A família que controla a construtora mineira Aterpa, especializada em obras de infraestrutura, fechou na semana passada a venda para um fundo de investimentos de parte da empresa.
Pela operação, a participação acionária da Neo Investimentos na companhia poderá chegar a 12%, isso entre debêntures conversíveis em ações e em ações propriamente. Por enquanto, a participação é de 8,6%.
A Neo gere carteira de US$ 1 bilhão e tem investimentos em empresas de setores variados, entre elas a rede de lojas da Livraria Cultura. O aporte primário que fez na Aterpa marca a estreia no setor de infraestrutura. A construtora não revela o valor do investimento por força de uma cláusula contratual.
O negócio envolveu todo o grupo Aterpa, que tem sob seu guarda-chuva a Aterpa M. Martins (construção pesada e negócios de infraestrutura), Sonel (saneamento), JDantas (túneis), Impar (concreto) e o setor de projetos de geração de energia renovável.
Em 2011, o grupo teve faturamento de R$ 436 milhões, queda em relação a 2010 quando atingiu R$ 560 milhões. Este ano, disse ao Valor Francisco Salazar, presidente do grupo Aterpa, a expectativa é que o faturamento fique entre R$ 650 milhões e R$ 700 milhões.
Francisco e o filho André Salazar, um dos vice-presidentes, são os principais controladores da construtora, cuja sede fica em Belo Horizonte. Os dois sustentam que a entrada do fundo de private equity foi motivada menos por necessidade de recursos e mais como forma de pôr a construtora num outro patamar de governança e de dar mais solidez a um negócio de família que está na terceira geração. As conversas com os investidores duraram um ano e meio.
"Eles terão dois assentos no conselho administrativo, mas não terão participação na gestão. Na minha avaliação, a contribuição deles será ajudar a dar mais solidez e na perpetuação da empresa", diz Francisco. No médio prazo, no entanto, a visão de mercado dos investidores poderá ajudar a Aterpa a abrir seu capital. "Se abrir uma janela de oportunidade, nós estaremos preparados", diz Francisco.
Desde 2008, a construtora fez três aquisições. "Esse foi um dos veículos que usamos para acessar mercados que para nós eram estratégicos", diz André. O reforço do caixa proporcionado pela operação com a Neo poderá ajudar em novas aquisições, diz Francisco. Os recursos também poderão permitir um aumento no capital de giro e investimentos em projetos da empresa em pequenas centrais hidrelétricas e numa termoelétrica.
A construtora iniciou suas atividades em 1951. Hoje tem 4 mil funcionários e começou um processo de internacionalização pelo Peru, onde constrói uma rodovia. A companhia se firmou, sobretudo, em obras de estradas, mas na última década optou por diversificar sua atuação e hoje constrói também ferrovias, pontes, túneis, obras de saneamento e mineração. Nenhum desses segmentos representa mais do que 20% do faturamento do grupo, diz André.
Algumas das maiores obras em execução pelo grupo são a ferrovia Norte-Sul (da qual se encarrega de fazer um trecho em Goiás); a ponte estaiada de Laguna, Santa Catarina (faz parte do consórcio construtor); o arruamento e drenagem do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj); e a ponte sobre o Rio Madeira, em Porto Velho. A maior parte dos contratos da construtora é com o governo federal.
Apesar do crescimento acanhado da economia, os executivos da Aterpa apostam que o setor de infraestrutura continuará avançando de modo acelerado. "Está muito claro que a infraestrutura é um gargalo no Brasil e os investimentos estão ainda abaixo do que se vê em outros países", avalia Francisco.
Fonte:Valort Econômico/Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
PUBLICIDADE