Seminário organizado pela SEP em Fortaleza (CE) reúne empresários e dirigentes de portos em torno da logística no Norte e Nordeste
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Num dos últimos atos sob o comando do ministro Pedro Brito, a Secretaria Especial de Portos (SEP) promoveu em Fortaleza (CE) o V Seminário SEP de Logística, também promovido pela Associação Brasileira de Entidades Portuárias e Hidroviárias (Abeph). O evento foi prestigiado pela maior parte dos presidentes de companhias docas e mais de duas dezenas de empresas que participaram da Feira de Tendências de Logística do Norte e Nordeste, que aconteceu paralelamente. A demonstração de apoio já fora demonstrada durante os três lançamentos de seu livro “Muito a Navegar – Uma Análise Logística dos Portos Brasileiros”, quando dirigentes de portos, executivos e empresários de terminais portuários e de empresas de navegação enfrentaram as longas filas de autógrafo em Brasília, São Paulo e Rio - e complementada pelo lançamento também em Fortaleza, após o seminário.
A demonstração de força não segurou Brito, mas a secretaria permanece no governo Dilma, o que é considerado uma conquista para o setor. “O apoio aqui no seminário não é somente ao ministro”, disse um dos patrocinadores do evento. “É final de governo, mas apoiamos a continuidade deste projeto pelo próximo governo e é essa a mensagem que queremos passar”, completou, pedindo para não ser identificado.
Como a SEP permaneceu na cota do PSB e o novo ministro Leônidas Cristiano é do mesmo time de onde Ciro Gomes indicou Pedro Brito, a expectativa é pela continuidade. Leônidas Cristino foi deputado federal e sempre pertenceu à base de apoio de Ciro Gomes, quando este foi prefeito de Fortaleza e governador do Ceará. No governo Ciro, Cristino foi secretário de Infraestrutura do estado.
Evento. O seminário discutiu melhorias, alternativas e possibilidades de crescimento para o comércio entre portos e integração nas atividades de exportação e importação, com foco no Norte e Nordeste. “Este é um espaço importante para debatermos o que fazer para reduzir custos, diminuir a burocracia, melhorar todo o processo logístico e trazer novas ideias”, destacou Augusto Wagner Padilha, secretário executivo da SEP. O primeiro dia — 10 de dezembro — foi dedicado a debater Plataformas Logísticas das Regiões Norte e Nordeste, e Plataformas Logísticas do Nordeste Oriental, com a participação de Augusto Wagner, Marcelo Perrupato, do Ministério dos Transportes; e os palestrantes Clythio Raymond, diretor de Portos da Cargill; e Adary Oliveira, chefe de gabinete da Secretaria Extraordinária da indústria Naval e Portuária do Estado da Bahia.
O destaque no segundo dia foi a palestra “As Assimetrias que Comprometem as Performances dos Portos”, a cargo de Luis Antônio de Melo Awazu, presidente da Companhia Bandeirantes S.A. e vice-presidente da Associação Brasileira de Terminais e Recintos Alfandegados (Abtra).
Segundo Awazu, apesar dos fortes investimentos que a iniciativa privada vem fazendo em equipamentos e o governo na dragagem, há muito ainda o que fazer para que a logística de transporte atinja um alto grau de eficiência que permita diminuir o custo Brasil e ampliar as exportações. Ele destacou a burocracia que envolve as várias autoridades intervenientes que atrasam o desembaraço das cargas, citando as frequentes filas para atracação de navios nos portos brasileiros.
Mas as assimetrias são mais profundas, ressaltou ele. As próprias empresas que atuam na logística têm objetivos de negócios distintos e com isso não há complementaridade de ações. Um terminal de armazenagem poderia racionalizar seus custos se tivesse a opção de levar seus contêineres vazios para o terminal de navios durante a noite, deixando o horário comercial para movimentar os cheios, disse ele. “Mas o foco do negócio do terminal de vazios não é atender ao cliente final e para ele não faz sentido ter o custo da operação noturna”, enfatizou, ressaltando que neste caso o ideal é que houvesse um amplo entendimento para que um aumento de custo de um propiciasse o funcionamento do outro à noite. “Mas todos nós teríamos de promover um amplo debate para encontrar soluções como essa, que não onerasse muito de um lado, mas permitisse ganhos que valessem a pena para a outra parte.”
Cruzeiros. O membro permamente do Grupo de Infraestrutura e Operações da Abremar e gerente de Operações e Produtos da Royal Caribbean International, Diego Dantas, proferiu palestra sobre o cenário de turismo marítimo no país. Segundo ele, embora a atividade esteja em franco desenvolvimento, os portos brasileiros não têm acompanhado esta evolução. Alguns terminais listados como destino não têm condição de receber adequadamente os turistas.
Além dos problemas de infraestrutura, Dantas destaca os custos portuários e a burocracia como elementos que colocam um ponto de interrogação na hora de as companhias marítimas decidirem sua programação para a temporada. Já há empresa que está diminuindo a quantidade de navios que frequentam nossos destinos, garante ele, o que causou estranheza, já que o número de turistas não para de crescer ano a ano.
Discordando da falta de investimentos, o presidente da Companhia Docas do Rio de Janeiro, Jorge Mello, destacou que o Píer Mauá recebeu recentemente, pelo segundo ano, o prêmio internacional como o melhor terminal de passageiros da América Latina. Já o presidente do Conselho de Autoridade Portuária do porto de Santos, Sérgio Aquino, ironizou Mello, ressaltando que no Rio fica o “melhor terminal”, mas em Santos fica o terminal onde foi batido o recorde de atracações simultâneas — nove navios de turismo. Dantas acrescentou que realmente os terminais Concais, em Santos, e Píer Mauá, no Rio, são os melhores do país, mas ainda assim ficam devendo em termos de conforto e infraestrutura.
O ministro Pedro Brito destacou, durante o encerramento do seminário, que não se trata de falar de portos, mas de toda a cadeia logística. “A integração intermodal é o grande desafio. A integração precisa avançar”, defendeu o ministro. Ao fazer uma análise regional dos principais portos do Nordeste, Pedro Brito disse que o incremento em investimentos em logística e infraestrutura são a única saída para se evitar “um apagão” no sistema portuário, que vem sendo cada vez mais demandado, diante da expansão das exportações e da economia nacional.