O porto de Santos promete dar um salto rumo à diminuição do desequilíbrio da matriz de transporte do açúcar, que é uma carga líder em exportação e que chega ao porto fortemente apoiada no modal rodoviário. Das quase 89 milhões de toneladas movimentadas de janeiro a novembro de 2010 no porto, a commodity foi responsável por aproximadamente 20% do volume. A estimativa é que neste ano a ferrovia amplie sua participação em 50% na carga de açúcar, chegando a 7,5 milhões de toneladas. Em 2010, via trem foram 5,1 milhões de toneladas que desembarcaram em Santos e no ano anterior, 3,4 milhões de toneladas.
Esse desempenho reflete uma combinação entre o crescimento orgânico da operação de açúcar via trilhos e a transferência para a ferrovia de cargas da commodity antes transportada por caminhão. No porto como um todo, a movimentação de açúcar a granel crescerá "apenas" entre 20% e 25%.
De acordo com o diretor de Infraestrutura e Execução de Obras da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), Paulino Vicente, parte da migração do açúcar para o trem é resultado direto da conclusão do viaduto da Santa, assim batizado por ficar na altura de uma praça com a imagem de Nossa Senhora, na margem direita, em Santos. A obra recém-inaugurada eliminou o encontro rodoferroviário na região de Outeirinhos, onde estão localizados os terminais que movimentam o granel, dando uma opção logística mais viável e econômica para agilizar a chegada da carga às instalações. "A obra favorece de maneira decisiva o modal ferroviário porque cria condições de, sem atrapalhar o transporte rodoviário, incrementar sobremaneira a ferrovia com trens maiores. Já estamos caminhando para composições de 80 a 85 vagões. Hoje, o padrão médio é de 40", afirma o diretor.
O aumento da utilização da ferrovia mostra três aspectos que Vicente considera benéficos. Primeiro é a possibilidade de ofertar um açúcar com preço mais competitivo no mercado externo, visto que chegará mais barato ao porto. Segundo, a diminuição dos congestionamentos de carretas nas vias portuárias. Por último, e consequentemente, a melhoria ambiental em Santos com redução de emissões de gás carbônico.
A projeção dos terminais de açúcar é que só neste ano sejam retirados 297 mil caminhões de circulação com a transferência da carga para a ferrovia. No ano passado, já com o processo de crescimento do modal, 203 mil carretas deixaram de chegar ao porto; em 2009, 135 mil veículos que transportam açúcar foram "eliminados" da operação na região do porto santista.
O viaduto da Santa integra o conjunto de obras da avenida perimetral da margem direita, empreendimento orçado em R$ 130 milhões previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Até agora o traçado consumiu quase R$ 50 milhões. Também está planejada uma avenida perimetral na margem esquerda (Guarujá), cujo processo licitatório para definir a empresa ou consórcio que fará a obra está em andamento. As duas vias estarão concluídas até o fim de 2014.
As perimetrais foram planejadas dentro da lógica de reduzir os entroncamentos entre ferrovia e rodovia, de forma a evitar situações esdrúxulas em que o caminhão fica parado até a composição do trem passar. O viaduto da Santa é o segundo desse projeto. Com ele, só se dirigem às regiões do Paquetá e de Outeirinhos os caminhões com destino aos terminais de açúcar naquelas redondezas.
Hoje, as instalações da margem direita são responsáveis por quase 90% do açúcar escoado pelo porto e contam com uma capacidade estática de aproximadamente 800 mil toneladas - a maior oferta portuária dedicada à exportação de açúcar do mundo. Com os dois novos viadutos, Vicente vê espaço para a expansão da oferta de armazenagem. "Para 2011, pelo menos dois armazéns já apresentaram projetos de aumento de capacidade expressivos que, juntos, somam 180 mil toneladas adicionais".
A Rumo Logística, do grupo sucroalcooleiro Cosan(com terminais no porto de Santos), tem investimentos que totalizam R$ 1,2 bilhão na malha ferroviária da América Latina Logística (ALL) para fortalecer o modal no transporte de açúcar no Brasil. Do montante, R$ 535 milhões serão para duplicar, ampliar e melhorar a via permanente e pátios do corredor ferroviário Bauru-Santos; R$ 435 milhões para aquisição de 50 locomotivas e 729 vagões e R$ 206 milhões para construção e ampliação de terminais no interior do Estado e no porto de Santos.
Os próximos passos da perimetral de Santos são a construção do trecho na entrada do porto, em Alemoa e Saboó, e do Mergulhão, que será uma passagem subterrânea para carretas, no Valongo. Ontem tiveram início as prospecções arqueológicas onde ele será construído. O intuito é identificar possíveis vestígios arqueológicos, históricos e culturais da área.
Fonte: Valor Econômico/Fernanda Pires | Para o Valor, de Santos
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