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Dinamismo e exigências de comércio exterior com mercadorias tornam inspeções de pré-embarque indispensáveis

Entregas cada vez mais rápidas e mercadorias que precisam chegar com especificações extremamente precisas. Como o crescimento do comércio exterior depende muito de prazos, falhas podem trazer sérios prejuízos para grandes projetos. Por essa razão, a demanda por serviços de inspeções de pré-embarque (PSI, na sigla em inglês) tem crescido bastante nos últimos anos. O mercado, que está diretamente ligado à credibilidade das empresas de verificação de conformidades, é disputado por certificadoras com muitos anos de história. Uma das estratégias para elas ampliarem mercado está sendo fechar contratos com governos de países em desenvolvimento. Já as empresas de menor porte têm buscado garantir oportunidades de inspeções nos mercados locais.

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O gerente comercial do Bureau Veritas, Davi Souza, conta que o mercado de inspeções governamentais já foi a principal divisão de empresas desse segmento no mundo. Entretanto, perdeu espaço nos países desenvolvidos devido à qualidade do serviço aduaneiro que, em muitos casos, dispensa a contratação de empresas terceirizadas. Souza cita declínio nesse tipo de inspeção também na Argentina. Em outros países da América Latina e da África ainda há demanda por esse serviço. “Conforme os países se organizam e as aduanas melhoram seus serviços, esses contratos vão sendo encerrados”, explica Souza.

Desde 2007, o Bureau Veritas decidiu apostar no mercado de inspeções em países em desenvolvimento, sobretudo pela grande movimentação de commodities. Em 2010, o BV comprou a Inspectorate, uma das principais empresas de inspeção no mundo. Atualmente, estima-se que a BV tenha entre 20% e 25% do mercado de inspeções de pré-embarque no Brasil.

O grupo alemão TÜV Rheinland, cuja marca também é conhecida internacionalmente, pretende conquistar 5% do mercado de PSI no Brasil. Como já existem duas empresas que oferecem esse serviço há décadas e concentram mais de 50% do mercado, a TÜV propõe oferecer o serviço com qualidade e atendimento diferenciados. O gerente de inspeção trade da TÜV, Régis Valentino, que chegou há cerca de um ano na empresa, foi contratado com o objetivo de coordenar a equipe e alavancar os negócios da TÜV nesse segmento. Há mais de oito anos no segmento, ele diz que empresas de PSI que dominam o mercado acabam se acomodando, ampliam seus negócios para outros segmentos e, muitas das vezes, comprometem os prazos.

Valentino defende que é importante, ao levar o serviço para o cliente, fazer a conexão das atividades como, por exemplo, as inspeções de fabricação e de embarque. Segundo ele, falta estratégia para as empresas de PSI estreitarem a parceria com os clientes e focarem nas atividades disponíveis. “Se a empresa de PSI vende para o cliente uma inspeção de fabricação, ele pode achar que não é feito o serviço de pré-embarque e contratar outra empresa. Cansei de ver empresas contratando serviços de pré-embarque de uma empresa e contratando inspeção de fabricação de outra prestadora”, lembra Valentino.

O gerente de inspeções trade da TÜV argumenta que os clientes ficam inseguros de trocar de certificadora quando já têm confiança em empresas tradicionais de inspeções de pré-embarque com grande parcela do market share. Valentino acrescenta que é comum o cliente ter pouco tempo para contratar a inspeção. “O cliente deixa para contratar de última hora e o ponto mais crítico acaba sendo o prazo de atendimento comercial e de entrega de serviço. Algumas vezes pode haver gargalo de prazos, o que acaba desencadeando desgastes”, diz Valentino.

A TÜV oferece serviços em todas as etapas da cadeia produtiva, desde a fabricação, acompanhamento do produto e verificação das práticas e requisitos necessários adotados para produzir a qualidade que o cliente exige. “A TÜV é uma empresa que já tem quase 150 anos de existência. Atua em vários segmentos de verificação de conformidade, mas nessa área de inspeção de embarque, não vinha investindo muito. Desde 2011, desenvolvemos o departamento voltado para este tipo de demanda”, conta Valentino.

As inspeções de pré-embarque visam assegurar que os bens adquiridos e fabricados sob encomenda atendam às especificações definidas nos documentos de compra e compreendem uma inspeção detalhada de equipamentos ou materiais após a fabricação até antes do embarque. Geralmente, o serviço inclui quantidade e qualidade, embalagem, selagem e supervisão de carregamento. Sem este certificado, não é possível justificar o embarque na alfândega do país de destino.

 

A possibilidade de atrasos é o principal transtorno nas entregas de mercadorias. A precisão de peças, por exemplo, é essencial para não atrasar ou paralisar uma obra. Souza, do Bureau Veritas, diz que é fundamental uma empresa terceirizada fazendo inspeção de pré-embarque. Ele cita equipamentos de grande porte que levam meses para ser fabricados. “Isso acaba com o cronograma do projeto se a empresa descobrir somente quando o produto chegar ao destino que ele não chegou como deveria”, alerta Souza.

No caso de commodities, é comum que se determine o ponto em que será definida a qualidade do produto. Normalmente é quando ele embarca no navio ou quando desembarca no destino. A empresa de PSI verifica a conformidade da carga ou equipamento comprado, de acordo com a documentação de compra e venda. “Serviço de inspeção pré-embarque sempre vai existir. Quanto mais aumentar o comércio exterior e quanto maior for o valor agregado, quanto mais sensível para seu projeto é o produto, maior a necessidade de contratar uma empresa de terceira parte”, avalia Souza.

Segundo Valentino, da TÜV, o mercado de PSI avançou nos últimos anos, sobretudo acompanhando o crescimento das exportações do mercado asiático. Ele verifica que a produção desse continente está cada vez mais competitiva comercialmente e evoluindo em qualidade. No entanto, observa que esses produtos ainda exigem atenção em torno da qualidade porque esse tipo de mentalidade demora mais tempo para ser modificada. Ele acredita que seja natural e lento o processo de amadurecimento e ganho de confiabilidade nos mercados da Ásia. Conta que os clientes preocupam-se em contratar serviços de PSI mesmo em mercados mais consolidados como o europeu.

Em 2011, a chinesa Asia Inspection, com mais de 15 anos de existência, abriu escritório em São Paulo. O objetivo é aproveitar a aproximação econômica entre Brasil e Ásia. Segundo o gerente de vendas e marketing da Asia Inspection no Brasil, Alexandre Flak, a estratégia da empresa é oferecer rapidez, segurança, e flexibilidade nos serviços de inspeção.

Flak destaca que a Asia Inspection é uma empresa que possui a plataforma de comunicação virtual personalizada para o cliente, o que possibilita o gerenciamento online de todo seu fluxo de vistoria, incluindo inspeção e controle de qualidade. “A flexibilidade está na capacidade de disponibilizar a informação com rapidez para o cliente. Oferecemos facilidade na plataforma de trabalho”, enfatiza Flak. A empresa possui como clientes importadores de diversos ramos de atividades, desde eletrônicos e informática até importadores de maquinários, construção civil e alimentos.

A Cugnier Inspection também possui um sistema de gestão digital que reúne, ao final das inspeções, todas as informações colhidas pelas auditorias, como fotos e relatórios descritivos. No dia seguinte é feita uma conferência documental no escritório da Cugnier e, automaticamente, as informações são disponibilizadas para os clientes. “Com login e senha pessoal, os clientes acessam o sistema da Cugnier e conseguem visualizar e fazer download de todos os relatórios especificados”, explica Emmanuel Guilherme de Miranda, gerente comercial da empresa.

Esse sistema permite, por exemplo, que o importador de uma mercadoria do Brasil acesse informações da carga antes de ela ser carregada no contêiner, ainda no porto brasileiro. A solução possibilita a visualização do que foi carregado, se a mercadoria está com algum problema, além de permitir agilidade em casos de o cliente querer cancelar o embarque ou mudar alguma coisa.

Além das certificadoras que estão se instalando, cerca de 15% do mercado de inspeções de pré-embarque são atendidos por empresas que oferecem serviços regionais. São empresas que estão dentro do porto ou na região onde o empreendimento está localizado. Segundo Valentino, da TÜV, essas empresas de menor porte proliferaram nos últimos anos, também beneficiadas pelo aumento das importações de produtos asiáticos.

Com apenas um ano e meio de serviços, a Meta Engenharia trabalha para, antes de completar três anos, conseguir oferecer serviços de inspeção para a Petrobras. Enquanto a empresa amadurece e busca reunir as condições necessárias para prestar serviços para a estatal, está sendo feito um trabalho de divulgação na internet. “Não dá para dizer daqui a quanto tempo conseguiremos prestar serviço para Petrobras, mas temos um plano estratégico para, em dois anos, estarmos com o leque bastante aberto”, diz Ramon Santana, gerente de vendas Meta.

Santana diz que a Meta realiza inspeções por todo o Brasil. A empresa já recebeu demanda até do Macapá, mas a concentração maior de serviços está no Sudeste, por conta das áreas portuárias e de exploração de petróleo. Segundo Santana, aproximadamente 95% dos clientes são empresas que operam carga de projeto. “Geralmente são materiais de precisão, de grande porte como uma peça de avião, de navio”, detalha Santana. A Meta tem como clientes empresas como Technip, Cargill, Tangará Foods, Unimesp Agropecuária e Café Pelé.

— Ofertamos serviços em todo o Brasil porque conseguimos mandar inspetores para os locais, sem aumentar custos para o cliente. Começamos com responsabilidade, com o intuito de poder atender ao cliente. Estrutura para poder atender perfeitamente nós temos. Hoje não conseguimos atender à Petrobras porque requer mais capacitação nossa. Daqui a um ano e meio queremos conseguir isso — projeta Santana.

Miranda, da Cugnier, conta que a empresa está empenhada em abrir novos mercados para inspeção governamental. A Cugnier faz trabalho junto às embaixadas e junto ao Ministério do Planejamento de vários países que exigem essa inspeção.

A Cugnier atua na inspeção de produtos destinados à exportação e importação e na auditoria e certificação de processos. A média mensal de mercadorias inspecionadas e certificadas pela Cugnier é de 180 mil toneladas. A meta da empresa é chegar a 250 mil toneladas/mês até dezembro de 2012. A empresa, que atua há nove anos com inspeção, também realiza certificações para os governos de Cuba e da Venezuela.

 

A TÜV tem tido maior demanda com clientes que movimentam produtos siderúrgicos e automóveis.  Esses são dois tipos de cargas que necessitam de inspeções de pré-embarque. Os automóveis importados, por exemplo, precisam ter a qualidade verificada, tanto no porto de origem quanto no desembarque. “Geralmente são veículos caros e não podem chegar aqui com algum tipo de problema”, avalia Valentino.

O próximo passo da TÜV no Brasil está sendo a busca para habilitar-se para realizar inspeções no mercado agrícola, considerado o maior filão de inspeção de desembarque na América do Sul. “Estamos trabalhando forte para entrar no mercado agrícola e até 2013 devemos estar a todo vapor”, adianta Valentino.

Souza, do Bureau Veritas, diz que a compra da Inspectorate, em 2010, teve como objetivo ganhar contratos de inspeção na exportação de commodities. Atualmente, grandes exportadores estão em países em desenvolvimento, como o Brasil, que comercializam principalmente para a China, maior consumidor de minério de ferro e de outros produtos no mundo. A BV já prestou serviço de PSI para empresas como Vale, MMX, CSN, Usiminas e Gerdau.

Souza destaca que o peso das empresas tradicionais de inspeção de pré-embarque é um grande diferencial na hora de os importadores escolherem o prestador desse serviço. Segundo ele, a maior parte dos contratos fechados na área de commodities é de curta duração e movimenta cargas de muita responsabilidade. “É difícil mensurar isso em contratos. É o tipo do mercado que funciona muito mais spot do que com grandes contratos”, explica Souza.

O gerente comercial do Bureau Veritas afirma que poucas empresas de inspeção estão habilitadas para certificação ou possuem capilaridade na rede de atendimento pelo mundo. Souza diz que só consegue atuar nesse segmento a empresa que possuir bases em outros países como a China, por exemplo. Ele cita que a BV presta serviços para a Gerdau na Turquia.

Miranda, da Cugnier, enfatiza que existem várias empresas que fazem serviços de inspeção de pré-embarque, mas poucas estão realmente regularizadas e capacitadas para prestar o serviço no comércio internacional. “Empresas certificadas na ISO, credenciada pelo Inmetro e instituições internacionais são poucas. Muitas das empresas de inspeção instaladas no Brasil são filiais de empresas estrangeiras”, analisa Miranda.

Cerca de 90% dos clientes da Cugnier são da área de carnes: Brasil Foods, Bunge Alimentos, Frangosul, JBS Friboi, entre outros. A Cugnier habilitou-se para realizar inspeções em produtos de origem animal em Santa Catarina. A ideia é ampliar esse serviço para outros estados. Miranda explica que a maioria das secretarias estaduais de agricultura no Brasil possui contingentes pequenos de veterinários para atender a todos os estabelecimentos que possuem credenciamento. Por conta disso, esse serviço é terceirizado.

Flak, da Asia Inspection, destaca que as inspeções são importantes para melhorar e fiscalizar a cadeia de suprimentos, tentando exercer uma ‘pressão’ em cima da cadeia produtiva chinesa e asiática a exportar produtos mais competitivos. Ele defende que é preciso checar e conhecer as empresas chinesas que atuam corretamente com seus clientes. Flak diz que a ausência de fiscalização aumenta o risco na hora das compras.

Outro problema grande que acontece na China é a terceirização, onde o repasse dos pedidos faz com que o importador corra o risco de não ver a mercadoria.

De acordo com Flak, o desafio da empresa no Brasil será superar as dificuldades relativas à falta de informação do mercado sobre esse tipo de serviço. Segundo ele, ainda existem muitas pessoas que não recorrem à conferência e à inspeção de qualidade. “Nosso trabalho é conscientizar o mercado de importadores da necessidade de recorrer a esse tipo de serviço, que dentro da cadeia de importação tem realmente uma relevância importante para fechar o ciclo”, diz Flak.

Valentino, da TÜV, observa que a demanda de serviços de PSI com prazos apertados podem ser sintomas de que as empresas desse segmento não estão vendendo o serviço para os importadores e exportadores. O gerente de inspeções trade da TÜV destaca que a empresa pretende agregar valor ao serviço cobrindo mais etapas do processo da cadeia produtiva. “As empresas de inspeção não estão pensando no que o cliente pode precisar”, observa. Segundo Valentino, a proposta da TÜV prevê fazer atendimento mais completo, fornecendo serviço desde a fabricação do produto, quando é checado se a fabricação está de acordo com o que foi contratado e verificado se o produto embarcado está de acordo com o solicitado.

Para Valentino, o documento de inspeção da mercadoria agrega valor no processo de desembaraço alfandegário. Ele explica que uma carga regular e com laudo bem feito pode impedir que a mercadoria fique presa na fiscalização. Valentino sente a falta de leis de importação e de exportação mais claras para criar a cultura de verificação das conformidades no pré-embarque. “Como existe falta de clareza e desorganização nos portos, abre-se um precedente para algumas ideias distorcidas do negócio. Quanto mais claras forem as leis de verificação alfandegária, acho que esse mercado tende a crescer mais ainda”, conclui.

Miranda, da Cugnier, percebe que nos últimos anos a importância de auditorias e inspeções de mercadorias têm começado a entrar na cultura brasileira, a exemplo de outros países. “Essa cultura da ISO e das especificações está começando a entrar no Brasil. O brasileiro está percebendo a importância disso para poder exportar e entrar em outros mercados e resguardando a integridade do produto e da própria marca das empresas que estão exportando aqui, tendo uma garantia de que aquela mercadoria que está exportando está cumprindo todas as exigências do país importador”, analisa Miranda.



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