Uruguai, além de um largo território localizado ao lado dos limites argentinos, o Rio Grande do Sul tem uma posição privilegiada em relação ao Mercosul. Por isso, a consultora de Logística e professora do Curso Tecnólogo em Logística da Ulbra, Dalva Santana, prevê que o Estado será um dos maiores beneficiados com a integração sul-americana.

Ela projeta que entre os obstáculos que deverão ser superados para efetuar a integração estão as questões políticas e de transações comerciais entre os países. “Para que isso seja algo concreto é preciso mais articulação política, minimizar os impactos de diferenças sociais e uma conexão educacional maior”, afirma Dalva. Além disso, para ela, as nações devem pensar em conjunto assuntos como gestão da água, gasodutos, impostos, taxas etc. A professora diz que nesses projetos é fundamental a participação da iniciativa público-privada, a forma de trazer as empresas para esse contexto de investimentos.

Dalva adverte que as legislações próprias de cada território também podem ser um empecilho para a integração. No entanto, conforme a professora, ao longo do tempo as integrações serão uma realidade e podem trazer muito benefícios. Ela enfatiza que será importante criar estratégias logísticas e pensar nas questões ambientais para construir os corredores de integração.

Mujica busca aproximação com o Estado

Presidente uruguaio esteve em Porto Alegre  para contatos com o governador Tarso Genro e volta para o VIII Cirias na quinta e sexta-feiras da  semana que vem.CACO ARGEMI/PALÁCIO PIRATINI/JC

Nesta semana, uma comitiva com vários empresários e ministros uruguaios, além do próprio presidente do Uruguai, José Mujica, esteve no Estado para reuniões com o governador Tarso Genro. Na pauta do encontro, a consolidação da política de integração das fronteiras e ampliação da cooperação em setores essenciais dos dois países. Foram abordados temas como educação, meio ambiente, cultura, segurança e infraestrutura.

O assessor de Cooperação e Relações Internacionais do Rio Grande do Sul, Tarson Nuñez, afirma que, para a nação vizinha, ter o Estado como parceiro é um elemento indispensável. Nuñez argumenta que para uma empresa uruguaia instalar-se em São Paulo o custo é muito maior do que em Porto Alegre. A proximidade física e cultural, salienta, coloca o Estado como porta de entrada dos uruguaios no mercado brasileiro.

A parceria representa também a possibilidade de ampliar a presença de produtos gaúchos no país vizinho, já que a indústria uruguaia não tem porte para concorrer com a gaúcha em eletrodomésticos, autopeças e serviços. Nuñez ressalta ainda que o Estado possui indústrias na área de eletrônica com potencial de mercado do lado uruguaio. “É uma situação onde os dois países têm a ganhar se forem pensadas políticas conjuntas”, diz.

A melhoria da qualidade do leite gaúcho também é uma das metas do Estado e o aliado para essa missão deve ser o Uruguai. Nuñez reconhece que os vizinhos têm um sistema de sanidade animal e pastagem melhores e que o leite deles registra muitas qualidades. “O Brasil, por outro lado, verifica mais visibilidade internacional e muito mais capital hoje”, compara. O Brasil, por seu lado, pode oferecer aos uruguaios uma escala de entrada no mercado internacional.

O fortalecimento da indústria naval é outro motivo de aproximação com os uruguaios. A ideia é combinar ações complementares e impedir a competição no setor. Nesse sentido, o Uruguai já sinalizou mudanças no desenvolvimento do seu polo naval. “Eles estão alterando o perfil do projeto deles para que seja complementar ao do Rio Grande do Sul”, adianta Nuñez. O polo gaúcho vai construir grandes embarcações e plataformas de petróleo. Os uruguaios vão concentrar esforços em peças para navios. Na área do turismo, o objetivo é servir de entrada para uruguaios e argentinos no Brasil.

Fonte: Jornal do commercio (RS)/Jefferson Klein com Agências






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