As longas e frequentes greves no setor público já trazem preocupação para empresas de vários segmentos. Lojas e fábricas começam a sentir falta de produtos importados. Ainda não se fala em prejuízos. Mas o temor de desabastecimento começa a se propagar entre os empresários, que já abrem mão de um pouco de qualidade para não deixar faltar produto para o consumidor. A maior parte das queixas é de quem precisa importar, devido à parada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), iniciada dia 16 do mês passado, e às operações padrão da Receita Federal. O governo, que começou a negociar com os grevistas na sexta-feira passada, editou regras para liberar mercadorias retidas na parada da Anvisa, mas a fila é muito grande.
“A indústria química, por exemplo, já sente falta de alguns produtos. Quem importa tinta para pré-moldados teve queda no ritmo de produção. Não há dados de prejuízo ou paralisação. Só esperamos que se use o bom senso para um acordo pôr fim às greves”, diz o presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe), Jorge Côrte Real. Nas gôndolas de supermercados, algumas marcas só são encontradas com dificuldade. “Não há falta de produtos ainda. Mas uma gigante de produtos de limpeza, que trabalha com fraldas, creme dental e desodorante, está com dificuldade de abastecer o mercado, assim como acontece com hortifrútis da Argentina, a exemplo de maçã e pêra”, comenta o presidente da Associação Pernambucana de Supermercados (Apes), Edivaldo Guilherme dos Santos.
Segundo ele, as lojas só não sentem impactos maiores porque os distribuidores e atacadistas ainda têm estoque. “Se esta semana a situação não se resolver, acredito que começaremos a ter realmente falta de alguns produtos”, emenda Edivaldo.
“Já falta batata congelada na praça, o que afeta restaurantes, lanchonetes e redes de fast food. Também há escassez de queijos importados. Conseguimos trocar por mercadoria nacional, mas a qualidade é inferior. Não tem outro jeito”, explica Nuncio Natrielli, presidente da Associação Brasileira de Restaurantes em Pernambuco (Abrasel-PE).
Os distribuidores e atacadistas estão apreensivos com a retenção das cargas, principalmente os perecíveis, como pescados, nos portos. Mas até a greve da Polícia Rodoviária Federal, que não tem a ver com importações, incomoda os empresários. É que o movimento provoca atrasos na entrega local das mercadorias, com blitze que causam grandes engarrafamentos. “Um caminhão que sai para fazer 20, 15 entregas, só consegue realizar uma ou duas. Como resultado, os atrasos vão se acumulando e a reposição nas lojas é menor”, explica Gidalte Magalhães Almeida, diretor da Associação Pernambucana de Atacados e Distribuidores (Aspa).
Pesquisador da Federação do Comércio de Pernambuco (Fecomércio), Luiz Kehrle diz que, por enquanto, o varejo ainda não sente efeitos mais fortes no setor. Mas ele observa que hoje o comércio tem grande dependência dos importados. “Os efeitos demoram um pouco para se produzir em toda a cadeia, da fabricação ou importação, passando pela distribuição até as lojas. Mas vamos ficar atentos e acompanhar os impactos das greves no varejo”, diz o pesquisador.
Fonte: Jornal do Commercio/PE / Giovanni Sandes
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