Os conflitos políticos nos países do Norte da África já começam a causar impacto no transporte marítimo e, assim, a pressionar a revisão dos fretes para cima. A companhia de navegação Grimaldi está há quase 20 dias com dois carregamentos parados em portos da Bélgica e de Malta. Os navios saíram do Brasil transportando máquinas da construção civil que seriam descarregadas no porto de Trípoli, capital da Líbia, mas os exportadores preferiram parar em portos intermediários. "Foi uma decisão tomada às pressas pelos clientes, que não quiseram que a carga fosse entregue no destino", explica o diretor do armador italiano no Brasil, Miguel Malaguerra.
O lote que está no porto belga é composto por 30 unidades de equipamentos para construção civil e o que está no país do Mediterrâneo, por outras 33. Ambos os carregamentos ficarão nesses portos até que o exportador dê ordem para que a viagem prossiga ou que o porto de desembarque seja alterado, explica Malaguerra. "Nesse momento, para ser sincero, não há como calcular o prejuízo. Haverá um custo adicional de armazenagem por esse período de espera que não sabemos quantificar, pois não se sabe se essa situação levará mais cinco dias ou cinco meses."
Outra consequência que pode afetar o comércio exterior - aproximadamente 90% das trocas brasileiras se dão pelo transporte marítimo - é o aumento dos fretes. "O impacto direto não está em negócios perdidos, mas no custo do petróleo, que está subindo e pressionando os valores do bunker (o combustível marítimo). Consequentemente, estamos sendo obrigados a rever os preços do transporte marítimo", diz o diretor-comercial da Maersk Line no Brasil, Roberto Prudente. "Estamos nesse momento fazendo análises de caso a caso", completou, quando questionado sobre os possíveis índices de reajuste.
O combustível é o principal item do custo fixo do armador em uma viagem de navio. Dependendo da duração do trajeto, ele representa entre 50% e 60% do total, diz o diretor-superintendente da Hamburg Süd no Brasil, Julian Thomas.
O preço do combustível marítimo vem subindo nos últimos meses. No dia 7, a tonelada do óleo mais pesado (e barato) estava cotada em US$ 656, um aumento de 37,2% sobre abril de 2010. O salto no preço do óleo mais leve (e mais caro) foi o mesmo. A tonelada estava cotada em US$ 940, diante de US$ 684 de abril do ano passado.
"Se o petróleo ficar no patamar que está, o impacto na economia global poderá ser mais duradouro", avalia Thomas.
Fonte: Valor Econômico/Fernanda Pires | Para o Valor, de Santos
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