O governo brasileiro está convencido de que as turbulências internacionais não reduziram o interesse do investidor estrangeiro pelos projetos de infraestrutura no país. Pelo menos é isso que vem sendo captado pela área econômica em viagens ao exterior. "A imagem que se tem no Brasil lá fora é muito melhor do que a que temos de nós mesmos", afirmou um técnico que participou da rodada recente de encontros fora do país, que incluiu apresentações em Londres e em países asiáticos.
Segundo esse técnico, os investidores têm interesse em projetos de energia renovável como hidrelétrica, eólica e biomassa.
O trabalho dos técnicos brasileiros é não só vender os projetos de longo prazo como também estimular os investidores a entrar no mercado de capitais. Por enquanto, mesmo com o benefício de isenção do Imposto de Renda (IR), as debêntures de infraestrutura não caíram nas graças do capital externo, que representa menos de 10% da alocação nesse tipo de aplicação.
O técnico admite que a remuneração oferecida por títulos públicos, muito próxima à do risco privado, contribui para reduzir a atratividade dos papéis corporativos. Além disso, os valores emitidos ainda são baixos. "Se você tem um mercado de R$ 1 trilhão [os títulos do Tesouro] e outro de R$ 14 bilhões, qual você acha que eles vão investir?", questiona.
"O investidor de fora reclama que o spread está muito apertado. Mas não tem nada a fazer quanto a isso. É uma questão de mercado", comenta um técnico do governo. "Algumas emissões emblemáticas, com avaliação de risco muito boa, tiveram spread apertado, mas isso não é realidade para todas emissões", complementou.
Desde de 2012 até o início deste ano, as ofertas de debêntures incentivadas para infraestrutura somaram apenas R$ 14 bilhões. Esse mercado só começa a despertar, porém, interesse dos estrangeiros quando uma colocação supera os R$ 500 milhões, para diluir riscos, segundo o técnico da área econômica. Os valores dessas emissões no Brasil estão crescendo gradualmente. Em janeiro, a oferta da Vale, por exemplo, foi de R$ 1 bilhão.
A expectativa é que com o aumento do tamanho das emissões se estimule a criação de fundos, que possam oferecer ao estrangeiro uma composição melhor entre risco e retorno. "À medida que o volume de papéis for aumentando, vão ser criados mais fundos de investimentos [com debêntures]. O que está impedindo maior oferta de fundo é a oferta insuficiente de debêntures", comentou.
O diagnóstico no governo é que as emissões precisam de um referencial, o que só viria com mais colocações no mercado. "Para nossa sorte, temos mercado local bastante profundo e que tem dinamizado essas debêntures. Cedo ou tarde o investidor estrangeiro vai vir. Todos que converso demonstram interesse", frisou.
No balanço das apresentações no exterior o que se extraiu é que na visão dos estrangeiros o estresse no mercado, tendo como alvo os emergentes, é temporário. "Não afeta a percepção de longo prazo que eles [investidores] têm do Brasil. Eles continuam vendo o Brasil como um país estável."
A GP Investimentos, por exemplo, gestora de fundos de private equity, está em processo de captação para investir em projetos de infraestrutura. O fundo deve reunir patrimônio entre US$ 800 milhões e US$ 1 bilhão, conforme reportou o Valor na semana passada. A ideia é atrair investidores com perfil para esse tipo de aplicação, como fundos de pensão e soberanos.
Fonte: Valor Econômico/ Edna Simão e Lucas Marchesini | De Brasília
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