Ao longo dos próximos 40 anos, a população africana vai dobrar para cerca de 2 bilhões de pessoas diante de uma urbanização acelerada, que demandará a construção de infraestrutura urbana. Esse movimento coincide com uma série de investimentos de grandes empresas na exploração de recursos naturais, como metais e petróleo. Esse panorama fez a construtora brasileira OAS iniciar suas operações no continente africano em 2009, com a abertura de um escritório em Johanesburgo, África do Sul. Dois anos depois, a empresa obteve seu primeiro contrato, com um empreendimento em Angola. Atualmente, presente em cinco países do continente africano, a OAS prevê aumentar seus negócios na região, que já responde por 35% da receita bruta no exterior e representa um faturamento de US$ 1,6 bilhão. A expectativa é de que, nos próximos três a quatro anos, os negócios na África cresçam de 20% a 30% anualmente, o que poderá fazer a construtora dobrar seu tamanho no continente.
A OAS emprega 6 mil funcionários na África, sendo 300 brasileiros. "A curva de crescimento das obras de infraestrutura nos próximos anos tende a ser mais acelerada lá do que na América Latina", ressalta o diretor da área internacional da construtora, Augusto Cesar Uzêda. Ele destaca que, em uma recente pesquisa com 250 grandes empresas de infraestrutura no mundo, a região ficou em terceiro lugar na lista dos maiores potenciais de alta no setor, atrás da Ásia e do Oriente Médio. Uma parte do crescimento se deu com os investimentos da Vale em Moçambique. A OAS é uma das responsáveis pela construção do porto que a mineradora brasileira pretende construir para escoar parte de sua produção no país africano.
Com um faturamento de R$ 930 milhões em 2012, a rede de idiomas Fisk vem ampliando o número de franquias tanto no Brasil quanto no exterior. Um dos destinos tem sido a África. Já há uma escola aberta em Angola e outra deverá ser inaugurada em 2014. "Estamos olhando várias possibilidades de negócios", ressalta o CEO e vice-presidente da Fundação Fisk, Bruno Caravati. A decisão de investimento foi fruto de uma visita de negócios no início da década passada que mostrou que não havia escolas similares e que o potencial era muito grande.
Os casos da OAS e da Fisk ilustram o aumento da presença brasileira na África e mostram que o potencial de expansão é muito grande. Nos últimos dez anos, a corrente de comércio cresceu quatro vezes e chegou a US$ 26 bilhões em 2012. Em paralelo, o número de embaixadas brasileiras passou de 15 há dez anos para 37, enquanto os países africanos hoje têm 34 representações em Brasília - eram dez em 2003. A estratégia do governo brasileiro passa também pela abertura de um escritório do BNDES em Johanesburgo, que deverá abrir suas portas até o início de 2014. "Nos últimos dez anos estamos reforçando nossos elos históricos com a África, que nos próximos 40 anos dobrará sua população e passará por uma urbanização acelerada, o que demandará muita infraestrutura e alimentos", diz Paulo Cordeiro, subsecretário-geral do Itamaraty para África e Oriente Médio.
Outro passo foi a inauguração de um Centro de Negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex Brasil), em 2010, em Angola. "O Centro recebe, em média, 20 solicitações de apoio por mês, tanto de empresas brasileiras buscando mercado para seus produtos e serviços na África, como de empresas africanas buscando produtos e serviços no Brasil", diz o presidente da agência, Mauricio Borges. Até agora a atuação esteve mais centrada em Angola, mas a Apex está buscando ampliar esse foco, já que o continente africano é vasto e cada país tem sua especificidade.
A maior presença física brasileira coincide com investimentos de múltis verde-amarelas no continente. Segundo o Departamento de Departamento de Promoção Comercial e Investimentos do Itamaraty, a Petrobras, que tem atuado em Angola, Benin, Gabão, Líbia, Moçambique, Namíbia, Nigéria, Senegal e Tanzânia, aplicou US$ 4,4 bilhões no período de 2003 a 2011. Em seu Plano de Negócios 2012-2016, planeja realizar novos investimentos da ordem de US$ 3,7 bilhões. A Vale, por sua vez, está presente em nove países da África e planeja investir cerca de US$ 12 bilhões no continente nos próximos cinco anos, segundo dados do Itamaraty. Entre os principais investimentos da mineradora, destacam-se a produção de carvão na Mina de Moatize, uma das maiores minas carboníferas do mundo, e a exploração de cobre na Zâmbia.
Nos próximos 40 anos, a região deverá dobrar o número de sua população, o que vai pressionar a demanda por alimentos e infraestrutura. A fabricante de ônibus Marcopolo está presente com uma unidade industrial na África do Sul, inaugurada em 2000. "Tivemos um 2012 muito bom e fecharemos 2013 com crescimento de 8% a 10%. Para 2014, nossas expectativas são boas e estimamos um crescimento em torno de 5% no mercado sul-africano", diz Rodrigo Estevan Alves, gerente-geral da Marcopolo South África.
Países como Moçambique e Tanzânia estão na fase inicial de estudos de adoção de sistemas de corredores expressos de ônibus, o que pode se converter em pedidos ao longo dos próximos anos. "Mobilidade urbana, energia, alimentos, máquinas e equipamentos são segmentos com potencial", destaca Cordeiro, do Itamaraty.
Mas há obstáculos no caminho da maior presença brasileira na região. O embaixador Rubens Ricupero, ex-ministro da Fazenda e atualmente diretor da Faculdade de Economia da Faap, destaca que um dos desafios a serem superados é a fragilidade da indústria nacional, que tem dificuldades para exportar seus produtos para outros países, por causa do elevado "custo Brasil".
Fonte: Valor Econômico/Roberto Rockmann | Para o valor, de São Paulo
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