Ideia é utilizar o porto do Rio Grande para escoar produção do Paraguai e outros países
O mês de julho deverá marcar o avanço do projeto Corredor de Exportação, que pretende utilizar o porto do Rio Grande para escoar a produção de Paraguai e Bolívia, inicialmente. As partes envolvidas têm se reunido quase que semanalmente - o último encontro foi na segunda-feira passada - e esperam ajustar a proposta para entregar formalmente aos companheiros de Mercosul.
“Estamos acertando internamente, atendendo à demanda de cada uma das partes envolvidas, para depois negociarmos com o Paraguai. Informalmente, já fizemos contato e percebemos que o país tem interesse em participar de nosso projeto”, explica o ex-vereador de São Borja João Manoel Bicca, idealizador do projeto e um dos principais responsáveis por seu amadurecimento.
A proposta foi elaborada pela Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa), América Latina Logística (ALL), Concessionária Mercovia, governo do Estado e prefeituras do Interior do Rio Grande do Sul. Inicialmente, a meta é receber a soja do Paraguai para exportá-la.
Conforme dados da Câmara Paraguaia de Exportadores de Cereais e Oleaginosas (Capeco), o volume total da colheita de soja neste ano está estimado em 7,5 milhões de toneladas, contra 3,78 milhões da safra anterior. O país é o terceiro produtor sul-americano do grão. Aproximadamente 95% da soja produzida no Paraguai é escoada por Argentina, Uruguai e o estado do Paraná.
Com o projeto gaúcho, as exportações do Paraguai sairão de Encarnación por transporte rodoferroviário e ingressarão no Brasil por São Borja e Porto Xavier. A partir daí, a carga será transportada por rodovia numa distância de aproximadamente 100 km até os silos da Cesa em São Luiz Gonzaga, ao noroeste do Estado. A unidade armazenadora, localizada nas Missões, será um porto seco. Depois, seguirá de trem até o porto do Rio Grande, que será um centro logístico do Mercosul.
Os exportadores paraguaios terão uma diminuição nos custos com transporte. A redução varia entre 25%?e 30%, já que a distância até o porto do Rio Grande é menor que a rota hoje utilizada. “A estrutura é composta por 16 silos que podem armazenar 83 mil toneladas de grãos e operar 24 horas por dia, mas hoje é pouco utilizada”, explica Bicca.
Depois do transbordo em São Luiz Gonzaga as cargas seguirão de trem até o porto do Rio Grande, que será um centro logístico do Mercosul. Bicca esclarece que não será necessário grande investimento em infraestrutura, já que boa parte das condições requisitadas já existem: as estradas até a cidade são consideradas boas, há uma grande malha ferroviária não utilizada e o porto do Rio Grande está em processo de ampliação.
Outras cidades com silos sobrando, como Cruz Alta e Júlio de Castilhos, também poderão entrar no projeto. Se fechar com Paraguai e Bolívia, o projeto poderá ser esticado à Argentina. Nenhum porta-voz da Cesa foi encontrado para participar desta reportagem. A Capeco não atendeu aos pedidos de entrevista e a ALL informou que ainda está estudando o projeto.
Projeto estimula importações de produtos gaúchos
As vantagens trazidas pelo projeto Corredor de Exportação são a geração de empregos nas cidades fronteiriças, nos locais de armazenagem e no porto do Rio Grande. João Manoel Bicca calcula uma geração de empregos de aproximadamente 700 vagas diretas imediatamente. Além disso, hotéis e restaurantes de estrada devem aumentar os negócios, com o maior trânsito de transportadores.
No entanto, um dos principais ganhos será a abertura de um novo canal de exportações dos produtos gaúchos. A ideia é que os trens e caminhões levem de volta produtos gaúchos ao Paraguai, com custos logísticos mais baixos. “É um plano importante para que os aspectos econômicos do Mercosul avancem, com uma maior integração comercial”, observa o economista da Fundação de Economia e Estatística do Estado (FEE) Antonio Carlos Fraquelli.
O projeto gaúcho prevê uma oferta de mão dupla. Além de abrir caminho para exportação da safra paraguaia, o país vizinho poderá usar a mesma estrutura para importar produtos que hoje chegam pelos portos de Santos e Paranaguá. Esses produtos poderão chegar pelo porto do Rio Grande, contribuindo com taxas de desembarque.
Por outro lado, Fraquelli alerta para as defasagens estruturais no Estado para um grande incremento de transportadores. “É preciso que seja formada a mão de obra e os investimentos necessários sejam feitos. Caso realmente se concretize, o projeto trará ganhos à nossa indústria e aos municípios do Sul do Estado”, considera. (EF)
Fonte: Jornal do Commercio (RS/Erik Farina
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