A Confederação Nacional das Indústrias (CNI) divulgou, na última segunda-feira (14), nota em que criticou a política de juros praticada pelo Banco Central (BC) do Brasil e a ameaça de imposição de taxa de importação de 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. No documento, a CNI diz que a economia e a indústria brasileira estão "asfixiadas pelo injustificado patamar das taxas de juros", hoje em 15% ao ano. A entidade acrescenta que esse é o patamar mais alto desde 2006, o que coloca o país na segunda posição do "infame ranking de maiores taxas de juros reais do mundo”.
Segundo a confederação, a taxa de juros pune, de forma brutal e desnecessariamente, o sistema produtivo do país e todos os brasileiros. E prossegue: “as consequências do desmonte da capacidade de fazer investimentos produtivos, primeiro efeito de uma Selic tão alta, são graves e moldarão o presente e o futuro do país”. A entidade representante dos industriais brasileiros alerta ainda para a pressão externa, com a entrada massiva de produtos manufaturados importados, sobretudo de bens de consumo. Segundo a CNI, em 2025, o aumento das importações de manufaturados foi superior a 20% em relação ao primeiro semestre de 2024.
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A CNI diz ainda que o 'tarifaço' imposto pelos Estados Unidos não teve fundamentos econômicos e complica ainda mais a situação da indústria nacional. “A decisão do governo norte-americano de sujeitar todos os produtos importados do Brasil a uma tarifa de 50%, desamparada por qualquer estudo técnico que o justifique, vai além da ruptura de uma relação comercial centenária, marcada por forte integração produtiva”, manifestou.
Segundo a Confederação, “a taxação põe fim à previsibilidade que sustenta milhares de contratos de longo prazo, afetando fábricas brasileiras e plantas nos Estados Unidos que dependem de componentes e insumos produzidos no Brasil para manter linhas produtivas e empregos”. Além disso, diz a nota, aumenta “o risco de retrocesso de forma substancial, ameaçando a competitividade de ambos os lados e lançando mais incerteza sobre planos de investimento e negócios em andamento”.
A CNI cobra “ações enérgicas, contundentes, para reverter o quadro, interna e externamente”. Mas ressalta que, nas relações exteriores, é preciso moderação e equilíbrio para contornar a política tarifária dos Estamos Unidos. “Devemos negociar a revogação da taxação na condição de país parceiro e de nação soberana. Cabe ao governo brasileiro defender os interesses da sociedade brasileira evitando, sobretudo, as armadilhas da polarização política que o episódio coloca no caminho”.
No cenário interno, a CNI classifica como árduas e imprescindíveis as tarefas que precisarão ser adotadas para superar o quadro de perdas da indústria brasileira. “Depois da queda de 1% no PIB da indústria de transformação no primeiro trimestre de 2025, a produção da indústria de transformação amargou queda acumulada de 1,2% em abril e maio na comparação com março, segundo o IBGE”.
Segundo a entidade, pesquisas feitas por ela mostram quedas consecutivas no faturamento real, no uso da capacidade instalada e nas horas trabalhadas na indústria de transformação. “Assim, aumentam os estoques e a falta de confiança do empresário, que já dura sete meses – a sequência mais longa de pessimismo em dez anos”, diz o documento.
De acordo com a entidade, o equilíbrio fiscal e mais sensibilidade do Banco Central sobre o momento econômico são necessários para a redução da taxa de juros e o destravamento dos investimentos. Diz ainda que o país precisa avançar em reformas estruturantes que melhorem o ambiente de negócios e reduzam custos, sobretudo em energia, insumo essencial para a indústria. “Não há soluções fáceis. O aumento de impostos para financiar uma máquina pública ineficiente nem sequer deveria estar em discussão. Não há espaço para isso”. “O mesmo senso de união que deve nos governar para defender nossos interesses no mundo deve se fazer presente para atacar os problemas internos que comprometem a atividade produtiva e a nossa competitividade. Não há mais tempo de hesitar”, conclui a CNI.