Um grupo de estudantes da Universidade Santa Cecília (Unisanta) tem um desafio pela frente: levantar quais tecnologias baseadas em robótica devem ser implantadas no Porto de Santos e como essa automação poderá interferir na rotina de empresas e trabalhadores do setor.
O estudo está sendo desenvolvido por 12 universitários do 3º semestre de Administração, que têm o apoio de alunos do MBA de Logística Portuária. Eles vão se debruçar sobre o impacto das novas tecnologias portuárias de automação e robotização nos terminais de contêineres.
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Hélio Hallite e parte de sua equipe de pesquisa (Foto: Carlos Nogueira)
Os estudantes vão a campo para descobrir o que já é realizado no mercado e qual o investimento que o setor pretende fazer nos próximos anos, além de entender como os terminais lidam com essa tecnologia.
“O principal porto do Brasil (Santos) tem que estar preparado para 2030. Estamos correndo atrás do passivo, resolvendo problemas da década de 90, como a dragagem. A tecnologia tem que ser pensada”, avalia o professor Helio Hallite, que coordena os trabalhos.
Na análise do educador, especialista no setor portuário, a região conta com terminais modernos em uma área não desenvolvida. “É quase como se tivéssemos uma joalheria construída dentro de um presídio. Temos empresas top envolta de lixo”, afirmou, referindo-se principalmente à infraestrutura de acessos ao complexo marítimo santista.
O estudo
Na primeira etapa da pesquisa, os estudantes vão fazer um levantamento de como estão os terminais portuários no Brasil em termos de automação. O passo seguinte é verificar como as empresas que atuam em Santos estão em relação à inovação e quais os investimentos que podem ocorrer nesta área nos próximos anos.
Os sindicatos e as entidades de classe também serão procurados. Os universitários vão apurar como eles encaram o processo de automação das operações portuárias e seus planos para 2030.Trabalhadores portuários e gestores também vão ser questionados.
Ponto de partida
A ideia da pesquisa surgiu a partir da visita de Hallite e outros de seus alunos a portos de referência mundial. Em 2013, um grupo de 25 estudantes e professores conheceu os portos de Antuérpia, na Bélgica, Roterdã, na Holanda, e Hamburgo, na Alemanha.
Em 2014, o professor voltou à Europa com outros docentes para aprofundar os conhecimentos em portos com automação. No ano passado, Hallite retornou ao complexo holandês, onde visitou instalações da operadora DP World, uma das acionistas no Terminal Embraport, em Santos. “Foi ali que vi os transtêineres não tripulados. E essa tecnologia deve chegar em breve aqui”, aposta o pesquisador.
Próximos passos
O grupo deve divulgar os primeiros dados da pesquisa em três meses e, até o final do ano, essas informações devem ser reunidas no livro <CF71>Tecnologia Portuária</CF>. E há a intenção de os universitários envolvidos nesse estudo visitarem Roterdã até 2018, quando estarão prestes a se formar.
Os estudantes estão empolgados com a chance de saber mais sobre o Porto de Santos. “É muito importante para nós. É uma oportunidade única de se ter acesso a tudo isso que está aqui do nosso lado”, afirma a universitária Nathalia Peres Correa. A colega de classe Joana Cardoso concorda. “Sempre gostei de comércio exterior e é este é o momento de fazer parte disso e colaborar com o Porto. Afinal, se ele cresce, a cidade cresce junto”, destaca.
Hallite também acredita que o estudo possa ajudar na criação de cursos para o setor, apresentando essas novas tecnologias aos trabalhadores. Também será possível elaborar treinamentos avançados para gestores públicos. “Para esse público (gestores), é necessário levar uma visão real do que é essa tecnologia que esta por vir”.
O professor lembra que, em 1990, a comunidade portuária debateu como seria o Porto nos anos 2000. “De tudo que se pensou naquele momento para o avanço da área, nada foi implantado”, lamenta.
“Temos muito para fazer e para corrigir. Não dá para continuar sendo um porto africano da década de 60. E a função da nossa pesquisa é dar uma resposta, um caminho a seguir para continuar a ser um porto de primeiro mundo”, diz Hélio Hallite.
Trabalhadores
A pesquisa desenvolvida pelos alunos da Universidade Santa Cecília também irá envolver os trabalhadores do Porto de Santos. “Com eles, os alunos terão o foco de passar as informações já levantadas sobre o cenário que se desenha e o que pode acontecer no mundo daqui a seis meses”, explica o professor Hélio Hallite.
“Uma mudança está a caminho. Como fazer para capacitar essas pessoas para os novos tempos? E essa é só mais uma mudança. A primeira foi quando os trabalhadores do Porto deixaram de carregar sacos nas costas. Hoje, isso já mudou e deve mudar mais ainda”, avalia o educador.
Hallite não acredita que a tecnologia acabe com a mão de obra no Porto. Ele explica que, na década de 80, no exterior, portos passaram por problemas pelo excesso de automação, com protesto dos funcionários, que temiam perder os postos para as máquinas. “Isso não ocorreu. Esse pessoal migrou para a área de TI (Tecnologia da Informação)”.
E esse é outro ponto que o estudo da Unisanta pretende abordar. “Há um impacto grande de implementar tecnologias aqui, pois não temos pessoas treinadas para isso. Nosso objetivo é encurtar essa distância, ver o que os locais mais avançados fizeram para capacitação. Ninguém mais carrega nada nas costas para o navio. É a máquina que faz tudo, mas é o homem que comanda”.
O pesquisador usa como exemplo o Porto de Roterdã, na Holanda, onde há terminais totalmente automatizados. “É um terminal fantasma onde você não vê ninguém. São 14 transteineres (equipamentos que movimentam contêineres no pátio) sem nenhum operador. São apenas quatro homens por turno de seis horas que controlam esses equipamentos”, explica.
Nesta instalação, os operadores não circulam pelas áreas de movimentação de carga. O trabalho é acompanhado de torres de comando.
Outro destaque da automação é a eficiência do atividade e a segurança para o trabalhador. “Os portos que adotaram a tecnologia são ambientes limpos e seguros para o trabalhador”, destaca Hélio Hallite.
Fonte: A Tribuna online