Uma nova geração de fundos de investimento começa a surgir para financiar a construção de obras de infraestrutura no Brasil. Entre as novidades estão seu tamanho bilionário, o aporte de recursos de investidores estrangeiros e a possibilidade de esses fundos comprarem títulos de dívida, como debêntures.
Neste ano, até agora, pelo menos R$ 5 bilhões estão sendo levantados por esses fundos. É o caso do P2 Brasil, gerido por uma parceria entre o Pátria Investimentos e a empresa de engenharia Promon, que deve alcançar quase R$ 2 bilhões, sendo que a maior parte da captação já foi feita entre investidores no exterior, segundo o Valor apurou. O alvo desse fundo de investimento em participações é a compra de posições de controle em empresas de infraestrutura. Outro exemplo é um fundo de R$ 2 bilhões da Vinci Partners, que vai atuar como uma alternativa de financiamento para o setor, comprando, por exemplo, papéis de dívida das empresas.
Calcular o déficit de infraestrutura no Brasil é um exercício um tanto quanto cabalístico, mas é inegável que a cifra é gigantesca. Por isso o interesse dos investidores. Só para rodovias, faltam R$ 183 bilhões para deixá-las em ordem, segundo levantamento recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Apenas 12% das estradas são pavimentadas no país.
Em um mapeamento de projetos que estão sendo estruturados, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico estimou que até 2013 o país receberá R$ 310 bilhões em investimentos em infraestrutura, sendo que R$ 98 bilhões vão para energia elétrica.
"Hoje há poucos fundos no mundo que aplicam na construção de projetos de infraestrutura porque, em países desenvolvidos, quase não há mais obras a serem feitas. Como oferecem taxas de retorno maiores, os fundos brasileiros chamam a atenção", diz Otavio Castello Branco, sócio da P2 Brasil.
Apesar de a carência de infraestrutura vir de longa data no Brasil, só agora os estrangeiros se sentem mais confortáveis para fazer investimentos de longo prazo no país. Até recentemente, as cotas dos fundos de private equity voltados para infraestrutura ficavam basicamente com os fundos de pensão brasileiros. E, como os recursos deles são limitados, não havia por onde se expandir a indústria de fundos voltados para esse segmento. Agora, com a atração dos estrangeiros, abrem-se novas oportunidades.
"É a maior estabilidade econômica e institucional que traz a investidores do exterior a confiança de se fazer um investimento que vai durar mais de uma década", diz um gestor que está em fase de captação no exterior de um fundo para o setor elétrico.
Os gestores dessa nova geração de fundos de infraestrutura também estão atentos ao fato de que os empreendimentos vão precisar de outras fontes de crédito, além dos bancos governamentais.
Por isso o fundo que está sendo criado pela Vinci Partners tem como foco a aplicação em ativos que possam dar crédito de médio prazo aos projetos. A ideia, segundo o Valor apurou, é ser o mais flexível possível no leque de tipos de ativos que o fundo pode comprar.
Um outro fundo que pretende comprar instrumentos de dívida, mas com foco específico em debêntures, é o Ambiental, gerido pelo Santander, que tem R$ 400 milhões para investir tanto na compra de participação acionária quanto de títulos de renda fixa. O Mezanino Infraestrutura, lançado em julho de 2009 pela Darby Stratus com R$ 380 milhões, investe na compra de debêntures que podem ser convertidas em ações.
Algumas ofertas de debêntures já estão sendo estruturadas por concessionárias de rodovias para serem adquiridas por fundos de infraestrutura. São papéis que trazem como garantia ao investidor o fluxo de recebíveis dos pedágios, por exemplo.
Atenta à criação de fontes alternativas de financiamento para a infraestrutura, a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) começa a se reunir com entidades do setor para discutir uma melhor articulação entre o mercado de capitais e as obras.
Fonte: Valor Econômico/Carolina Mandl, de São Paulo
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