A Gerdau já iniciou a operação comercial do laminador de chapas grossas, na usina de Ouro Branco (MG), e enfrenta pela frente o desafio de conquistar um mercado bastante fraco no país e concentrado. A empresa cumpriu o prazo prometido de começar em julho, confirmou o grupo gaúcho ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor. A Gerdau avalia que o equipamento tem potencial para atingir 1,1 milhão de toneladas de plena capacidade no futuro, com vendas locais e no exterior.
O problema é que atualmente não existe esse mercado no Brasil. Se em 2014 o consumo doméstico de chapas grossas - que reúne dados tanto de produtos nacionais como de importações - foi de 1,2 milhão de toneladas e registrou queda de 13,5% no ano passado, para 1 milhão de toneladas, agentes do mercado já acreditam que o volume vai totalizar meras 500 mil toneladas no acumulado de 2016.
PUBLICIDADE
Esse produto sofreu o impacto da retração dos investimentos em obras de infraestrutura no país.
Segundo o Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda), no primeiro semestre a demanda ficou em 268 mil toneladas. O recuo frente ao mesmo período de 2015 foi brutal - 59,8%. Um dos principais motivos é o quase sumiço das compras de produtos estrangeiros, que passaram de 23,4% de penetração em 2015 para 8,7% de janeiro a junho deste ano, com 23,4 mil toneladas.
No ano passado, ainda houve um contrato de importação grande de chapas grossas da Confab, de 119 mil toneladas compradas da Áustria, o que representou 50,9% do total importado do produto. Já no primeiro semestre deste ano, a maior parte teve como origem a China - 10 mil toneladas, ou 43,3%
A Usiminas dominava até agora esse mercado no Brasil. A companhia tem capacidade instalada de 2 milhões de toneladas de laminação para chapas grossas, sendo uma máquina de 1 milhão de toneladas localizada na usina de Ipatinga (MG) e a outra, do mesmo porte, em Cubatão (SP). O laminador do litoral paulista está desativado desde agosto de 2015.
Portanto, a Gerdau chega a um mercado controlado por praticamente uma empresa, que detém capacidade de produzir o dobro do que o mercado consome hoje. A boa notícia é que é esperada alguma recuperação para os próximos anos, ou seja, a empresa gaúcha pega um segmento com potencial de expansão. Além disso, detém parceria técnica da japonesa JFE Steel, o que pode ser um diferencial na qualidade dos produtos.
Para ajudar em sua empreitada, a Gerdau, como já vem fazendo com seu laminador de tiras a quente, tem praticado descontos em seus produtos planos para conseguir penetração de mercado, segundo fontes do setor. No caso das tiras a quente, os primeiros contatos também foram nessa linha. A Gerdau não comenta sua política comercial.
Chapas grossas são utilizadas principalmente nos setores de petróleo e gás, construção de infraestrutura e máquinas pesadas. Com investimentos parados e a derrocada do setor petrolífero no Brasil - e no mundo, com a queda dos preços do barril -, a demanda praticamente se congelou. Mas, ao longo dos anos, é aguardada uma recuperação.
Fonte: Valor Econômico/Renato Rostás e Ivo Ribeiro | De São Paulo