A desaceleração do comércio global na pandemia de covid-19 vai levar a uma retração das exportações brasileiras entre 11% e 20% em 2020, puxada pela baixa demanda por petróleo, de acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicado ontem. A crise deve rebaixar as vendas do país para patamar inferior aos US$ 200 bilhões este ano. Em 2019, o Brasil exportou US$ 225,4 bilhões, segundo dados do Ministério da Economia.
As importações, por sua vez, devem sofrer uma queda de 20% neste ano, se limitando a cerca de US$ 140 bilhões, segundo o Ipea. Para chegar a estes números, os pesquisadores adaptaram para o Brasil previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da Organização Mundial do Comércio (OMC) para Produto Interno Bruto (PIB) e importação dos países. As conclusões do Ipea partem de cenário entre a previsão mais otimista da OMC e a do FMI, ou seja, uma queda entre 2,5% e 3,0% do PIB mundial este ano.
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Com relação a 2021, o instituto projeta recuperação nas duas vias do comércio brasileiro: exportações avançariam entre 10% e 15%, com teto de US$ 230 bilhões, enquanto importações poderiam avançar 20% em cima do montante rebaixado do ano de crise. Importados podem movimentar até US$ 164 bilhões em 2021 e, em qualquer cenário, ficariam abaixo do montante registrado em 2019, quando o Brasil importou US$ 177,3 bilhões.
O trabalho também projeta a evolução das exportações por grupos de produtos. Tomando como base o cenário projetado pelo FMI, os técnicos do Ipea estimam que as exportações de petróleo brasileiro terão queda de 39,8% em 2020 e recuperação de 11,7% no ano seguinte. Este desempenho está ligado à “forte queda prevista na demanda e à redução dos preços internacionais dos produtos”.
Impactado por fenômeno semelhante, o minério de ferro também sofre, mas tem curva mais suave: queda nas exportações de 15% em 2020 e alta de 7,5% em 2021. Demais produtos semimanufaturados e manufaturados têm queda esperada em 2020 de 18,4% e 17,2%, respectivamente, com recuperação de 9,8% para ambos no ano que vem.
As exportações de agropecuários vão ser bem menos afetadas, segundo o Ipea. A soja seria pouco afetada pela crise, com queda de apenas 0,5% nas exportações em 2020 e avanço de 13% em 2021. O complexo carnes recuaria 5,5% em 2020, crescendo 11,5% em 2021, em linha com outros produtos básicos com média de -4,7% e +10,9% no biênio.
Segundo técnicos do Ipea, a razão está no desempenho mais favorável de grandes importadores de commodities agrícolas na crise, como China e outros países asiáticos, além da menor sensibilidade da demanda de alimentos a variações na renda das pessoas.
Atravessada a crise, os pesquisadores do Ipea apontam que a pauta exportadora do Brasil tende a ficar mais concentrada: o conjunto formado pelos complexos de soja, carnes, minério de ferro e petróleo, que representam 42,4% do total das exportações até o ano passado, passariam a responder por 46,2% da pauta, tomando como base a previsão do FMI.
Com relação ao preço das exportações brasileiras, os pesquisadores estimam redução média da ordem de 8,5% em 2020 e nova redução de 0,5% em 2021, o que implica em perda de cerca de US$ 20 bilhões no valor das vendas externas do país no biênio.
No estudo, os pesquisadores do Ipea lançam mão de dois modelos. O primeiro, econométrico, é chamado de “gravitacional”, porque se baseia na ideia de que, assim como corpos físicos, a intensidade das trocas comerciais entre dois países é diretamente proporcional ao tamanho de sua economia (PIB), mas inversamente proporcional à distância - não só geográfica, mas cultural e institucional - entre eles.
O segundo modelo aplicado, menos sofisticado, parte da premissa de que a fatia de mercado do Brasil nas importações de cada país vai se manter constante no biênio 2020-2021. Considerada a variação estimada pelos organismos internacionais para a demanda de cada país, chega-se ao valor das exportações brasileiras para cada país comprador nos dois próximos anos. Essas duas metodologias levam a projeções diferentes. Mas, segundo os pesquisadores, têm o mérito de estabelecer limites mínimos e máximos para o comportamento do comércio exterior brasileiro em momento de incerteza sobre a amplitude e duração da crise econômica.
Fonte: Valor