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Navalshore

Falta de contêineres faz ressurgir embarque de café como carga geral

No comércio internacional de café, um navio cruzando o Oceano Atlântico vem atraindo muitas atenções. O Eagle, uma embarcação de carga geral, que não usa contêineres, saiu de Lampung, na ilha de Sumatra, na Indonésia, passou pelo Mediterrâneo e agora se dirige a Nova Orleans, nos Estados Unidos, onde as torrefadoras não veem a hora de receber matéria-prima. Essa é uma das primeiras remessas marítimas de café nessa modalidade, sem contêineres, em mais de 20 anos.

O Eagle faz parte de uma experiência cuja ideia começa a ganhar força no setor, já que poderá permitir a produtores, torrefadores e comercializadores driblarem a falta de contêineres pelo mundo, que tem provocado atrasos sem precedentes nas exportações do grão.


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“No momento em que vimos as remessas atrasando [e] os clientes realmente com dificuldade para ter acesso ao café e conseguir suprimentos a tempo, começamos a pensar nessa opção”, disse Manish Dhawan, vice-presidente sênior de café na comercializadora de commodities Olam International, que fretou o Eagle. “Se você falar com alguns dos operadores mais velhos, [eles dirão que] a última vez que se fez algo assim foi no fim dos anos 80 ou, talvez, no início dos 90. Então, isso é realmente algo como um novo tipo de fronteira para nós também”.

A retomada paulatina das economias no mundo durante a pandemia e a aceleração das compras na internet criaram uma disputa generalizada pelos fretes. Na melhor das hipóteses, isso encareceu os contêineres para o transporte de café e, na pior, os tornou indisponíveis. O quadro elevou ainda mais os preços da commodity, que já estavam em seus maiores patamares em décadas em razão de problemas de escassez de oferta no Brasil neste ano.

A Olam International acredita que, no futuro, as torrefadoras começarão a usar com mais frequência esse método de transporte da velha escola, sem contêineres. Outro carregamento transportado no Eagle, de café arábica brasileiro, foi descarregado recentemente em Bremen, na Alemanha.

Outros navios de carga geral também têm partido do porto de Santos, onde a Cooxupé, a maior cooperativa de café arábica do mundo, embarcou 108 mil sacas para a Europa em um navio fretado por um cliente no início de dezembro, de acordo com seu diretor comercial, Lúcio Dias. Em janeiro, a cooperativa enviará mais dois carregamentos de sacas de café sem contêineres.

“Fizemos uma experiência, com alguns clientes usando essa nova modalidade de embarque para solucionar gargalos nos embarques”, afirmou Dias. “Mas é uma operação complexa”.

Tudo, do transporte terrestre na origem até o recebimento no destino, é mais difícil em comparação com o sistema baseado em contêineres, já que apenas alguns portos possuem equipamentos adequados para retirar as sacas diretamente do porão de um navio, disse. Normalmente, o café é despejado a granel em contêineres especiais ou as sacas são empilhadas dentro dos contêineres para facilitar o transporte marítimo e ferroviário.

A Cooxupé esperava levar dois dias para carregar as sacas em seu primeiro navio de carga geral, mas demorou mais de cinco, porque a operação foi interrompida pela chuva, segundo Dias. Os custos também foram maiores do que os calculados de início, o que levou a cooperativa a renegociar com o cliente os valores para outras remessas.

Dias prevê que os gargalos logísticos continuarão no primeiro semestre de 2022, com a adoção de novas restrições para a circulação de pessoas em diferentes países para combater a propagação da variante ômicron da covid-19. “A logística está com obstruções por todo o mundo e vai levar um longo tempo para que esse nó seja desfeito”, disse ele.

Nem todo mundo terá condições de fazer esse tipo de operação, que é de capital intensivo e exige grandes quantidades de café. Integrantes do mercado, contudo, já vêm falando na modalidade de carga geral como uma forma de aliviar os gargalos, que têm feito o café se acumular no Vietnã, maior produtor mundial da variedade robusta.

“Tenho quase certeza de que as pessoas vão pensar na ideia. Ouvimos falar que alguns navios [de carga geral] estão em planejamento e estamos avaliando nossas opções”, disse Dhawan, da Olam International.

Isso poderia, por sua vez, ter efeito sobre os preços, de acordo com Carlos Mera, chefe de pesquisa de commodities agrícolas do Rabobank. “Ambas as safras, de [café] robusta vietnamita e brasileiro, são potencialmente recorde”, disse. “Então, se os embarques fluírem um pouco mais normalmente, os preços podem cair”.

Fonte: Valor






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