Samarco amplia em 43% capacidade do terminal Ponta Ubu, no Espírito Santo — A Samarco ampliou em 43% a capacidade de escoamento do terminal Ponta Ubu, em Anchieta (ES), de 23 milhões de toneladas para 33 milhões de toneladas por ano. Esse crescimento na capacidade de embarque de minério de ferro fino úmido e em pelotas acompanha a entrada de operação da quarta usina de pelotização da empresa, no início de abril. Com capacidade de produzir 8,25 milhões de toneladas de pelotas de minério anualmente, a quarta unidade elevou a capacidade de produção da companhia em 37%, para 30,5 milhões de toneladas por ano. A mineradora investiu R$ 6,4 bilhões na ampliação. É a maior realização da iniciativa privada do país no primeiro semestre de 2014, afirmou Mauro Borges Lemos, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, na cerimônia de inauguração da unidade.
PUBLICIDADE
A ampliação da capacidade portuária se deu, basicamente, com a instalação de um novo shiploader em fevereiro deste ano, com a troca de correias transportadoras de minério de ferro e aumento da produtividade da retroárea do terminal. O equipamento substituído operou com a companhia durante 36 anos e será transformado em sucata nos próximos meses. “Muitos funcionários fizeram questão de acompanhar a desmontagem do antigo shiploader. Fizemos até uma cerimônia em homenagem a ele”, disse Ricardo Vescovi, diretor-presidente da Samarco em coletiva de imprensa promovida antes da cerimônia de inauguração.
Para Maurício Monjardim, coordenador técnico de Projetos Especiais Sênior da Samarco, uma das vantagens do novo equipamento é a maior agilidade e produtividade no processo de carregamento de pelotas de minério de ferro. Segundo ele, todas as partes dos porões na extensão dos navios podem ser alcançadas com mais rapidez com o uso da lança telescópica do novo equipamento. Assim, a capacidade do sistema de carregamento em Ubu passou de 11,2 mil para 15 mil toneladas por hora. “Com a construção da quarta usina de pelotização, a necessidade de aumentar a produtividade no embarque de pelotas de minério de ferro da empresa aumentou consideravelmente”, assinalou.
Os 33 milhões de toneladas que serão escoados anualmente pelo terminal Ponta Ubu correspondem a cerca de 90% da capacidade total do shiploader. “Essa margem foi planejada para atender um eventual aumento de produtividade das três usinas de pelotização mais antigas. Hoje temos condições de aumentar a produção das usinas porque o nosso sistema de embarque tem uma capacidade extra”, disse Monjardim.
Segundo o coordenador, não houve uma ampliação na área dos três pátios usados para armazenar os produtos que serão embarcados, mas a empresa passou a dedicar mais atenção a ele. “Às vezes acontece de um produto chegar ao pátio e ir quase imediatamente para o navio. Mas, como trabalhamos com escala para diminuir custos, às vezes algumas mercadorias levam até 10 dias para embarcar. Estamos nos concentrando em planejar melhor a chegada das pelotas e o embarque das mesmas, principalmente por conta do aumento da nossa capacidade produtiva”, relatou.
Para atender à nova demanda, houve o aumento da potência de duas empilhadeiras. Uma tinha capacidade de movimentar duas mil toneladas de pelotas de minério de ferro por hora e a outra estava capacitada a transferir três mil toneladas por hora. As duas passaram a ter capacidade de movimentar quatro mil toneladas por hora, cada. “Meu objetivo era fazer com que o sistema de empilhamento de pelotas fosse capaz de receber produtos das quatro usinas simultaneamente, usando apenas uma máquina. Caso acontecesse algum problema, teríamos a outra máquina como reserva”, explicou.
A Samarco investiu R$ 110 milhões no sistema de embarque completo, das correias transportadoras até a aquisição do shiploader, que, sozinho, demandou aporte de R$ 50 milhões. O montante restante foi investido em controle ambiental, emissões de particulados e no enclausuramento das correias, para evitar a incidência de ventos laterais na carga.
Além do porto e da quarta usina de pelotização, o projeto abrange também um terceiro concentrador de minério de ferro, com capacidade de 9,5 milhões de toneladas por ano — localizado na unidade de Germano, entre os municípios de Ouro Preto e Mariana, em Minas Gerais — e de um terceiro mineroduto, construído paralelamente aos outros dois já existentes. O novo mineroduto, com 400 quilômetros de extensão, passa por 25 municípios mineiros e capixabas e tem capacidade para transportar 20 milhões de toneladas de polpa de minério de ferro por ano.
As obras duraram 35 meses e, no pico, geraram 13 mil empregos. Cerca de 1,4 mil pessoas foram qualificadas nas áreas de eletromecânica e construção civil nos dois estados. De acordo com a empresa, com 204 metros, o forno de pelotização construído na unidade de Ubu, é o maior do mundo. As compras realizadas em Minas Gerais e no Espírito Santo somaram R$ 3,8 bilhões e o projeto gerou aproximadamente R$ 590 milhões em impostos. Em 2014, com a operação das novas plantas, a estimativa da Samarco é recolher R$ 1,9 bilhão em impostos.
Monjardim disse que foi graças ao intenso planejamento que um dos pontos mais críticos de toda operação de modernização do terminal Ponta Ubu ocorreu com sucesso: a rápida troca do shiploader, realizado no início de fevereiro. O içamento e o descarregamento do equipamento, no píer de 313 metros de extensão, duraram aproximadamente três horas. Dois guindastes de bordo, com capacidade para içar até 800 toneladas cada um, foram utilizados na operação. Em seguida, o navio se locomoveu para outro trecho do píer para a retirada e o embarque do antigo shiploader. “Foram dois anos de planejamento para que tudo acontecesse sem grandes problemas durante as três horas de desembarque do produto”, disse Monjardim.
Com projeto da austríaca Sandvik, a fabricação do shiploader teve início em junho de 2012 na China e foi concluída em dezembro do ano passado. O equipamento possui sistemas hidráulicos fabricados na Suécia, sistemas motoredutores italianos, correias transportadoras chinesas e componentes elétricos da GE Brasil, além de outros componentes da França e de outros países.
No último trimestre de 2013, a Sandvik Brasil, acompanhada de uma equipe da Samarco, realizou o pré-comissionamento do equipamento, com bons resultados nos sistemas de elevação, translação e giro da lança. O navio holandês Fairpartner, da Jumbo Shipping, partiu da China com o equipamento ainda em dezembro e atracou em Ponta Ubu em janeiro.
O primeiro carregamento de pelotas de minério de ferro com o novo equipamento foi realizado cinco dias após o equipamento ser descarregado pela embarcação Cape Natalie Limassol, do Chipre. Durante todo esse tempo, as embarcações dos clientes da Samarco tiveram que aguardar na barra a operação ser concluída.
O navio da holandesa Fairpartner foi escolhido para suportar especificamente as condições marítimas do terminal Ponta Ubu. “Nosso porto não é um porto abrigado, como no Rio de Janeiro, Santos ou em Vitória. É um porto de mar aberto. Durante a fase de elaboração do projeto, escolhemos uma empresa que tivesse um navio de grande porte para fazer o transporte do shiploader, com massa inercial grande e que não fosse suscetível ao balançar das ondas, o que dificultaria, ou até mesmo impediria o descarregamento”, explica Monjardim.
A empresa decidiu ampliar a produção e o escoamento de pelotas de minério de ferro mesmo com a cotação da commodity registrando frequentes quedas nos últimos tempos, por conta, principalmente da redução na compra do produto pela China. Sobre essa questão, Ricardo Vescovi, diretor-presidente da Samarco, disse que “a maior preocupação da empresa é ser eficiente, independentemente de como se encontra o mercado no momento”. “Quem investe em mineração, acredita no futuro, ao longo prazo. A volatilidade do mercado é uma marca. Acreditamos no mercado de pelotas de minério de ferro, que é diferenciado, de alta qualidade”, afirmou.
Segundo Roberto Carvalho, diretor comercial da companhia, a Samarco vem diversificando os seus clientes e reduzindo as vendas de pelotas para os chineses desde 2005. “A China sozinha é responsável por 15% das nossas vendas. O Oriente Médio e o norte da África compram 30% da nossa produção. A Ásia (com exceção da China), 20%, e as Américas, 15%. A tendência é manter esses percentuais esse ano e em 2015”, avaliou.
A mineradora tem planos de expandir as vendas para os EUA. No Brasil, a Samarco só vende para a subsidiária da Usiminas, em Cubatão (a antiga Cosipa), que tem condições de receber os produtos pela via marítima. O market share mundial de pelotas por via marítima da Samarco é 20%. Para Vescovi, o bom posicionamento da companhia no mercado mundial se deve ao “contínuo investimento em desenvolvimento de tecnologia”.
Com clientes em 25 países, a Samarco é uma das maiores exportadoras do país. A companhia possui duas acionistas, a Vale S/A e a BHP Billiton Brasil e dois escritórios internacionais, em Amsterdã (Holanda) e Hong Kong (China).