O Cais do Porto não está à venda
O projeto de revitalização da área do Cais do Porto deveria responder ao anseio e à necessidade da cidade de ampliar sua relação com o Guaíba e ativar o potencial turístico e econômico deste precioso patrimônio cultural. Para que isto se efetivasse, fazia-se necessária a destinação de áreas públicas para que o cidadão porto-alegrense tivesse condições de desfrutar as belezas naturais que por tanto tempo ficaram escondidas atrás do muro da Mauá. Ora, a lei votada retira a obrigatoriedade de reserva de áreas para o sistema viário e equipamentos públicos, tornando toda a área privada. Como, então a população terá acesso? Apenas se consumir ou pagar? Emendas que corrigiam esta previsão não foram aprovadas pela maioria da base do governo. A essência do projeto, na verdade, visava a tornar a área o mais rentável possível para a venda. Deve ser por isto que ao lado da Usina do Gasômetro ficou possível a edificação de prédio de 11 andares, com ocupação de 90% da área, atingindo a ambiência desta que é símbolo de nossa cidade - ao invés do parque que emenda derrotada propunha! Autorizou-se o aterro do rio, terminando com as reentrâncias do local. Ora, trata-se de área de preservação permanente e do bem estratégico mais precioso de Porto Alegre: o manancial de águas do Guaíba. Portanto, não pode ter sua área reduzida. Além do mais, aquelas reentrâncias são elementos de valorização, pela beleza que concedem à paisagem. Aliás, o projeto retirava a exigência de recuos de jardim, o que repusemos com emenda!
Mas o prefeito foi mais longe: tentou propor o uso residencial, mesmo contrariando a decisão da cidade na recente consulta popular! Emendas vetando este uso garantiram o caráter comercial e de lazer do Cais, porém, não conseguimos impedir a construção de prédios de cem metros de altura - o dobro da máxima praticada na cidade!
Emendas aprovadas indicaram a continuidade da Feira do Livro, espaço para a Universidade Federal, para o artesanato, a educação ambiental, a conexão com o Camelódromo e o transporte fluvial. Teremos que garanti-las! Em vez de megaempreendimentos, atraídos à custa de agressões ao nosso patrimônio, quem sabe valorizamos nossos empreendedores locais e privilegiamos o acesso público para que o cidadão desfrute a belíssima paisagem que o Guaíba nos proporciona? Qualidade de vida não está à venda e ela deve orientar o desenvolvimento de Porto Alegre!(Fonte: Jornal do Comércio/Sofia Cavedon)