A desaceleração da economia chinesa começou a afetar mais fortemente as exportações brasileiras nos dois últimos meses. As exportações de minério de ferro e de petróleo, que estão entre os três principais itens vendidos pelo Brasil ao país asiático, já apresentam queda no acumulado de janeiro a setembro não só em valores, mas também em volume.
O volume de minério de ferro vendido aos chineses caiu 1,68% e o de petróleo, 15,37%. Para especialistas, a queda do minério, embora pequena, é emblemática e gera uma preocupação para 2013, quando a economia chinesa pode perder ainda mais ritmo, o que pode provocar impacto maior para a exportação brasileira.
Em agosto, o volume de venda de minério de ferro aos chineses teve forte queda, de 8,5% em relação ao mesmo mês do ano passado. Em setembro, a queda, embora menor, também foi significativa (4,78%). O desempenho dos últimos dois meses fez o quantum do minério de ferro exportado para a China apresentar redução no acumulado de janeiro a setembro, na comparação com o mesmo período do ano passado. Até julho, a perda estava apenas na comparação mensal entre um ano e outro, mas as quedas ainda não haviam invertido o sinal da variação positiva do acumulado.
A queda de volume de janeiro a setembro, de 1,68%, é vista como um sinalizador de que o impacto da desaceleração da economia chinesa pode ir além da redução de valores da exportação brasileira, fenômeno que já estava mais evidente desde o início do ano. Em valor, a exportação de minério para a China caiu 26,7% no período.
A desaceleração chinesa, lembra José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), tem grande impacto sobre a exportação brasileira, porque a China é o principal parceiro comercial do país. De janeiro a setembro, os chineses compraram metade do minério de ferro exportado pelo Brasil e um quinto do petróleo brasileiro vendido no exterior.
Para Castro, o embarque de minério de ferro brasileiro para os chineses em 2012 deve ser semelhante ao total do ano passado, em volume. O risco maior de redução, avalia, fica para 2013.
O economista Fabio Silveira, sócio da RC Consultores, tem opinião semelhante. Ele lembra que a desaceleração da economia chinesa em 2012 deve ser maior que a inicialmente prevista. No ano que vem, prevê, a perda de ritmo deve continuar.
Silveira estima que a China crescerá 7% este ano e 6,5% em 2013, bem abaixo dos 10% a 11% dos anos anteriores. Inicialmente, diz o economista, a previsão para o crescimento chinês em 2012 era de 7,5%. A desaceleração do país asiático deve repercutir no resultado da balança comercial brasileira. Silveira acredita que o saldo total brasileiro em 2012 chegue perto dos US$ 18 bilhões. Para o ano que vem, porém, ele projeta saldo de US$ 10 bilhões.
O petróleo, outro item importante na exportação aos chineses, também registrou queda em termos de quantidade. De janeiro a setembro, o valor embarcado de petróleo para a China caiu 5,97% em valores e 15,37% em volume, na comparação com o mesmo período do ano passado. No caso do petróleo, diz Castro, além da desaceleração da economia chinesa, a redução de volume importado pode ser resultado também da escolha de outros fornecedores.
Nos nove primeiros meses do ano, o minério de ferro e o petróleo foram, respectivamente, o segundo e o terceiro itens mais importante da pauta brasileira de exportação à China. O primeiro foi a soja, que teve evolução em sentido oposto. Beneficiada por preços relativamente altos, a exportação de soja teve elevação forte tanto em valor quanto em volume. De janeiro a setembro deste ano, o valor exportado do grão aos chineses teve elevação de 21,7% em valores e de 15% em volume. Atualmente 70% do volume de soja exportado pelo Brasil vai para os chineses.
Castro diz, porém, que o aumento precisa ser relativizado. Por uma questão sazonal, diz, essa exportação concentra-se na primeira metade do ano. Ou seja, no resultado anual ao fim de 2012 a soja continuará representativa na exportação brasileira para a China, mas terá fatia de participação menor.
De qualquer forma, produtos também importantes na pauta para os chineses continuam apresentando elevação, como o açúcar e a celulose. O problema, lembra Silveira, é que a desaceleração da China é reflexo do baixo crescimento da economia americana e da crise da zona do euro, cenários que não terão mudança rápida.
Rodrigo Branco, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), lembra que notícias recentes sobre a China revelam alta estocagem de aço. "Isso mostra que não houve demanda suficiente para a oferta planejada pelo governo chinês."
"Esse aumento de estoques afetou inicialmente os preços e agora começa a atingir volumes comercializados no mercado internacional", diz Silveira, da RC. Ele acredita que afrouxamento monetário americano deve trazer um "refresco" para o cenário mundial, mas não uma mudança sustentada.
Fonte: Valor / Marta Watanabe
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