A escalada de regras de segurança no comércio exterior, associada a projetos de modernização de infraestrutura no Brasil, está abrindo mercado para empresas de tecnologia que vendem serviços e sistemas de automação para dar transparência aos processos. Companhias que atuam nessa área consideram que serão abertas oportunidades promissoras para quem presta serviços no setor.
A mexicana Tyco International prevê crescer no Brasil 100% neste ano - a empresa não revela valores absolutos. Os maiores responsáveis por esse salto serão os projetos em portos (inexistentes até o ano passado) e aeroportos (ainda incipientes).
O grupo já atua no Brasil para clientes como o Bank of America, o Google e a GM. Mas nunca tinha desenvolvido um sistema completo de segurança para o setor portuário, apesar de ter experiência nesse mercado em outros países, como nos Estados Unidos (portos de Long Beach e Jacksonville), na Irlanda (Dublin e Cork) e na África (Djibuti). Com faturamento mundial superior a US$ 17 bilhões em 2011, o grupo mexicano está no topo do ranking em fornecimento de produtos e serviços de segurança, sistemas de detecção e proteção contra incêndios.
Segundo o gerente-geral da Tyco no Brasil, Michael Roubicek, dos 50 negócios em prospecção no Brasil hoje, ao menos quatro são dos setores portuário e aeroportuário. Questionado pelo Valor sobre quais são os projetos, ele preferiu não revelar: "Portos são grandes consumidores desse tipo de solução no mundo porque são zonas de alta segurança, e esses sistemas permitem vigilância completa."
A recente rodada de concessão de aeroportos já está rendendo frutos. "Sentimos interesse por parte dos novos operadores em conhecer soluções integradas, sistemas mais sofisticados", disse Roubicek.
Nos portos, o aumento das regras de segurança veio na esteira dos ataques terroristas a New York, em 2001. O episódio originou um receituário de regras (ISPS Code) a ser adotado pelos complexos que embarcam para os Estados Unidos, ou desembarcam. Assim, na última década, as rotinas vêm sendo refinadas, objetivando a interligação de processos, e não apenas a aquisição de softwares e equipamentos.
Roubicek cita o controle de acesso ao porto de Long Beach. Por exemplo, uma cerca protetora tem um sistema de fibra óptica que, se sofrer vibração, faz soar um alarme anunciando tentativa de invasão. Automaticamente, a câmera mais próxima ao local dispara o zoom detectando a cena e soa um alarme ao operador do centro de controle, indicando que há um possível intruso. Da mesma forma, os sistemas interagem se um crachá é usado acima de um número de vezes para abrir a mesma porta. O sensor da porta aciona um alarme a esse mesmo centro de controle. "O objetivo é ter uma visão completa dentro da área portuária", explicou o executivo.
Depois de se especializar no gerenciamento on-line de cidades de médio e grande porte, a Engerisc, empresa brasileira de engenharia de segurança eletrônica, está desenvolvendo um modelo de gestão sob medida para os portos e aeroportos. Atualmente, a atuação nesse mercado limita-se a uma disputa de Parceria Público-Privada (PPP) para fazer a automação de um aeroporto. Entretanto, a ideia é ganhar volume de negócios.
"Até em função dos eventos internacionais que o Brasil vai sediar [Copa do Mundo em 2014 e Jogos Olímpicos em 2016], queremos que os portos e aeroportos contribuam para aumentar em 38% nossa carteira de clientes", afirmou o diretor-executivo da Engerisc, Cleber Cardoso. O portfólio atual da empresa é de 115 clientes e o faturamento em 2011 foi de R$ 22 milhões.
A companhia já trabalha para alguns terminais no porto de Santos (SP), mas considera que há espaço para ofertar um sistema que integre virtualmente todos os eventos em um único porto, o condomínio aquaviário que abriga vários terminais.
Segundo Cardoso, o projeto prevê concentrar em um centro comum e neutro o controle de todos os processos, aplicando o conceito denominado C3I (comando, controle, comunicações e inteligência). "Com o C3I é possível integrar todos os comandos em um único software que consegue, ao mesmo tempo, controlar fluxo de caminhões, eventos de alarmes associados a câmeras em postos estratégicos, alarmes de incêndio e de energia associados a operações que dependam de máquinas, gerenciamento de veículos e depósito de contêineres", explica o executivo. Ele acrescentou que tudo o que passível de ser detectado por sensor poderá ser insumo de controle nas operações.
O objetivo vai além da segurança, disse ele. Inclui o aumento da produtividade, a diminuição de erros e desperdícios, e a liberação dos gestores para se dedicarem à atividade fim da empresa.
Apenas os portos de Roterdã e Cingapura têm esse nível de controle, segundo Cardoso: "A maior dificuldade é integrar todos os insumos tecnológicos. O nosso diferencial é que temos parceiros em todas as tecnologias [alarmes, processadores de imagens, sensores, rastreamento]."
Mesmo nos portos que já contam com algum nível de virtualização, o executivo afirmou que o sistema fará sentido porque haverá redundância no controle. Em sua análise, os centros de comando que fazem parte de algumas companhias docas limitam-se a centrais de monitoramento de imagens, sem procedimentos como detecção de incêndio, controle de iluminação e de acessos, por exemplo.
Outro diferencial apontado por ele é que o sistema não prevê integração de softwares, o que demandaria abertura de protocolo (que traz informações confidenciais das empresas). "Nós atuamos apenas na integração de hardwares [equipamentos], seja de base analógica ou digital."
Fonte:Valor Econômico/Fernanda Pires
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