Os gargalos logísticos incorporados ao chamado custo Brasil, que comprometem a competitividade das exportações, serão o grande desafio para o escoamento da próxima safra brasileira de grãos. As primeiras estimativas são de plantio recorde de soja, que deve ser acompanhado pela expansão da área de milho de segunda safra, que é cultivado na sequência da colheita da oleaginosa.
Neste ano, mesmo com a quebra de 11% na produção de soja, o escoamento da safra retardou pela falta de berços para atracação nos portos, que provocam as tradicionais filas de navios. Como se não bastasse, as chuvas de junho contribuíram para atrasar os embarques de grãos. A situação foi agravada pelas greves de caminhoneiros e servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Receita Federal. Agora, são os fiscais federais agropecuários que vão parar e dificultar o desembaraço de mercadorias e o trânsito de animais.
O gargalo logístico limita o crescimento das exportações de milho, que poderiam ganhar parte dos mercados atendidos pelos Estados Unidos, que nesta safra terão menor disponibilidade do cereal, por causa da quebra provocada pela forte estiagem.
A frustração da safra americana favorece os agricultores brasileiros, pois a alta dos preços internacionais impulsionou as cotações internas, mesmo com a colheita de uma safrinha recorde de milho, estimada em 34,56 milhões de toneladas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Pela falta de condições nos portos, as perspectivas de exportação do cereal estão limitadas a 15 milhões de toneladas nesta safra.
Para o próximo ano existe o risco de ocorrer o "apagão logístico" há muito previsto por empresários, especialistas e produtores rurais. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli, prevê congestionamento nas rodovias, pois os caminhões não serão suficientes para transportar a safra. Outra preocupação é com a armazenagem, pois a segunda safra recorde de milho precisa ser escoada para dar espaço para a estocagem da maior produção brasileira de soja da história.
O assessor técnico da Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Lucas Galvan, já antevê problemas com a armazenagem da próxima safra no Estado, cuja capacidade de estocagem é de 7,2 milhões de toneladas. "A safrinha de milho passou de 3,3 milhões de toneladas para 5,5 milhões de toneladas Se o milho não for escoado até a colheita da soja haverá problemas de armazenagem, pois a área plantada com a oleaginosa deve avançar 10%."
Ele lembra que Paraná e Mato Grosso também colherão excedentes de milho e o consumo doméstico não conseguirá absorver o excesso de produção. Ele alerta que a logística precisa funcionar para não haver atrasos e consequente alta nos custos.
Em Mato Grosso, os produtores estão finalizando a segunda safra de milho de 14 milhões de toneladas, mais que o dobro da anterior, e já compraram quase todos insumos para plantio da soja, que começa em setembro. A área de soja em Mato Grosso deve crescer de 500 mil a 1 milhão de hectares. "É matematicamente impossível armazenar e transportar as duas safras", diz Rui Prado, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato).
Rui Prado comenta que a maior movimentação de milho para os portos de Paranaguá e Santos já provocou aumento de 15% no valor do frete nas últimas semanas. Ele tem a esperança de que a BR-163 (Cuiabá-Santarém) esteja "trafegável até o ano que vem", pois seria uma alternativa para escoamento de 30% da produção mato-grossense pelo porto de Santarém (PA).Pelos cálculos da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), o escoamento da produção pela BR-163 possibilitaria redução de 34% dos custos com frete na rota Sorriso (MT) ao porto de Itaituba (PA), e depois em barcaças até os terminais de Santana (AP).
Com mais crédito, país espera super safra de soja
Embora os números finais da produção de grãos da safra agrícola 2011/2012 não sejam ainda conhecidos, uma vez que a divulgação do último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) será só no dia 9, já começaram as especulações sobre o aumento da safra 2012/2013, provocadas, principalmente, pelo crescimento de recursos disponibilizados para a produção rural.
Uma das apostas do setor diz respeito ao crescimento da produção de soja, baseada na grande comercialização de fertilizantes para a sojicultura, cujo plantio começa no próximo mês de setembro. Com crédito à disposição e estimulados pelo aumento dos preços internacionais, provocado pela forte estiagem que prejudica a lavoura dos Estados Unidos, os sojicultores brasileiros sinalizam aumento da área plantada para 27 milhões de hectares, suficientes para colher 82 milhões de toneladas de soja.
A seca no Meio-Oeste norte-americano deve diminuir a produção de soja no país em torno de 7%, segundo estimativas do próprio governo dos EUA. A notícia elevou a cotação da soja na Bolsa de Chicago para 17,57 dólares o bushel (equivalente a 27,2155 quilos), com aumento de 15% no acumulado do mês. Esse cenário estimula o produtor brasileiro a fazer o maior plantio de soja de todos os tempos, e pode levar o Brasil a ultrapassar os Estados Unidos como maior produtor mundial.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também trabalha com expectativa de uma supersafra de soja. A presidente da entidade, senadora Kátia Abreu, disse que o cenário externo de preços favoráveis e as medidas de apoio governamental estimularão o plantio. Adverte, no entanto, que a confirmação das previsões depende das condições climáticas durante o plantio, desenvolvimento e colheita da lavoura.
Análise técnica da CNA ressalta que apesar dos preços internacionais altos também em relação ao milho, a expectativa de cultivo do produto não goza de igual otimismo, uma vez que as duas culturas disputam espaço, principalmente no Centro-Sul do país. Além de a colheita de milho ter registrado o maior crescimento percentual na safra 2011/2012, a presidente da CNA diz que a preferência pela soja se justifica por causa da maior liquidez, menor custo e mais facilidade na obtenção de créditos.
Fonte: Tribuna do Norte RN
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