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Negócio da China sem surpresas

Empresas brasileiras se protegem para não perder dinheiro com o principal parceiro comercial brasileiro

A China é hoje o principal parceiro comercial do Brasil. Mas os produtos chineses precisam percorrer um longo caminho até ganharem a mesma credibilidade dos japoneses e coreanos. Com expectativa de bons negócios mas desconfiadas, empresas brasileiras, incluindo as do setor naval, buscam escapar de armadilhas ao negociar com empresas da China.

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Com a consolidação do país asiático como o nosso principal parceiro comercial, surgiu um nicho, o de consultores que conhecem o mercado chinês. O gerente geral da Montego International Limited, Leandro Ang, que se especializou no negócio, acredita que a receita para uma empresa brasileira atingir seus objetivos na China é compreender a filosofia de negócio chinês, conhecer o comportamento local e saber lidar com essas diferenças. Ang diz que a demanda por produtos do segmento naval está em alta. Ele destaca que uma parceria da Montego com o Sindicato da Indústria da Construção Naval, Náutica, Offshore e Reparos do Amazonas (Sindnaval) abriu um canal de acesso a produtos asiáticos de boa qualidade. “O Sindnaval tem feito um excelente trabalho, incentivando estaleiros e portuários a buscarem alternativas em projetos e produtos chineses que possibilitem mais competitividade no mercado brasileiro”, ressalta Ang.

A Montego International Limited é o braço de trading do grupo Kaelan de investimentos. A empresa foca na prestação de serviços integrados de procurement, que consiste na compra de bens e serviços através da internet. Essa modalidade envolve a busca e homologação de fornecedores, supervisão e fiscalização de produção, assessoria jurídica e legal, fiscalização logística e gestão de documentação de comércio exterior.

A empresa surgiu devido à própria demanda do grupo, que apostou na experiência de seus profissionais e na fluência deles em inglês e mandarim. “Acreditamos que a melhor forma de se comprar na China é, de fato, montar uma estrutura local, desde que o volume de negócios justifique os investimentos”, explica Ang. Os principais clientes da Montego são empresas de médio e grande porte com interesse em comprar produtos técnicos da China, porém receosos com o método de trabalho chinês.

Ang relata que a Montego encontrou dificuldades em entender a cultura e as leis locais. Ele cita uma distribuidora de aço que recebeu um lote de vergalhões defeituosos. A escolha do fornecedor foi feita quando diretores da distribuidora foram em missão empresarial à China e contrataram a fábrica em uma feira de materiais de construção. Na ocasião, houve um alto volume de compras por um período de sete meses até que chegaram os vergalhões defeituosos em grande quantidade.

O próprio vergalhão não apresentava a devida rastreabilidade porque vinha de fábricas de diferentes regiões da China. Ao procurar o fornecedor e acertar um ressarcimento, ele simplesmente havia desaparecido, desativando emails e telefone. “Quando nos pediram ajuda localmente fomos investigar e descobrimos que a empresa era fantasma e a funcionária que tratava com eles não mantinha ligações formais com as fábricas que forneciam o vergalhão”, relata Ang.

O gerente geral da Montego reforça que os contratos precisam ser registrados e avaliados pelas leis comerciais chinesas e internacionais que garantem o pós-venda. Ele acredita que ainda existem muitos empresários buscando fornecedores por feiras e internet, o que pode ser arriscado. Além disso, muitas empresas ainda não fazem contrato para compras, assinando apenas faturas pró-forma. Outro erro, segundo Ang, é a falta de acompanhamento na produção e controle de qualidade.

Ele acredita que seja possível corrigir alguns erros se houver um bom relacionamento com o fabricante, além de um contrato que proteja os interesses do importador. “Esses erros são normais em se tratando de comércio exterior, mas eles exigem ferramentas de manutenção corretiva para não onerar custos não previstos pelo importador”, avalia Ang.

A Montego nasceu em 2008 com objetivo de auxiliar a compra de máquinas, materiais de construção e insumos para operações do grupo Kaelan na África. A consultoria atende a outras empresas no Brasil, México, Portugal, Canadá e Angola nos segmentos de material de construção, indústria e automação, agricultura, pecuária, produtos farmacêuticos, materiais promocionais e projetos ligados à infraestrutura. O grupo Kaelan possui investimentos na América Latina e na África, com foco na incorporação imobiliária, construção civil, agribusiness e manufatura (fábricas de telhas, de blocos e de cimento) e comércio exterior.

É comum ouvir que produtos chineses não têm qualidade e que as empresas do país asiático não têm comprometimento com o cliente. Ang, no entanto, ressalta que é possível fazer bons negócios com a China. “De fato existem muitas com esse perfil, mas também encontramos inúmeras empresas sérias e parceiras. Comprar na China é fácil, o difícil é comprar bem”, afirma Ang.

A China é o principal parceiro comercial do Brasil atualmente. O diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Mauro Laviola, ressalta que ainda existem muitas diferenças nos números entre os dois países. O custo de um trabalhador brasileiro, por exemplo, é quase duas vezes o da China. Além disso, a carga tributária chinesa é metade da brasileira. Ele ressalta também que a infraestrutura do país asiático é ampla e sólida, sobretudo para os segmentos de transporte e energia.

Para Laviola, esses fatores são determinantes na atração de investimentos e barateamento na produção de bens. “Um dos motores do crescimento vertiginoso da China é o poder de atrair investimentos estrangeiros, por meio de um complexo sistema de incentivos logísticos e fiscais, aliados a baixíssimos custos tributários e trabalhistas”, define Laviola.

As previsões apontam que o crescimento chinês nos próximos anos deve ficar abaixo dos 10% ao ano. No entanto, Laviola ressalta que os níveis continuarão sendo superiores à média mundial e às previsões para o PIB brasileiro. Ele destaca que o governo chinês mantém o Yuan desvalorizado, o que aumenta o poder de competição das exportações.

O diretor da AEB diz que o sistema de defesa comercial brasileiro vem sendo aperfeiçoado para evitar importações predatórias e más práticas comerciais. Laviola ressalta que a política econômica chinesa é mantida há algumas décadas. O país asiático possui acordos de proteção de investimentos com inúmeros países, o que se torna aspecto determinante como garantia de proteção jurídica aos empreendimentos. No Brasil, por outro lado, nenhum acordo deste tipo foi sancionado até o momento.

O presidente do conselho empresarial Brasil-China e ex-ministro de Indústria e Comércio, Sérgio Amaral, diz que o cenário mudou bastante nos últimos 10 anos. Em 2002, o Brasil apresentou corrente de comércio de US$ 107 bilhões, com saldo comercial de US$ 13 bilhões. Dez anos depois, a corrente de comércio poderá ultrapassar os US$ 500 bilhões.

Amaral aponta que o desafio brasileiro é exportar com mais qualidade e incorporar o maior número de empresas ao processo exportador, já que o país continua com praticamente o mesmo número de empresas de 10 anos atrás. “Dizem que negócios com a China só são bons para os chineses. Estamos tentando mudar esse jogo”, enfatiza Amaral.

Ele explica que a China tem o desafio de passar por três transições importantes: a renovação política, a luta interna entre o partido comunista chinês e o esgotamento do modelo de exportação. O segundo plano quinquenal (2011) chinês já sinalizava esgotamento do modelo via exportação. O novo plano é uma resposta à redução da demanda por exportações chinesas. “A China percebeu que não podia continuar a direcionar saldos de sua balança comercial à compra de títulos do Tesouro americano e passou a comprar ativos”, observa Amaral.

O presidente do conselho empresarial Brasil-China estima que o crescimento do país asiático continue a ser muito significativo. Se alcançar a taxa de 7,5% ao ano, o produto chinês passará de US$ 7 trilhões para US$ 14 trilhões de dólares em 2020. Outra mudança esperada é que as pessoas sairão da economia de subsistência para um consumo urbano. Atualmente, o país possui metade da população no campo e metade na cidade. Já o Brasil concentra 80% da sua população nas cidades.

Amaral observa ainda a integração comercial entre os países asiáticos. Segundo Amaral, a integração do espaço econômico na Ásia é da ordem de 53%, contra 18% na América Latina e 14% no Mercosul. Ele destaca ainda a existência de um catálogo chinês que define o que o país aceita em relação ao comércio exterior.

A economista e professora da PUC-RJ, Mônica Baumgarten de Bolle, lembra que o mundo inteiro foi beneficiado pela reação da China à crise de 2008. No entanto, ela ressalta que esse evento pode ter acelerado o processo de transição do modelo exportador chinês para um modelo mais voltado para o mercado interno. Ela alerta que o Brasil continua muito dependente da China e que essa desaceleração da China pode ter impacto no comércio brasileiro.

Mônica explica que a China impulsionou a economia mundial em 2009, mas que a resposta à crise já perdeu fôlego. Prova disso, seria o volume de investimentos que vem caindo desde 2011. Ela alerta que o crescimento da China no primeiro semestre de 2012 ficou aquém da previsão das autoridades chinesas que querem crescimento da ordem de 7,5% por ano.

A economista observa forte redução do investimento da China como fator propulsor do PIB e um aumento gradual do consumo. “A ideia é que se faça ao longo do tempo essa transição de menos investimento e mais consumo. Não é uma transição rápida, não é uma transição fácil, mas é uma transição na qual as autoridades parecem bastante engajadas em fazer”, analisa a economista.

Segundo Mônica, o Brasil se beneficiou dos investimentos da China em infraestrutura, sobretudo para as commodities, como o minério de ferro.

Mônica defende que a agenda da América Latina seja mais integrada regionalmente. Segundo a economista, essa será a forma como o Real poderá surgir como moeda de importância regional nas transações comerciais. Ela diz que a internacionalização das moedas emergentes é uma discussão que está em pauta. “Já que as economias maduras não terão capacidade ao longo dos próximos anos de crescer e sustentar os níveis de comércio de antes da crise e, se acreditarmos que os emergentes ocuparão uma parte desse papel, então o natural é que algumas dessas moedas emergentes surjam como alternativas no palco internacional”, avalia a economista.



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